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Por Tatiana Ferrador
 
A preparação de um manuscrito envolve uma série de fatores que precisam ser respeitados a fim de garantir sua credibilidade, independentemente de ser utilizado em especialização, pós-graduação, carreira acadêmica ou divulgação científica. Mais do que o conhecimento acerca do tema, é importante uma orientação completa e assertiva, que abrange desde a concepção da ideia até a resposta às críticas dos revisores, passando pela elaboração das figuras, escolha da revista, entre outros.
Os questionamentos nesta área variam muito, de acordo com a etapa da pesquisa e do pesquisador, mas os mais comuns permeiam entre como ter uma boa ideia, como delinear uma hipótese, como escrever um bom projeto, como estruturar a metodologia e qual infraestrutura para desenvolver a pesquisa. Já durante o processo de escrita e submissão, a escolha da revista, a formatação dos arquivos e a elaboração de revisão sugeridas trazem importantes questionamentos.
Para o Professor Doutor Caio Vinícius Saito Regatieri, as dúvidas mais comuns de autores e alunos estão relacionadas à formatação que deve ser feita para cada jornal ou revista, assim como qual seria o melhor deles para se enviar um determinado artigo. Outra questão muito recorrente é a importância que determinada pesquisa apresenta no meio clínico. “A escolha do jornal deve se basear no assunto da pesquisa , explica Regatieri. “Da mesma forma, o envio às revistas de alto impacto deve ser sempre considerado, pois as revisões são excelentes e de extrema relevância aos profissionais da área , diz.
Como esclarece a Professora Doutora e pesquisadora do Departamento de Oftalmologia e Otorrinolaringologia da Universidade Estadual de Campinas Unicamp, Monica Alves, é fundamental que residentes e oftalmologistas interessados em submeter artigos estejam e mantenham-se constantemente atualizados. “É preciso ler muito, não só em sua área de conhecimento, como também procurar conexões com outras áreas, temas gerais e até mesmo diferentes campos de conhecimento , diz. “Participar de congressos e eventos científicos, onde são despertados os interesses pela pesquisa, deve ser uma constante e ainda permear o caminho acadêmico. Ela ressalta ainda que no percurso do curso de pós-graduação outras experiências, como workshops, aulas expositivas e o compartilhamento de vivências com outros pesquisadores são outras boas formas de fundamentar o conhecimento e o interesse pela pesquisa.
Passo a passo
Nem sempre é fácil encontrar uma boa ideia e transformá-la em um estudo científico. Essa tarefa começa na atualização sobre o tema, na incansável leitura e participação em eventos científicos. É preciso saber o que está sendo pesquisado, quais são os desafios e onde buscar inovações. Normalmente as linhas de pesquisa são construídas em torno de cada área e grupos consolidados. Para tal, é indicado que se conheça pesquisadores, centros de pesquisa e laboratórios na sua área de interesse. “Para desenvolver a pesquisa é importante conhecer os métodos que serão utilizados, a infraestrutura necessária e ainda buscar meios de financiamento, de acordo com os recursos que precisam ser disponibilizados , alerta Mônica. Depois de escolhidos o tema e os recursos, o projeto escrito ainda precisa ser submetido a autorizações de execução e apreciação de comitê de ética. Essas etapas demandam tempo e muito esforço e são o alicerce do estudo, os primeiros passos na jornada até a publicação.
A escrita do manuscrito tende a amadurecer ao longo do desenvolvimento da pesquisa, dos experimentos ou inclusão e avaliação dos pacientes e as intervenções, dependendo do desenho de estudo escolhido, se experimental ou clínico. “O processo de revisão de um artigo submetido à publicação pode ser demorado, angustiante e às vezes frustrante, mas é importante não desanimar , enfatiza Mônica.
Regatieri ressalta também a importância de, no decorrer do manuscrito, pensar em assuntos relevantes e em seguida buscar na literatura referências sobre o tema. “Após a revisão, delineamos o estudo seguindo a metodologia científica, parte esta fundamental para encontrarmos resultados adequados e confiáveis , explica.
A elaboração das figuras e a preocupação com a qualidade das imagens são fundamentais para expressar os resultados. “Muitas vezes os resultados do estudo são fantásticos, mas os autores não conseguem expressá-los , pondera o profissional.
Mônica também endossa a relevância da utilização de figuras como forma de apresentar os resultados do estudo e, com isso, facilitar a sua compreensão e correlações dos achados. “Relatos de casos merecem imagens com boa resolução, detalhes e escalas que demonstrem as dimensões do que está sendo exposto , afirma. “Em artigos de revisão, é fundamental a inclusão de tabelas que sumarizem os estudos incluídos. Artigos originais devem apresentar de forma ilustrativa os seus achados, seja em ilustrações de experimentos realizados ou por meio de gráficos de resultados , conclui.
Cada revista tem suas regras próprias. Geralmente, quando há questionamento dos revisores – o que acontece muito frequentemente – os autores têm que responder todas as observações, ponto a ponto, e indicar no texto onde as modificações foram feitas. “As figuras devem acrescentar alguma coisa e não replicar informações constantes de tabelas. Há requisitos específicos para as figuras, como nível de resolução e formato do arquivo, sempre lembrando que figuras a cores em geral são cobradas , afirma o Professor Doutor Antônio Augusto Velasco e Cruz.
