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Repercussão da entrevista com a diretora da healthtech Dem Dx, Mariane Melo, no Programa Rx 

 

O Podcast Rx – Por dentro da sua próxima receita médica! com a diretora da healthtech Dem Dx e cofundadora da spin-off Pharmaview, Mariane Melo, gerou uma reflexão de que nem sempre o caminho precisa seguir para o consultório médico, uma vez que a missão de levar ao paciente o melhor atendimento com a melhor solução pode ser também um caminho rumo à tecnologia e inovação, em que existe um mundo repleto de oportunidades. 

Mariane é uma jovem médica, formada pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), que foi indicada na lista de ciência e saúde da revista Forbes como uma das 30 pessoas abaixo dos 30 anos de idade mais influentes da Europa (30 under 30). Isso não é pouca coisa, a revista Forbes é bastante conhecida e muito criteriosa na escolha dessas pessoas. E a Mariane chega nessa lista representando 0,03% dos imigrantes e 15% das mulheres, portanto é uma força enorme de representatividade, e dá para entender muito bem durante a nossa conversa porque ela chegou até aí”, elogia o especialista.  

Mariane, que hoje é diretora médica da healthtech Dem Dx, uma empresa que oferece um sistema híbrido de atendimento, no qual eles entenderam que os pacientes não querem ser atendidos por máquinas. Ao mesmo tempo, ela falou sobre o sistema de saúde em Londres, na Inglaterra, onde vive atualmente, em que existe uma preocupação muito grande com o custo na área médica. Atende-se o paciente utilizando tecnologia, mas como ele não quer ser atendido somente por máquinas, há um sistema híbrido nesse atendimento”, comenta Schor, relembrando a história contada por Mariane a respeito da negação dos atendimentos iniciais pelos pacientes através de suporte tecnológico 

“O paciente não quer conversar com aquelas máquinas que respondem automaticamente a ligação de telefone, ele quer falar com alguém, com gente, e é isso que a Mariane comenta nesse episódio”, diz o oftalmologista, salientando que essa história o impactou muito, do motivo pelo qual os pacientes se revoltam e o que exatamente eles querem. “Isso vai para dentro da nossa próxima receita médica, é um aprendizado importante. A Ana (Cláudia Pinto, podcast do dia 5 de outubro de 2021) já tinha falado sobre isso também, a respeito do conceito de phygital, que é a forma híbrida de atendimento (físico mais digital), e aqui a Mariane retoma esse conceito bastante claro de que os pacientes não querem ser avaliados por máquinas”, aponta. 

O médico revela que esse aspecto o faz lembrar muito a imagem dos robôs da Boston Dynamics, formas bizarras de autômatos que dão pulos muito altos e são muito fortes, com formato de lobos e panteras. “Claro que eu fico me perguntando o quão amigo eu quero ser de um bicho desses ou se eu gostaria que ele viesse com um domador humano que o controlasse e isso, provavelmente, é uma alusão de que devemos manter a nossa humanidade frente a essas evoluções tecnológicas as quais ainda temos um pouco de dúvida de como que irá funcionar”, comenta. Ele ressalta que Mariane também traz um aspecto fundamental e muito oportuno de ser discutido atualmente, que é a função do governo na absorção das novas tecnologias, tanto do ponto de vista de controle e regulação, mas fundamentalmente de investimento e de compartilhamento de risco.  

Conforme explica Mariane na entrevista, na Inglaterra o SUS inglês, denominado NHS, tem um braço que se chama NHS X, que é como se fosse um local de inovação dentro do SUS que o governo financia. Daí o governo irá compartilhar os riscos da oferta desse tipo de produto, que é um produto arriscado e que muda o jeito com que as pessoas são atendidas, muda a vida das pessoas, algo que as empresas provavelmente não fariam”, destaca Schor, enfatizando que enquanto uma empresa pode ir à falência na hora que tem milhares ou centenas de processos médicos, o governo terá mais dificuldade de falir, por isso deve arriscar um pouco mais. Não estamos falando somente do financiamento, que é fundamental. Sem financiamento do governo, não conseguimos resolver problemas relacionados à saúde pública”, avalia.  

