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Neste episódio do Programa RX – Por dentro da sua próxima receita médica!, realizado em 5 de novembro de 2021, conheça mais sobre a história da médica Mariane Melo, formada pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), co-fundadora da spin-off Pharmaview e diretora médica da healthtech Dem Dx, empresa que atua com inteligência artificial em medicina. Mariane foi nomeada como uma das 30 pessoas mais influentes abaixo dos 30 anos pela revista Forbes. O oftalmologista Paulo Schor entrevistou a médica para saber um pouco mais de sua trajetória na área de inovação tecnológica.  

 

Paulo Schor: Estou muito feliz de você ter aceitado participar do podcast, acredito que temos muita coisa para falar. Queria que você começasse falando um pouco de você, da sua carreira e como foi parar em Londres pelo Ciência Sem Fronteiras, uma iniciativa muito interessante. 

Mariane Melo: Sem dúvida o Ciência sem Fronteiras mudou completamente a minha trajetória profissional e pessoal. Eu sou médica formada pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), sou de Belo Horizonte e nunca tinha saído do Brasil antes do Ciência Sem Fronteiras. Eu tive essa oportunidade de vir para Londres em 2015, para estudar fisiologia médica, não foi nem medicina, porque aqui eles têm um sistema diferente do que a gente tem no Brasil, a medicina aqui é considerada pós-graduação.  Então, quando eu vim para esse intercâmbio pelo Ciência, fiquei um pouco frustrada porque não estava estudando medicina. Mas aí eu pensei: “Poxa, mas eu estou em Londres, vou arrumar outras oportunidades para que eu possa crescer por aqui.”

E nisso comecei a trabalhar com pesquisa, na qual é muito importante a questão do networking, e quando eu percebi, já estava inserida no ramo de inovação aqui em Londres, que é muito grande. Aqui eles incentivam todas as áreas do empreendedorismo, de criar novas soluções para problemas que são existentes na sociedade, e foi nisso que eu conheci a Lorin, que é a fundadora do Dem Dx, o qual inicialmente seria um aplicativo para ajudar no diagnóstico clínico. Mas eu tive que voltar para o Brasil com o Ciência sem Fronteiras, mas voltei com outra mentalidade, de que eu não precisava ser médica para contribuir com a saúde da população em geral.  

Na verdade, poderia ter mais impacto trabalhando com inovação, com novos modelos de serviços, os quais afetariam a vida de muito mais pessoas. Dessa forma, voltei para o Brasil com essa mentalidade, o que na época, em 2017, não havia pessoas falando de inteligência artificial, inovação ou sobre empreendedorismo em medicina. E foi até um pouco engraçado, porque as pessoas da minha sala me achavam um pouco doida. “O que essa menina tá fazendo?” Todo mundo querendo ser médico e eu trabalhando com startup. Mas eu acho que esse foi o motivo pelo qual segui nessa trajetória um pouco menos convencional da medicina. 

 

Schor: Eu queria que você comentasse uma coisa que eu acho muito interessante, e eu vejo um pouco disso na sua fala, que é esse mundo além da medicina. Quando isso aconteceu?havia uma tendência ou foi preciso ir para fora do país para descobrir isso? 

Mariane: Olha, se eu não tivesse vindo para cá, provavelmente agora eu estaria fazendo minha residência e não teria escolhido essa trajetória. No Brasil agora, principalmente depois da pandemia, na qual as pessoas tiveram que encontrar novas formas de continuar atendendo, teve a entrada da telemedicina que, dois anos atrás, quando havia essa conversa no Brasil, lembro que era muito problemática, porque os médicos não queriam aceitar a entrada da telemedicina. Acaba que essa inovação no país está entrando de uma forma bem atrasada, e acelerada pela pandemia, com certeza.  

