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Rafael Magdaleno – Mestre em Ciências pelo Programa de Pós-Graduação em Oftalmologia pela Escola Paulista de Medicina (EPM)/UNIFESP; Médico Voluntário do Departamento de Oftalmologia e Ciências Visuais EPM/UNIFESP; Professor Colaborador da Disciplina de Oftalmologia da Faculdade de Medicina de Jundiaí (FMJ)

Presbiopia refere-se à lenta, gradual e irreversível redução da amplitude de acomodação, relacionada clinicamente à perda da acuidade visual para perto, habitualmente com aparecimento entre os 38 e 50 anos, e pode estar associada ainda a astenopia.
Anisometropia é a diferença de refração entre os olhos, que clinicamente torna-se significativa a partir de valores e” 1D entre um ou ambos os meridianos principais do olho. Relaciona-se com aniseiconia (diferença entre tamanho de imagem formada na retina), anisoforia (diferença no efeito prismático induzido pelas lentes quando há deslocamento dos olhos em relação ao centro óptico das lentes – Figs. 1 e 2), diferença na acomodação entre ambos os olhos, e nas alterações de visão binocular. Neste último aspecto podemos encontrar nas anisometropias pacientes com: a – boa visão monocular e boa visão binocular, associados na maioria das vezes às baixas anisometropias (d” 2D); b – ambos os olhos têm boa AV, há visão binocular, mas a anisometropia é alta (e” 2D), sendo estes os mais propensos a ter complicações nas prescrições ópticas em ato binocular; c – quando há boa visão monocular, mas não há visão binocular, sendo que nestes casos um olho enxerga para longe e o outro para perto; e, d – um olho é amblíope e não há visão binocular.
Antes de comentarmos as possibilidades de tratamento precisamos classificar os tipos de anisometropias relativos ao tipo de erro refrativo em: a – antimetropia (um olho é hipermétrope e o outro é míope); b – anisometropia hipermetrópica simples (um olho é emétrope e o outro é hipermétrope); c – anisometropia miópica simples (um olho é emétrope e o outro é míope); d – anisometropia astigmática simples (apenas um olho tem astigmatismo e o outro é emétrope); e – anisometropia hipermetrópica composta (os dois olhos são hipermétropes); f – anisometropia miópica composta (os dois olhos são míopes); e, g – anisometropia astigmática composta (ambos os olhos têm astigmatismo).
Devemos ainda levar em consideração que, teoricamente, na escolha do tipo de correção óptica frente a uma anisometropia, que a regra de Knapp pode ser o guia inicial para a prescrição, onde nas anisometropias axiais óculos devem ser a primeira escolha de correção e, nas anisometropias refrativas ou de índice, lentes de contato são as primeiras a ser consideradas.
Prescrições ópticas para présbitas anisométropes, mais comumente relacionadas às correções com óculos, podem acarretar cefaleia, astenopia, náuseas, visão borrada, diplopia, com consequente incapacidade de adaptação à correção óptica. Esta impossibilidade de utilização dos óculos está relacionada, especialmente, à anisoforia, decorrente da descentração óptica quando os usuários dos óculos utilizam a área de adição.
Possibilidades de tratamento
– Não prescrever correção óptica: um olho tem boa acuidade visual para longe e outro para perto, como pode se apresentar nas anisometropias miópicas simples. A mesma conduta pode ser tomada nas antimetropias, quando o olho com hipermetropia tiver baixo valor dióptrico e não causar baixa de acuidade visual para longe ou astenopia.
– Monovisão: com correção total de 1 olho para longe e permanecendo o olho mais míope para perto, com a não prescrição ou hipocorreção deste último para perto. Nestes casos, os melhores resultados se apresentam com a anisometropia de até 2D. A correção pode ser realizada através de óculos ou lentes de contato.
– Utilização de lentes de contato para longe e óculos com lentes monofocais para perto ou regressivas para perto e meia distância.
– Nas situações em que a correção com óculos é a principal estratégia para correção da visão de longe e perto pode-se escolher: a – óculos separados para longe e para perto (além das lentes regressivas); b – prescrição de lentes com prismas slab-off, que corrigem a anisoforia vertical e opticamente são a melhor solução para présbitas anisométropes que optarem pela utilização de lentes bifocais ou multifocais.
– Correção através dos procedimentos da óptica cirúrgica também podem ser consideradas pelos présbitas anisométropes quando corretamente indicadas pelo médico oftalmologista.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Figura 1: Efeito prismático com descentração em lentes convergentes
 
 
 
 
 
 
 
 Figura 2: Efeito prismático com descentração em lentes divergentes
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. Borish IM. Clinical Refraction. St Louis: Butterworth-Heineman Elsevier, 2006, Edição Eletrônica, Capítulos 1, 22 e 30.
2. Alves MR, Souza MB, Medeiros FW. Anisometropia 91-119. In: Alves MR, Polati M, Faria e Souza SJ. Refratometria e a arte da prescrição médica. 5 ed. Rio de Janeiro: Cultura Médica, 2017.
3. Alves AA. Anisometropia 111-122. In: Alves AA. Refração. 6 ed. Rio de Janeiro: Cultura Médica: Guanabara Koogan, 2014.
4. Souza SJF. Revisando as anisometropias. Arq Bras Oftalmol, São Paulo 2002;65(1):14-117. Available from <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0004-27492002000100023&lng=en&nrm=iso>. http://dx.doi.org/10.1590/S0004-27492002000100023.
5. Reisenger C. Four solutions for problematic presbyopes. Review of Optometry 2005;142:12.

 

Fonte: Universo Visual

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