Um novo estudo publicado na Communications Biology revelou que o cérebro adulto possui dois mecanismos complementares de plasticidade responsáveis por ajustar a dominância ocular quando há alterações no input binocular. A pesquisa, conduzida por equipes do Institute of Biophysics da Chinese Academy of Sciences e da Wenzhou Medical University, aprofunda a compreensão sobre como o sistema visual adulto se adapta a desequilíbrios sensoriais — conhecimento que pode orientar futuras terapias para distúrbios como a ambliopia.
fMRI de ultra-alta resolução revela como o cérebro responde à privação monocular
Utilizando ressonância funcional de 7 Tesla, os pesquisadores avaliaram como a privação monocular de curto prazo — apenas três horas de redução seletiva de contraste em um dos olhos — afeta a dominância ocular em adultos.
Os resultados mostraram que o olho privado apresentou:
- Aumento da sensibilidade ao contraste
- Maior dominância ocular funcional
- Elevação da atividade neural nas camadas parvocelulares do núcleo geniculado lateral (LGN)
- Ativação aumentada na subdivisão ventrolateral do pulvinar
Essas regiões subcorticais atuam como centros-chave no processamento visual, indicando que a privação sensorial desencadeia respostas rápidas e adaptativas nessas estruturas.
O olho não privado melhora sua percepção tridimensional
Surpreendentemente, o olho não privado também apresentou benefícios específicos: os participantes mostraram melhora significativa na percepção de formas em 3D, acompanhada de maior ativação em áreas corticais associadas à estereopsia.
Isso demonstra que a plasticidade é bidirecional: cada olho ativa mecanismos distintos quando o equilíbrio binocular é rompido, ajustando-se para manter uma função visual global mais equilibrada.
Plasticidade recíproca: um equilíbrio refinado entre tálamo e córtex
Uma das descobertas mais marcantes foi a existência de um padrão recíproco de plasticidade:
- O pulvinar e outras regiões subcorticais fortaleceram o canal visual correspondente ao olho privado.
- O córtex visual, por outro lado, aumentou a resposta relacionada ao olho não privado.
Esses dois mecanismos — opostos, mas complementares — parecem operar em conjunto para manter o equilíbrio binocular no adulto, o que desafia a visão clássica de que a plasticidade ocular seria restrita à infância.
Implicações clínicas: novas possibilidades para tratar ambliopia no adulto
A demonstração de que o cérebro adulto mantém plasticidade ocular em múltiplos níveis abre portas para abordagens terapêuticas inovadoras, especialmente para condições como a ambliopia, cuja plasticidade costumava ser considerada limitada após a infância.
Ao identificar respostas neurais distintas no tálamo e no córtex, o estudo sugere que intervenções futuras poderão direcionar tratamentos a diferentes regiões do sistema visual, explorando mecanismos naturais de adaptação para recuperar ou melhorar a função ocular em adultos.
Referências
Yazhu Qian et al, Two opposing yet complementary ocular dominance plasticities: thalamus strengthens the weak channel while higher cortex listens to the strong signal, Communications Biology (2025). DOI: 10.1038/s42003-025-08914-y