Com isso, abre a possibilidade para as pessoas conseguirem enxergar outras formas de carreira. Eu acho muito legal que eu receba mensagens no meu LinkedIn de estudantes de medicina que estão querendo seguir uma carreira não muito convencional, mas como não tem tantos exemplos para eles seguirem, acabam mandando mensagens para mim. Perguntam o que eu faço, como eu comecei, como que eu entrei nessa área etc. Devagar isso está chegando no Brasil, mas a gente ainda está no começo dessa iniciativa 

Escute o episódio completo acessando aqui.
Schor: Então, para quem estiver ouvindo a gente, já aviso que a Mari responde LinkedIn, podem mandar para ela. Quando você fala de inovação, acredito ser importante contextualizar de novo e repetir o que você falou, que inovação é escala. E quem gosta de inovação gosta de afetar muitas pessoas. Claro que o cuidado único é super importante, mas existe essa vontade de querer atingir um número maior de pessoas, certo? E aí eu queria que você comentasse um pouquinho desse começo da fase da inovação, sobre os conceitos de ideia, startup e spin-off, no sentido de que as pessoas, às vezes, acham que se elas não tiverem a ideia original, não podem ou não estão moralmente tarimbadas para dar o próximo passo do processo. Como é isso? Tenho a ideia, faço uma startup ou participo de um spin-off? uma clareada para nós nesses conceitos todos 

Mariane: A verdade é que a gente acaba entrando nesse ecossistema e começa a falar outra língua. É igual na medicina também, mas sobre a questão da inovação, ela pode ter vários significados. Para mim, o significado de inovação é encontrar novas formas de resolver um problema, e não precisa ser literalmente algo ligado à tecnologia ou completamente nova, pode ser simplesmente usando algo que já existe em um contexto diferente para resolver o problema que está ali e que não teve solução ainda.  

Entrando na sua pergunta sobre ideação, startups e spinoff, a ideação seria quando você encontra um problema e começa a desenhar soluções para ele. Só que a parte da ideação seria ver se realmente você está respondendo aquele problema com a sua ideia. Se a sua ideia consegue entrar no mercado, se é viável, se as pessoas realmente querem aquela solução, se ela responde aquela pergunta. Então, a parte da ideação é formar a sua ideia ao todo, não só a ideia, mas como você vai fazer, como você vai trazer para o mercado.  

Uma startup é quando você teve essa ideia, pesquisou, conversou com várias pessoas e vai avançando, isto é, fez o seu plano de negócios e começou a pesquisar com os seus possíveis usuários, se realmente é viável. Qualquer nova empresa pode ser chamada de startup, mas geralmente reconhecemos pelo nome startup negócios relacionados à tecnologia ou inovação que ainda não existem no mercado, que são as primeiras a fazer aquilo, por isso as chamamos de startup.  

Já um spinoff seria, por exemplo, desenvolver novas tecnologias. Novas ideias surgem todos os dias nas universidades. É quando conseguimos tirar alguma coisa que veio de um projeto de pesquisa de dentro da universidade e transformá-la em um produto e entrar no mercado, o que é muito difícil de acontecer. Assim, temos várias pesquisas interessantes que acabam ficando dentro dos laboratórios e da academia, sendo que essas pesquisas poderiam contribuir para a sociedade e precisamos de alguém que tenha coragem e consiga identificar como pode inserir aquela forma de produto no mercado. Isso é o que a gente chama de spinoff.  

 

Schor: Perfeito, acho que isso clareia muito. Mas indo em frente, você falou muito de mercado de absorção de tecnologia. Sabemos que na Inglaterra vocês têm um sistema adequado e bastante maduro de absorção de tecnologia. Você não quer falar um pouco de como é que as coisas são vistas para depois irem a público? Porque sabemos um pouco de clínica e como se regulam as drogas, tem Anvisa, tem CDC e por aí vai, mas como é que funciona isso em tecnologias, por exemplo, informática ou mesmo equipamentos novos ou novas drogas depois da descoberta e dos testes?  

Mariane: Bom, contextualizando um pouco essa questão, aqui na Dem Dx estamos desenvolvendo um sistema de suporte de decisão clínica, o qual inicialmente foi feito para médicos e agora estamos colocando esse sistema para auxiliar outros profissionais de saúde, como enfermeiras, optometristas etc. É como se fosse um assistente do médico, mas é um profissional de saúde, para fazer a primeira parte do diagnóstico, o início do manejo clínico do paciente. Com isso, o que estamos tentando fazer é melhorar o fluxo de uma emergência para que um número maior de pessoas consiga ser atendido para que possamos otimizar o tempo do médico somente para aqueles pacientes que realmente precisam dele 

A ideia não é substituir o médico, mas que ele atenda aqueles pacientes que realmente necessitam vê-lo, daí em vez dele disponibilizar cinco minutos com cada paciente, irá ter 15 a 20 minutos com aqueles que realmente precisam. Usamos inteligência artificial pra criar esses algoritmos e a regulação desses softwares agora é reconhecida como o que eles chamam de medical device, que é como se fosse qualquer equipamento médico que se coloca dentro de um hospital ou uma clínica etc. Eles ainda estão tentando criar um consenso de como irão fazer essa regulação. Na Inglaterra é diferente de como eles regulam no Estados Unidos, por exemplo. E também irá depender do risco que você oferece para o paciente com a sua solução.  

