Embora o estrabismo seja um termo genérico para o desalinhamento dos olhos, trata-se de uma condição causada tanto pela lesão do nervo ou disfunção dos músculos que controlam o olho quanto por ambliopia (diminuição da visão em um olho sem sinais de defeito físico ou patologia) ou ptose. O diagnóstico precoce é fundamental para o sucesso de tratamentos não cirúrgicos de correção, como óculos especiais ou uso de tapa-olho. No entanto, o desalinhamento pode ser tão sutil que torna a avaliação subjetiva e, portanto, de difícil diagnóstico.
Quando suspeitar de estrabismo?
O estrabismo afeta 1% a 3% das crianças e tem maior incidência em crianças nascidas prematuras, com doenças sistêmicas como paralisia cerebral, síndromes genéticas, e com história familiar de estrabismo. Sendo assim, é importante incluir essas perguntas na anamnese para que, ao sinal positivo, a possibilidade de estrabismo seja verificada com maior atenção.
A abordagem inicial implica em reconhecer o tipo de estrabismo. Em geral, o eixo horizontal é o mais afetado. A esotropia acomodativa é um tipo de estrabismo convergente. Já a exotropia é divergente, ou seja, para fora do eixo central e não se manifesta o tempo todo. Formas mais complexas possuem dinâmicas de desalinhamento diferentes. Conhecer essas diferenças é fundamental para iniciar a investigação das causas e aplicar o tratamento apropriado.
Técnicas para avaliação do estrabismo
Não existe apenas uma técnica para avaliação de estrabismo. A escolha é feita de acordo com a preferência do oftalmologista e a disponibilidade do paciente para a técnica. O ideal é que o diagnóstico seja feito ainda na infância, o quanto antes. O método de Hirschberg, por exemplo, consiste em direcionar um feixe de luz para os olhos e avaliar o reflexo nas pupilas. Se os olhos estão alinhados, a luz concentra-se na pupila. Já se a criança está olhando diretamente para a luz e um reflexo de está no centro da pupila e o outra não, então há suspeita de estrabismo.
Outra técnica útil é a de Bruckner. Com as luzes da sala apagadas e a poucos metros do paciente, o médico segura o oftalmoscópio e direciona a luz em direção ao rosto da criança. O reflexo vermelho deve ser visto igualmente.
Se a criança tem idade suficiente para prender a atenção com um brinquedo, então um teste de cobertura pode ser tentado. Com o brinquedo na frente da criança, um olho é brevemente coberto. Enquanto isso, observa-se o movimento do olho descoberto. Se o olho descoberto se move para encontrar o brinquedo, então estrabismo é presente. Se não houver estrabismo, nenhum movimento de refixação deve ser percebido.
Como orientar o paciente com diagnóstico de estrabismo?
Assim que a condição de estrabismo for detectada e diagnosticada, é importante orientar o paciente sobre causas e tratamentos. Em adultos, além do uso de óculos, recomenda-se o encaminhamento para cirurgia de correção e exercícios de fortalecimento muscular, além do uso de colírios.
Em crianças, há resistência comportamental quanto ao uso de tampões e óculos. Assim, os pais devem ser alertados sobre manejo adequado e importância do uso, para que haja adesão. É importante ressaltar a necessidade de ser enfático em relação ao tratamento. É comum que, na cultura popular, diga-se que estrabismo em crianças desaparece naturalmente. Portanto, é papel do médico esclarecer que, apesar do estrabismo ser uma doença tratável em qualquer idade, há melhores resultados na intervenção precoce.
Fonte: Gunton KB, Wasserman BN, DeBenedictis C. Strabismus. Prim Care. 2015 Sep;42(3):393-407. doi: 10.1016/j.pop.2015.05.006. Epub 2015 Jul 7. PMID: 26319345.