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Por Sabrina Duran
Investir na criação de um centro cirúrgico de oftalmologia pressupõe a aquisição de equipamentos, adequação de espaço físico, observação e cumprimento de leis específicas, treinamento de recursos humanos, estabelecimento de variáveis de monitoramento, compra e aprendizagem de softwares de gerenciamento e outras etapas fundamentais para garantir a viabilidade e eficiência do empreendimento. Nenhuma dessas etapas, porém, pode acontecer sem que o oftalmologista saiba, com precisão, que demanda pretende atender. Quantas e quais cirurgias serão feitas? Qual o perfil dos médicos usuários e qual o perfil dos pacientes? O centro cirúrgico atenderá somente crianças ou todas as idades? O foco será em uma única especialidade e em suas subespecialidades? Onde se quer chegar com o centro cirúrgico, como e quando?
Estas são algumas perguntas fundamentais que o oftalmologista deve ser capaz de responder para elaborar um planejamento estratégico e só depois prosseguir com a implantação do negócio. “Através do estudo do perfil epidemiológico dos atendimentos já realizados podemos identificar e definir o público e as patologias de maior relevância. Esse cuidado será decisivo para alocar equipamentos necessários, quantidade de médicos e profissionais de enfermagem, técnicos necessários para cada especialidade e os tratamentos a serem oferecidos , pontuam Regina Nosé, oftalmologista, e Walton Nosé, oftalmologista, professor adjunto e livre-docente da Unifesp/Escola Paulista de Medicina (EPM).
Confira a seguir o passo a passo sugerido pelos especialistas ouvidos pela reportagem. Foram consultados, além de Regina e Walton Nosé, Mauro Campos, oftalmologista e diretor médico do Grupo H.Olhos e chefe do Departamento de Oftalmologia e Ciências Visuais da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo); Eduardo Barbosa, oftalmologista e diretor técnico do Hospital de Olhos Paulista, e Marcela Lemos, enfermeira-chefe e gerente sênior de Serviços Técnicos do Grupo H.Olhos.
Legislação específica
A Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) nº 50, de 21 de fevereiro de 2002, é o primeiro e principal guia do oftalmologista que pretende montar um centro cirúrgico. A RDC, elaborada pela Diretoria Colegiada da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), vinculada ao Ministério da Saúde, “dispõe sobre o Regulamento Técnico para planejamento, programação, elaboração e avaliação de projetos físicos de estabelecimentos assistenciais de saúde . A RDC pode ser encontrada na internet, e o documento traz um anexo de 169 páginas que contém o regulamento técnico detalhado. “Para muitas clínicas e hospitais especializados, o centro cirúrgico é um setor que tem potencial para lucratividade alta e riscos acentuados. A concepção, planejamento, execução e funcionamento devem estar totalmente de acordo com a RDC, que normatiza a infraestrutura física de Estabelecimentos Assistenciais de Saúde (EAS), define as etapas de elaboração de projetos, dimensões dos ambientes, organização funcional, critérios para circulação interna e externa, condições de conforto, controles de infecção, instalações prediais e segurança contra incêndio. Todos os empreendedores que decidem construir um centro cirúrgico devem estar familiarizados com esta normatização , afirmam Campos, Barbosa e Marcela, do Grupo H.Olhos.
Nesta etapa também é fundamental pensar na gestão do espaço físico do centro cirúrgico a partir da legislação pertinente ao tema, buscando alvarás expedidos pela Prefeitura e outros órgãos competentes. Para Regina e Walton Nosé, a contratação de um arquiteto especializado na área hospitalar é “condição básica para o sucesso da proposta .
Estrutura física
Ainda sobre a estrutura física, a definição do fluxo de pessoas vai determinar os espaços, dimensões e suas localizações. É preciso pensar na circulação de pacientes, médicos, enfermeiros, auxiliares, agentes administrativos, agentes de limpeza e de segurança. A infraestrutura de apoio também deve ser pensada nessa etapa, com a definição de áreas para recuperação pré-anestésica, centro de materiais e esterilização, tratamento de detritos, expurgo, depósitos e farmácia.
Equipamentos e insumos
A escolha dos equipamentos vai depender da demanda a ser atendida e também do espaço físico estabelecido. “Com a estruturação da demanda é possível estimar itens e quantidades de materiais e medicamentos , indicam Campos, Barbosa e Marcela. Avaliar o custo dos insumos e estabelecer um plano de contingência para a substituição desses insumos também é importante nessa etapa.