Se o meu software irá fazer realmente o diagnóstico de uma pessoa, eu tenho que fazer todas as fases de um clinical trial e provar que realmente é efetivo e seguro para ser usado com pacientes ou com os profissionais de saúde. Mas, se for aplicativos que dão recomendações gerais e que, talvez, encontraríamos na internet, só que de uma forma mais fácil, é bem mais tranquilo, porém teremos que provar que é seguro com os dados dos pacientes, que ninguém conseguirá encontrar o que estamos usando no aplicativo, na internet etc. Mas o que eu acho mais difícil nessas tecnologias hoje dentro do sistema de saúde, com certeza é essa parte regulatória e também a questão de proteção de dados, pois é muito difícil conseguir a documentação aprovada para isso, é na verdade fazer com que os hospitais consigam ter a coragem de implementar essas tecnologias novas.  

Porque no final quem será responsabilizado se alguma coisa der errado será a instituição que aceitou usar. Não será a empresa nem o grupo de tecnologia. E o que estou vendo aqui em Londres, principalmente, é que para essas tecnologias serem adotadas pelo sistema de saúde, existe a necessidade de um braço do governo para fazer essa conexão e aceitar um pouco dos riscos, porque senão ninguém começará a usar. Aqui o sistema de saúde, o SUS, é chamado NHS, e eles criaram uma parte do governo que chama NHS X, que é exatamente para criar essas inovações digitais dentro do sistema de saúde de uma forma segura, em que irão fazer vários testes, olhar várias documentações para verificar se aquilo é seguro e fazer essa conexão, para então assumir o risco de implementar essas tecnologias dentro do sistema de saúde. 

 

Schor: E é fantástico, isso é a tal da quádrupla hélice funcionando super bem, que é quem teve a ideia, quem a desenvolveu, o governo, e o usuário do outro lado. Mas e para colocar em prática? Para o usuário topar usar? A gente vê muito nos protocolos clínicos o paciente falando não para o uso da tecnologia. Para o gestor pode ser ótimo, mas como é isso para o paciente? 

Mariane: Pois é, essa é a parte mais difícil. Com certeza é a parte que encontramos um desafio maior, mais do que o investimento, que é convencer o usuário de que aquilo irá melhorar a vida dele ou que facilitará um sistema, algo que ele já faz todos os dias, mas não é fácil. Porque já estamos tão acostumados a fazer medicina da forma que fazemos hoje que até convencer a pessoa de que aquilo trará benefícios, a mudar um hábito, é, de fato, muito complicado 

A segunda questão é exatamente isso que você falou, as pessoas não querem algo que seja seguir um protocolo. Isso não funciona, porque elas se sentirão obrigadas a usar aquela nova tecnologia e se não perceberem que aquilo está trazendo algum benefício, irão abandoná-la em algum momento. Esse é o principal motivo pelo qual as tecnologias, como a inteligência artificial e as tecnologias digitais em geral, evoluíram tanto em outros setores, até naqueles que são tão conservadores quanto a medicina, como é o caso do setor financeiro, por exemplo, mas que ainda não conseguimos implementar muitas tecnologias dentro da saúde. 

 Se a gente for observar, tem vários produtos criados por startups no mundo inteiro para saúde/medicina e acabam que essas empresas morrem ao longo do tempo, porque não conseguem solucionar essa questão de como convencer o usuário a acrescentar essas tecnologias em suas vidas. Ainda estamos tentando achar uma resposta para isso. O que precisamos é criar soluções com o nosso usuário em mente, pegando o feedback deles e construindo junto com eles algo que realmente queiram utilizar 

 

Schor: Você me contou uma história em uma live uma vez, que foi até onde vai a tolerância do paciente londrino bem esclarecido e que entende os seus direitos e onde que ele fala chega. Conta um pouco dessa história para os ouvintes. 

