Tempo de leitura: 3 minutos
Em outros países isso já é bem estabelecido. Um artigo publicado esse mês nos Arquivos Brasileiros de Oftalmologia teve como objetivo fazer um guia que engloba a frequência das visitas e os componentes dos exames oftalmológicos em crianças saudáveis de 0 a 5 anos. O guia focou nas evidências científicas e foi desenvolvido considerando a literatura e a experiência clínica do comitê da Sociedade Brasileira de Oftalmologia Pediátrica (SBOP). Foi feita busca no PubMed/Medline e foram consideradas revisões sistemáticas, estudos controlados randomizados e estudos observacionais.
Por causa da ausência de evidência forte, um questionário de 12 itens foi desenhado sobre as recomendações de um exame completo antes de 1 ano de vida e foi distribuído para todos os membros da SBOP. O comitê também revisou as recomendações atuais da American Academy of Pediatrics (AAP), American Association of Pediatric Ophthalmology and Strabismus (AAPOS), American Academy of Ophthalmology (AAO), Royal College of Ophthalmologists (UK) e Canadian Ophthalmological Society. O questionário foi respondido por 193 membros da SBOP. Desses 73,6% recomendaram um exame oftalmológico completo com menos de 1 ano de vida. Houve uma redução nas recomendações de acordo com o maior tempo de experiência clínica. Em relação a porcentagem de atendimento de crianças, 82% dos que atendem prioritariamente crianças (> 75%) recomendaram. Somente 64% dos que atendem uma minoria de crianças (< 25%) recomendaram, mas a diferença não foi estatisticamente significativa.
Recomendações:
Criança com desenvolvimento neuropsicomotor apropriado para a idade é considerada criança saudável na ausência de:
– Anomalia ocular aparente (leucocoria, ptose, nistagmo ou estrabismo).
– Extrema prematuridade (1.500 g ou menos; 32 semanas ou menos de IG).- 
– Exposição a infecções verticalmente transmissíveis (toxoplasmose, sífilis, citomegalovírus ou Zika).
– Doenças associadas com manifestações oculares (desordens metabólicas, artrite idiopática juvenil ou síndrome de Down).
– História familiar de doença ocular na infância (catarata, glaucoma ou retinoblastoma).
– Suspeita clínica de déficit visual.
– Na presença de qualquer uma acima os exames oftalmológicos devem ser realizados idealmente dentro do primeiro mês do reconhecimento da questão.
Neonatos:
– O teste do reflexo vermelho deve ser feito pelo pediatra nas primeiras 72 horas de vida e repetido durante as consultas pelo menos 3 vezes por ano durante os primeiros 3 anos de vida.
0 a 36 meses:
– Inspeção de olhos e anexos (pálpebra, conjuntiva, córnea, íris e pupila);
– Acesso à função visual, fixação ocular e alinhamento ocular pode ser feito por um profissional da atenção primária ou pediatra;
0 a 12 meses:
– Observar os marcos do desenvolvimento visual : 1 mês fixação visual; 2 meses – movimentos oculares verticais; 3 meses – segue objetos e faz movimentos sacádicos; 6 meses – alinhamento ocular, foca em objetos; 9 meses – reconhece faces e expressões;
– Crianças de que não fazem contato visual nos primeiros 2 meses ou não tem sorriso social ou percepção das próprias mãos aos 3 meses, que não pegam brinquedos com 6 meses ou não reconhecem faces com 11 meses devem ser considerados para exame oftalmológico completo.
12 a 36 meses:
– Fixação (bilateral e em cada olho separadamente);
– Habilidade de seguir a luz e objetos;
– Reação a oclusão de cada olho;
6 a 12 meses:
– Exame oftalmológico incluindo inspeção de olhos e anexos, função visual (fixar e acompanhar monocular), avaliação da motilidade ocular e alinhamento (covertest simples e alternado), refração sob ciclo e avaliação fundoscópica sob dilatação.
3 a 5 anos:
Idealmente aos 3 anos: exame oftalmológico incluindo inspeção de olhos e anexos, função visual (optotipos apropriados para a idade), avaliação da motilidade ocular e alinhamento (covertest simples e alternado), refração sob ciclo e avaliação fundoscópica sob dilatação. Se o exame for inconclusivo ou não satisfatório é recomendado novo exame em 6 meses.
5 a 8 anos:
– Screening visual monocular anual – os com visão pior que 20/40 em pelo menos um olho devem passar por exames oftalmológicos completos.
Erros refrativos não corrigidos podem ser responsáveis por falha no desenvolvimento neurológico da visão (ambliopia) e respondem por mais de 69% dos problemas visuais na infância. Em crianças em idade escolar os erros refrativos são a principal causa de baixa visão em todo o mundo. Se detectada e tratada precocemente, a ambliopia é a segunda doença ocular tratável, afetando 2-4% das crianças. A ambliopia não tratada pode ter um efeito muito negativo na função visual, qualidade de vida e capacidade laborativa.
 
Referências bibliográficas:
Rosseto JD, et al. Diretrizes brasileiras sobre avaliação oftalmológica de crianças saudáveis menores de 5 anos: exames recomendados e frequência. Arq. Bras. Oftalmol. 2021;84(6). doi: 10.5935/0004-2749.20210093.

Fonte: PebMed

Compartilhe esse post