Passos da preparação do manuscrito
A preparação do manuscrito para publicação é um dos passos mais importantes da pesquisa, já que a ciência está baseada na comunicação do conhecimento. Dessa forma, é importante que durante todo o processo de desenvolvimento do projeto científico – desde as etapas iniciais, a coleta de dados e análise dos resultados – o pesquisador comece a delinear a escrita do manuscrito, amadurecendo assim a argumentação de suas ideias e seus achados. “Criar um fluxo de atividades para o desenvolvimento da pesquisa, que inclua o tempo para se dedicar à escrita do artigo, desde as fases mais iniciais, ajuda na estruturação do projeto , explica Mônica.
É preciso ter em mente, sobretudo, que escrever um manuscrito demanda tempo e é importante não ter pressa, o que inclui ler e reler inúmeras vezes o mesmo material, compartilhar e pedir opinião de colegas e colaboradores sempre que necessário. E mais: tão importante quanto contar com ajuda, é estar aberto a críticas. Muitas vezes, mesmo após várias leituras, não encontramos erros. Por este motivo as teses são previamente apresentadas para uma banca de qualificação, que ajuda na correção do manuscrito.
O Professor Doutor do Departamento de Oftalmologia da Escola Paulista de Medicina (EPM), Wallace Chamon, alerta que é fundamental esclarecer que a divulgação de resultados baseados no Método Científico não é a única maneira de propiciar a evolução do conhecimento humano. “O conhecimento evolui por divulgações corporativas (“White Papers”) ou divulgações eletrônicas menos burocratizadas, lembra. “O método científico é uma maneira mais lenta e trabalhosa, mas que produz resultados mais controláveis para as questões às quais a sociedade busca respostas , diz.
Cada periódico tem suas regras específicas, mas basicamente os autores têm que providenciar um texto escrito em inglês, de maneira sucinta, com figuras de alta resolução, em linguagem científica adequada. “Todo o texto, na forma que foi enviado, assim como as figuras e resultados, têm que ser originais, lembrando que nenhuma revista indexada aceita a divulgação de artigos científicos que não tenham sido aprovados por um Comitê de Ética em Pesquisa , enfatiza. No Brasil, a plataforma responsável pela aprovação ética das pesquisas científicas é a “Plataforma Brasil” (plataformabrasil.saude.gov.br).
Chamon orienta que é preciso seguir algumas etapas que devem ser questionadas antes de iniciar um projeto científico, tais como se a questão que deseja responder é de interesse para a comunidade; se ainda não foi respondida pela literatura científica; se a resposta que deseja pode ser obtida pela metodologia proposta no seu projeto; e, finalmente, se o tempo para a realização da pesquisa e para o acompanhamento de pacientes (em estudos clínicos) está de acordo com o tempo que você tem disponível para o projeto.
Estudos prospectivos são sempre mais poderosos do que os retrospectivos, mas tudo depende da questão a ser respondida. Relatos de caso são muito difíceis de ser aceitos, a menos que se refiram a situações nunca antes descritas na literatura mundial (a argumentação de que não foram descritas no Brasil normalmente não se justifica, a menos que as diferenças raciais ou geográficas sejam importantes no caso). “Os relatos de caso têm alguma chance de ser aceitos se a sua descrição contribuir para a elucidação da etiopatogenia de alguma doença , diz Chamon.
Por outro lado, os artigos de revisão são os mais difíceis de ser escritos, pois os autores devem ter um domínio completo do assunto abordado e, após avaliar (preferencialmente de maneira sistematizada) toda a literatura, eles deverão ser capazes de adicionar nova informação na área. A simples compilação de informação disponível, como na introdução de uma tese, por exemplo, não constitui um artigo de revisão. O texto pode ter valor como um capítulo de livro, mas não como um artigo de revisão.
“A linguagem é fundamental, pois erros nesse quesito destroem qualquer manuscrito , afirma Cruz, que defende que a descrição correta dos métodos também é de suma importância, como também a aprovação de projetos em comitês de ética.
A maioria dos artigos rejeitados tem em comum perguntas inadequadas ou metodologias inadequadas para a resposta desejada. “Ou seja, se a pergunta não for boa, a editora não terá interesse em publicar o trabalho, mesmo que o texto e a forma estejam impecáveis. A forma não é o mais importante e sempre pode ser melhorada após a avaliação por revisores ou editores científicos. Uma pergunta ou metodologia inadequada não têm como ser melhoradas , pontua Chamon.
Outra razão muito frequente para a rejeição de artigos científicos é o plágio. Todos os periódicos de valor passam o texto submetido por softwares de detecção de plágio (como por exemplo, o Ithenticate®) antes de avaliá-lo. Se o texto contiver sequências de palavras que foram copiadas de outras fontes, o software detectará como plágio e o artigo será rejeitado, mesmo antes de qualquer avaliação do seu mérito. A regra é muito simples: não usar o famoso “CTRL+C/CTRL+V , conhecido como “copiar e colar o texto na íntegra . De nada adianta colocar a referência do texto que foi copiado, pois qualquer conjunto de palavras copiado tem que estar, obrigatoriamente, entre aspas.
 