Mariane: O que eu tinha dito é que aqui, em Londres, estão investindo pesado na implementação de tecnologias dentro de saúde. Isso foi muito acelerado com o problema da pandemia. Todos os hospitais fecharam completamente e só atenderam Covid. Para conseguir uma consulta, seja em uma emergência, tinha que ligar para um telefone, alguém iria fazer uma triagem e verificar se havia necessidade ou não de ir ao hospital, e em nenhuma emergência o paciente conseguiria ir lá e ser atendido. E depois que a pandemia deu uma relaxada, eles perceberam que as pessoas sobreviveram nesse sistema. Então, acredito que podemos colocar várias formas para as pessoas acessarem o sistema de saúde, que é totalmente público e tem essa mentalidade de ter que economizar dinheiro.  

Aqui nos postos de saúde, implementaram um sistema que eles chamavam de triagem total, no qual o paciente não conseguiria marcar uma consulta com um médico no posto de saúde se não entrasse no site e usasse uma ferramenta que tenha inteligência artificial, chamada symptom checker, para ver se realmente a pessoa precisava ver um médico ou se poderia ver uma enfermeira ou uma farmacêutica etc. E aí os pacientes não aceitaram isso, eles queriam conversar com alguém. E aqui os pacientes já aceitam que existem várias barreiras para ver um médico, mas quando eles tentaram ir completamente para o digital, os pacientes não quiseram, porque queriam, pelo menos, ter a possibilidade de ligar para o posto de saúde e conversar com uma enfermeira, não queriam apenas colocar seus sintomas no site. Daí o governo teve que voltar atrás e retornar ao sistema anterior que já existia 

 

Schor: Agora indo um pouco para a empresa e para as soluções que vocês estão criando, que é um sistema de recomendação que faz um pouco dessa triagem. Eu queria saber um pouco em relação à triagem feita pelo próprio paciente. Vocês têm alguns números no site que são, por exemplo, 1,5 milhão trilhas médicas mapeadas; diminuição de 15% no tempo de consulta etc., e eu achei fantástico, há várias coisas muito interessantes para o dia a dia mesmo. Como é que está funcionando isso aí na vida real? 

Mariane: Então, essa questão do médico não ver o paciente já é uma coisa que está acontecendo aqui pelo menos quatro anos. Aqui em Londres a telemedicina já era bem forte, e junto com a telemedicina vieram várias empresas que fizeram esse sistema de triagem, o symptom checker, no qual você vai lá no site, coloca os sintomas e o sistema falará quais são os diagnósticos mais prováveis, se você deve ir no hospital ou não. O problema desses sistemas é que uma coisa que não dá para ensinar um computador a fazer é, primeiro, linguagens não verbais. Assim, a única coisa que se pode colocar lá são palavras, e não se consegue também medir a intensidade dos sintomas.  

Por exemplo, para mim o que é uma dor forte talvez não seja uma dor forte para você, então essa tecnologia acaba fazendo os pacientes irem mais para o hospital do que deveriam, isso porque eles não querem ter a responsabilidade de se, por exemplo, o paciente coloca lá dor de cabeça, que pode ser só uma dor de cabeça normal, mas também pode ser uma hemorragia intracraniana. Como eles não querem ter esse tipo de responsabilidade, então acabam mandando mais pessoas para o hospital do que deveriam. Considerando isso, não seguimos por esse caminho, de fazer uma solução direcionada ao paciente, porque acreditamos que é um modelo híbrido que trará mais valor para o sistema de saúde.  

Nós usamos um sistema parecido com esse que eu acabei de explicar, só que na verdade para auxiliar um profissional de saúde que já tenha um treinamento em saúde, em reconhecer os sinais que indicam um risco e também por causa da questão humana. A gente reconhece só de olhar para um paciente o quanto ele está mal, por mais que ele não tenha nenhum sintoma que te fale que aquilo é grave, e é exatamente por isso que estamos treinando outros profissionais de saúde para auxiliar o médico. Dessa forma, esse sistema nasceu de uma série de decisões que foram construídas com mais de duzentos médicos. Nós nos reunimos com esses médicos, todos os especialistas, e começamos a estruturar aqueles sintomas e como que eles raciocinavam para diagnosticar o paciente dentro de um rol de decisões.  

