Armando Crema – cirurgião oftalmologista, doutor em Ciências pela Unifesp e ex-presidente da Sociedade Brasileira de Oftalmologia (SBO) e da Sociedade Brasileira de Catarata e Implantes Intraoculares (SBCII)
Consequência natural da idade, a catarata é identificada quando o cristalino – uma espécie de lente natural do olho – fica opaco e duro, perdendo a transparência. Os principais sintomas vão de visão embaçada, perda de foco e dificuldade para enxergar cores com baixo contraste a uma sensação de neblina nos olhos. Surgem de maneira gradual, podem se manifestar de diferentes intensidades e progredir de acordo com cada pessoa.
A doença acomete, geralmente, pessoas a partir dos 60 anos de idade. Mas vale ponderar que não é somente este público que pode ser diagnosticado com catarata, que pode aparecer, inclusive, entre os recém-nascidos – identificada por meio do conhecido “teste do olhinho”, realizado logo após o nascimento do bebê. Menos comum, também pode aparecer entre pessoas de 40 e 50 anos, pelo excesso de exposição ao sol sem proteção, por exemplo. Por isso, vale ficar atento aos primeiros sintomas.
Apesar de não ter como prevenir ou remediar, a boa notícia é que a catarata tem cirurgia e os resultados são excelentes. A cirurgia de catarata é segura, rápida e eficaz. No procedimento, é feita a substituição do cristalino, sobre o qual falamos no início, por uma lente artificial intraocular, que recupera a visão até mesmo nos casos em que a doença cegou por completo o indivíduo. Sim, a catarata é a principal causa da cegueira reversível no mundo. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), há cerca de 20 milhões de pessoas cegas pela catarata no mundo. Até 2020, a prevalência da doença pode ultrapassar os 32 milhões de pessoas.
A cirurgia de catarata é o procedimento mais realizado no mundo dentre todas as especialidades. Metodologias, dispositivos, equipamentos e lentes intraoculares estão em constante evolução para auxiliar o cirurgião no procedimento e proporcionar ao paciente o melhor resultado possível.
Para se ter uma ideia, o registro mais antigo de método para remoção da catarata data de 600 a.c. Mas, somente em 1747, é que aconteceria o grande marco na área: a primeira extração de catarata extracapsular com uma incisão inferior. Nessa época, não eram realizados cortes e a cicatrização se dava de forma espontânea. Finalmente, em 1967, o cirurgião norte-americano Charles Kelman desenvolve a técnica de facoemulsificação, a mais utilizada atualmente, que consiste na destruição do cristalino opaco com o uso de energia ultrassônica e a aspiração dos fluidos restantes.
Essa técnica permite que o médico retire a catarata por uma incisão minúscula, de 2,75mm, na córnea, que também é utilizada para inserir a lente intraocular, que hoje é dobrável e permite sua introdução sem ter de aumentar o corte. Pela rapidez do procedimento, também menos invasivo hoje, geralmente os pacientes são liberados no mesmo dia, podendo estar de volta às suas atividades habituais em pouquíssimo tempo.
Além disso, graças à inovação na oftalmologia – uma das áreas que mais acompanham o avanço tecnológico – já é possível escolher o tipo mais adequado de lente para cada situação, perfil e necessidade do paciente. O mercado vem buscando o aprimoramento e inovação das diferentes soluções e, atualmente, há lentes com clareza inigualável e redução de reflexos. Há também lentes intraoculares com design capaz de diminuir complicações comuns, como a opacificação da cápsula posterior, que pode tornar a visão turva ou embaçada no longo prazo.
Outra possibilidade é aproveitar a cirurgia de catarata para corrigir problemas de visão, como miopia, hipermetropia, astigmatismo e presbiopia (a conhecida “vista cansada”). Para tanto, há outros diferentes tipos lentes, o que faz com que o procedimento seja cada vez mais individualizado e capaz de melhorar a qualidade de vida do paciente. Imagine depois de anos usando os óculos, por exemplo, poder voltar a enxergar o mundo de forma clara novamente? Pois é isso que a cirurgia de catarata com correção de erros refrativos – como são chamados astigmatismo, miopia etc. – é capaz de fazer. Há, inclusive, lentes intraoculares que corrigem presbiopia e astigmatismo, ao mesmo tempo em que trata a catarata.
A tecnologia mudou por completo o mercado de oftalmologia. E, bem aqui, no Brasil, já é possível ter acesso ao que há de mais avançado em termos de tratamentos, dispositivos ou procedimentos voltados à saúde ocular. Para catarata é certo que, com as últimas novidades, chegamos ao estado da arte no que diz respeito às técnicas e novidades disponíveis atualmente. Cirurgiões operam melhor e mais rápido hoje. E os pacientes, com mais segurança e melhores resultados, ficam cada vez mais satisfeitos.
Fonte: Universo Visual