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Paulo Schor – Editor clínico

Tempo tempo tempo tempo

Ontem, tive o prazer de assistir a uma criação coletiva de alunos do ensino fundamental que brincava com o tempo que o tempo tem. Velocidade, aceleração (pressa), tempestades, passado, presente e futuro em cena. Lembrei que na mitologia grega, não existe um “deus do tempo” per se, mas Kairos é celebrado como a personificação do momento decisivo, do instante exato. É também sobre essa figura o editorial desta edição da UV.

O tempo correto para propor uma intervenção em doenças que se conhece pelo filme e não pela foto, como o Glaucoma. Crucial! Nem tão tarde que acabe por tratar das caras e debilitantes complicações, nem tão cedo que provoque arrependimentos devido a intercorrências ansiosas.

Na linha do quadro a quadro (cinema), costumo dizer que não indico cirurgias na primeira consulta, e ainda procuro seguir essa prática. Explicar, compreender, assimilar e, após estabelecer a cumplicidade esclarecida, decidir conjuntamente. Sem recorrer a tecnologias milagrosas ou driblar os riscos, mas sim ancorados na realidade do momento presente.

O tempo que as crianças ainda tem a frente. As filhas de pais míopes, menos expostas à luz solar e com uma genética específica, que justificam, na Ásia, a denominação de “epidemia de miopia”. É nosso dever entender como lidar com esses conceitos em nosso meio, baseando-nos em evidências do que realmente existe e funciona, para quem e principalmente quando.

A gestão do tempo no consultório, e diria até na vida profissional, que deve ser sábia e consciente. Como aproveitar e não ser subjugados pelos intervalos entre consultas, pelos silêncios que ocorrem durante elas, pelas decisões que tomamos sem esperar por indicadores fiéis, a médio prazo.

Já ajustei (e aposto que vocês também) muitos preços e procedimentos certamente influenciado pelo viés do último paciente. Manter essa cautela sempre em mente consome energia, mas é extremamente valioso a longo prazo.

E quanto ao tempo que leva para que um 1/3 dos habitantes do planeta desenvolvam degeneração macular? São os 70 anos! E quando chegarmos aos 100? Será que um em cada dois terá DMRI, ou seremos capazes de oferecer mais do que as terapias que apenas estancam a perda de função dos fotorreceptores. Que haja tempo!

Por fim, destaca-se o artigo sobre a segurança dos dados em face das mudanças climáticas. Esse tempo já chegou, e temo que o Kairos possa ter passado. Agora, lidamos com remendos e complicações decorrentes de enchentes e secas. Nossos dados precisam e devem permanecer protegidos na nuvem, com cópias em dispositivos variados, embora a humanidade ainda não consiga se materializar no ar nem flutuar no espaço.

Os adolescentes muitas vezes percebem e lidam com o imponderável de maneira mais acurada que os adultos. Vamos deixar para eles uma existência, um espaço-tempo finito, embora adaptável. Compreender, permanecer atento e, acima de tudo, respeitar essa entidade tão poderosa não é apenas urgente, é eterno.

Boa leitura!

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