Na oftalmologia, por exemplo, evoluímos muito bem, porque a oftalmologia em Londres é uma das especialidades que têm o número maior de pacientes no país todo, então eles realmente precisam de soluções que melhorem a produtividade deles aqui. A gente implementou isso num projeto piloto e começamos incialmente com a emergência pediátrica, na qual as enfermeiras faziam a triagem, diagnosticavam esses pacientes e faziam o manejo inicial antes deles verem o médico, coisas simples, como conjuntivite etc., que elas mesmas resolviam e mandavam para casa.  

E o que a gente observou com esse piloto que durou seis meses foi que as enfermeiras pediram exames quatro vezes mais do que anteriormente, diminuímos o tempo do paciente numa emergência médica em 10%, e economizamos o tempo do médico. Nos casos que eles não precisavam ver, eles não viram e os casos simples em que mandamos o paciente para o médico, ele só fez uma revisão do que foi feito e mandou o paciente para casa. É esse modelo que estamos tentando seguir agora. Sempre com o auxílio de uma pessoa. A gente não quer que seja uma coisa completamente guiada pelo computador.  

 

Schor: Interessante isso, queria que você finalizasse falando um pouco do que foi esse under 30 da Forbes, que são as trinta pessoas escolhidas abaixo dos trinta anos como destaques na sociedade, como foi essa história? 

Mariane: Olha, eu nem consigo acreditar que eu entrei para essa lista, sabe? Acho que todo mundo conhece a Forbes. Ela todo ano faz uma lista de 30 pessoas abaixo de 30 anos que está realizando algo diferente no mundo e causando algum impacto em determinado setor. E eles têm listas para diferentes áreas, eu entrei para a lista de ciência e saúde da Europa. E o processo de seleção é assim, um ano antes eles abrem as inscrições, alguém pode te indicar ou você pode se indicar, no meu caso a Lori do Dem Dx me indicou. Primeiro eles avaliam essa indicação, se você for préselecionado, vão te mandar um formulário com várias perguntas para entender sua personalidade, qual é a sua visão do mundo etc., e depois a gente precisa escrever uma biografia.  

A gente nunca espera ser selecionado para isso, mas acabou que eu entrei para a lista e tenho muito orgulho de falar que só 15% da lista são mulheres e 0,03% são imigrantes, que é o meu caso, portanto, foi uma conquista muito grande. O que essa lista significa hoje para mim é que eu tenho contato com as outras pessoas que também foram selecionadas e com as que estiveram nessa lista nos últimos dez anos. Dessa maneira, o que eu falei no começo da nossa conversa, o networking, é algo muito valioso. Nada que a gente faz nessa vida é sozinho, é muito importante conhecer pessoas, conversar com alguém, pedir conselhos, e acredito que essa é a única forma que conseguimos fazer a diferença, algo que realmente causará um impacto no mundo.  

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Schor: É realmente muito legal essa presença feminina se destacando cada vez mais, a gente tem ainda uma desigualdade absurda de gênero, principalmente no aspecto socioeconômico, e também a questão dos imigrantes, que essa é uma outra briga importante para tentar derrubar barreiras. Acredito que a gente tem que continuar pensando nisso mesmo e brigando por essas barreiras que atrasam o desenvolvimento. Então, esse teu 0,03% é muito importante de ser celebrado, e com certeza temos de pensar na aplicação disso em escala mundial. Não acho que tem que ser think globally, act locally”. 

Mariane: Olha, a sua colocação é perfeita, porque para criar soluções inovadoras nesse nível de tecnologia, precisamos de muito investimento do governo ou de investimento de fora para conseguirmos colocar a ideias em práticas. O que agora nesse momento no Brasil não vai acontecer, não estamos no momento certo para isso. No meu caso, eu vim pra cá, mas estou sempre pensando em formas de que como posso trazer isso de volta para o Brasil e acredito que eu não iria crescer e conseguir todo o conhecimento se não tivesse arriscado e saído do Brasil.  

A maioria das tecnologias é desenvolvida em países como a Inglaterra e os Estados Unidos e uma coisa que eles estão percebendo é que trazer pessoas que vieram de backgrounds diferentes, igual no meu caso, traz uma visão diferente do que eles já m aqui, então acho que o caminho de trazer coisas novas para o mundo é esse. Agradeço muito pelo convite, fiquei muito feliz de poder trazer informações do que está acontecendo fora do Brasil para os brasileiros. 

 

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