Dicas valiosas para a preparação do manuscrito:
  • Seja claro na exposição da proposta e nas justificativas que endossam a sua pesquisa. O “abstract (resumo dos pontos principais do artigo) deve ser claro e preciso, apresentando o objetivo, os resultados principais e a contribuição principal dos seus achados;
  • Aposte em um bom título, que atraia a atenção do leitor;
  • Seja pontual e objetivo em todas as colocações;
  • Na descrição dos métodos, seja minucioso, sem ser detalhista ao extremo;
  • Observe com atenção a citação de referências de forma apropriada;
  • Escrever em inglês pode ser um desafio, por isso procure editoração em língua nativa.  A ideia pode ser ótima, os resultados excelentes, mas um texto mal escrito pode pôr tudo a perder;
  • As orientações para formatação e submissão de um manuscrito variam em cada revista e devem ser analisadas e adequadas cuidadosamente pelos autores antes da submissão. É importante que os autores estejam muito familiarizados com os pormenores das exigências da revista que escolheram e que façam as adequações do manuscrito rigorosamente ao que for solicitado, evitando desta forma que o artigo retorne ou até seja rejeitado por não cumprir as exigências de submissão;
  • Cover letter (carta de apresentação): este é o espaço que os autores têm para apresentar o seu trabalho e endereçar comentários diretamente ao editor da revista, identificando os pontos fortes, as novidades e a relevância dos achados. Não se trata de copiar o que foi escrito no “abstract ! Evite um texto muito longo;
  • A escolha da revista é um passo muito importante: analise a área de conhecimento, o tipo de estudo (se artigo original, de revisão, caso clínico& ), para adequar o tema às expectativas dos seus leitores.
Fonte: Profa. Dra. Monica Alves
 
Alguns erros comuns:
  • Títulos grandes e complexos;
  • Abstracts (resumos) que não trazem de forma consistente e precisa o conteúdo do estudo;
  • Cover letter (carta de apresentação) com apenas a reprodução do abstract;
  • Texto mal escrito, tradução literal do manuscrito em português para o inglês;
  • Conclusões vagas que não se respaldam nos resultados encontrados;
  • Tabelas extensas, mal formatadas e com excesso de dados;
  • Figuras em excesso.
Fonte: Profa. Dra. Monica Alves

 

Fonte: Universo Visual

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