Regina e Walton Nosé apresentam alguns passos a serem seguidos antes que equipamentos e materiais sejam adquiridos: “mensurar e determinar o tempo cirúrgico para cada procedimento; definir taxa mínima para ocupação da sala; definir manutenções, qualificações e calibrações periódicas dos equipamentos; definir protocolos que garantam a segurança do paciente .
Recursos humanos
Profissionais que irão lidar com fornecedores, estoque, manutenção de equipamentos e gerenciamento do espaço físico precisam ser qualificados e receber treinamento adequado para a execução das tarefas. O mesmo serve para o corpo clínico do centro cirúrgico e para os demais colaboradores. Na relação com técnicos, fornecedores e atores externos em geral, Regina e Walton Nosé recomendam que o gestor do empreendimento qualifique fornecedores, treine e adeque funções com o capital humano, defina os responsáveis pela manutenção de cada item adquirido, defina e gerencie políticas de gestão dos equipamentos e manutenção e contratos e políticas de aquisição de novos aparelhos.
Para os especialistas do Grupo H.Olhos, a escolha e o treinamento de colaboradores para funções determinadas são um momento sensível para o funcionamento adequado do empreendimento. “Esta etapa exige muito planejamento, pois a eficiência do centro cirúrgico pode ser comprometida por super ou subdimensionamento .
Softwares de gestão
A montagem e operação de um centro cirúrgico podem ser auxiliadas por diferentes softwares que ajudam na racionalização e maior controle dos processos. Programas de compra e venda, por exemplo, podem auxiliar na aquisição de suprimentos de empresas certificadas e de produtos licenciados e registrados. Para Regina e Walton Nosé, é preciso ser assertivo na escolha do software de gestão voltado para o segmento hospitalar. “Além disso, a busca pela acreditação nos leva a estabelecer e rever manuais e a adequá-los às boas práticas. A gestão da tecnologia da informação, assim como escolher firmas que façam entregas respeitando prazos e com boa gestão e treinamento de seu capital humano, reforçam e propiciam melhores resultados , garantem.
Definição de indicadores e monitoramento
A definição de indicadores de eficiência e qualidade, o monitoramento constante desses indicadores e a definição de estratégias de correção e melhorias a partir desse monitoramento é processo essencial para garantir a qualidade dos serviços prestados e a viabilidade econômica do centro cirúrgico. De acordo com Regina e Walton Nosé, o gerenciamento da eficiência depende do volume cirúrgico (quantidade x qualidade), dos indicadores estratégicos monitorados mensalmente e do controle financeiro (receita x despesa). “Em um centro cirúrgico, como em estabelecimentos de saúde ou empresas, a gestão se faz a partir da definição de indicadores de performance monitorados frequentemente, se possível em tempo real. A eficiência se traduz ou se materializa como qualidade percebida pelo cliente, com menor índice de erros, e em constante construção de processos de melhoria , garantem os especialistas do Grupo H.Olhos.
Para montar um centro cirúrgico eficiente:
” Otimizar o tempo
” Analisar viabilidade dos custos envolvidos
” Desenvolver e gerir capital humano
” Aprimorar processos internos de acordo com manuais de certificação
” Desenvolver equipe multidisciplinar qualificada
” Obter recursos tecnológicos que garantam um trabalho desenvolvido com qualidade e em acordo com manuais de certificação
Desafios e gargalos:
” Desperdícios gerados por gestão inadequada
” Desvio de rota em função do não acompanhamento frequente de resultados e da falta de planejamento estratégico
” Equipe de operação não integrada aos processos de gestão e metas do empreendimento por falta de treinamento
” Glosa médica*
* “A ociosidade das salas, a falta de controle dos insumos em geral, a má gestão do corpo clínico e colaboradores também influenciarão esse resultado, seja pela insatisfação do cliente, seja pelas ocorrências indevidas à performance esperada. A melhor forma de lidar com esses riscos é mapeando processos, implantando barreiras e gerenciando os indicadores. (Regina e Walton Nosé)
Dicas de melhoria constante
” Manutenção preventiva dos equipamentos hospitalares proporciona qualidade e segurança e reduz custos.
” Treinamento contínuo da equipe operacional melhora o conhecimento e o envolvimento nos resultados da instituição.
” Acompanhamento próximo do desempenho de fornecedores e técnicos mantém a qualidade e a segurança dos serviços prestados.
” Qualificação e avaliação de fornecedores de insumos e criação de protocolo para aquisição de novos produtos ou substituição dos já existentes evitam gargalos nessa área.

 

 

Fonte: Universo Visual

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