Este ano, o aumento do número de casos de dengue tem chamado a atenção dos especialistas em saúde. Entre janeiro e fevereiro, o Brasil já registrou mais de 740 mil infectados pela doença em todo o país. Segundo informações divulgadas pelo Painel de Monitoramento de Arboviroses do Ministério da Saúde, a maior incidência de casos ocorreu em mulheres, 54,9%.
Entre os estados mais afetados, Minas Gerais tem o maior número de pacientes, com 171 mil infecções prováveis, seguido de São Paulo, com 83 mil, e Paraná, com 55 mil. Transmitida principalmente pelo mosquito Aedes aegypti, a dengue manifesta-se comumente por febre, dores no corpo e, em casos graves, hemorragias e choque.
A doença também traz implicações oculares, como explica Pedro Antonio Nogueira Filho, especialista em córnea e doenças oculares externas e chefe do pronto-socorro do H.Olhos. “O vírus da dengue pode atingir os olhos, tanto pela circulação sanguínea quanto pela via neurológica, e causar alterações nas estruturas do globo ocular e em seus anexos “, explica.
Segundo ele, as complicações que atingem o aparelho visual são diversas e vêm sendo relatadas principalmente nas últimas décadas (ARAGÃO et al., 2010). As principais manifestações são dor retro-orbitária, hemorragias retinianas, hemorragia subconjuntival. Outras manifestações oculares como neurite óptica, maculopatia exsudativa, efusão coroidal, manchas de Roth, vasculite, descolamento de retina exsudativo e uveíte anterior são raras.
O médico ressalta que, em 2022, uma revisão bibliográfica feita pela Fiocruz apontou que na dengue as manifestações oculares mais comuns são diminuição da acuidade visual, hemorragia subconjuntival, hemorragia retiniana, maculopatia e uveíte anterior.
Mas a quais sintomas os oftalmologistas devem estar atentos? “Dentre os eventuais sintomas relacionados à dengue, aqueles atrelados à oscilação ou à perda visual são os mais importantes e devem ser motivo de atenção”, aponta Nogueira Filho. Nesses casos, explica, os cuidados vão desde uma anamnese detalhada, motilidade ocular, verificação da acuidade visual, tonometria até exames complementares. “Esses exames vão desde a avaliação a partir da tabela de Amsler até o mapeamento da retina e exames de imagem. Essas são ferramentas importantes e fazem parte do arsenal diagnóstico utilizado para os casos de dengue”, comenta.
O especialista também aponta que as manifestações oculares da dengue podem estar presentes em vários estágios da doença, inclusive após a resolução da doença sistêmica. “Acredita-se que os mecanismos imunomediados e a invasão viral direta desempenhem um papel importante. A maioria dos casos de dengue ocular apresenta melhora espontânea da visão ao longo do tempo. Há um número crescente de publicações relacionadas às manifestações oftálmicas da dengue e imagens multimodais relacionadas à doença, como tomografia de coerência óptica, angiografia por tomografia de coerência óptica, imagem no infravermelho próximo e microperimetria, que desempenham um papel importante no diagnóstico, acompanhamento, medida quantitativa e ajudam a entender a progressão da doença”, conclui.