Quanto aos problemas de saúde individual, o médico esclarece que quem tem mais dinheiro consegue comprar um medicamento melhor, entretanto, em termos de saúde pública, o governo é essencial, porque além dele financiar também compartilha o risco, “Essa é uma ideia fantástica e que deveríamos trazer para cá. No Brasil, temos uma entidade que todo mundo deveria conhecer, que se chama Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde, ou Conitec”, informa Schor. Ele conta que a Conitec assessora o Ministério da Saúde em atribuições relativas à incorporação, exclusão ou alteração de tecnologias em saúde pelo SUS. Ou seja, é aqui que protocolos, equipamentos e novas drogas, são aprovadas”, completa. 

Na opinião do oftalmologista, a Conitec deveria ter uma autonomia muito maior do que tem atualmente, porque faz um trabalho extraordinário, extremamente técnico e não político, e onde também, e principalmente, o custo efetividade deve ser levado em consideração. O governo serve para equilibrar, para dar maior equidade às ofertas e diminuir a desigualdade. Portanto, é sim função do governo conseguir que todas as pessoas tenham acesso à saúde, e é também função do governo fazer com que isso seja sustentável. E aí a gente cai em uma armadilha que é importante ficar atento, que é a seguinte: mas por que eu não posso ter acesso a melhor tecnologia? Ah, porque senão meu amiguinho vai ficar sem. Pois é, em situação de sofrimento, a gente, em geral, tende a pensar mais em nós do que no nosso amiguinho.”  

O especialista diz que esse é um aspecto muito relevante nos dias de hoje e comenta que estava lendo sobre a repercussão do seriado coreano Round 6″, sucesso da Netflix. “O Leandro Karnal estava falando exatamente sobre isso, sobre a natureza humana, e comparando um pouco com um filme muito interessante chamado O Poço” (também da Netflix). Tanto a série quanto o filme falam bastante dessa ambição, que quando o ser humano é colocado sob privação extrema ele faz coisas que são inimagináveis”, observa, questionando como daria para equilibrar a saúde com problemas extremos, através de esforços estatais, no sentido de dar alguma coisa para todo mundo e, eventualmente, privar outras pessoas de algumas coisas. 

Para o especialista, a primeira parte é fácil, que é vamos dar para todo mundo alguma coisa que elas precisam.” Mas e quem ficar de fora e não receber? E aí a Mariane traz um pouco da inteligência artificial, elaborada de um jeito racional e baseado em evidência, que é a questão de quem precisa ter o quê”, diz, mencionando que a médica coloca ênfase no fluxo, uma vez que sua empresa é muito focada em logística. Diminui-se o gasto e aumenta-se a eficiência, direcionando as pessoas certas para o local certo. E então, ela fala em 10% de economia, e já existem indicadores dizendo o que acontece quando se faz isso de um jeito mais adequado, e é exatamente aí que mora o segredo de toda a gestão e, sobretudo, da gestão em saúde. O que nós vamos dar e para quem? O que nós vamos deixar de dar para alguém?”  

De acordo com o médico, um aspecto que chamou bastante a sua atenção na conversa com Mariane é o entusiasmo dela em relação a participar de um ecossistema em que lógicas são implementadas e riscos são assumidos e compartilhados em um sistema fora do país, que ela conheceu através do Ciência Sem Fronteiras. “Ela leva ânimo e motivação que o brasileiro naturalmente tem e que podem ser expandidos através de curiosidade e de incentivo. Foi o que aconteceu naquela época do Ciência Sem Fronteiras. E hoje o que a gente tem, e eu debato um pouco isso com ela, é a fuga de cérebros, isto é, jovens muito motivados fora do país. E quando eles atravessam a fronteira de volta, em geral, se desmotivam; se não imediatamente, mas a curto prazo, e isso é algo que eu fico triste, pesaroso, crítico, atento e tentando modificar”, declara. 

Ele afirma que trazer a experiência e o exemplo desses jovens, que são brasileiros e que estão no exterior há pouco tempo, para é algo que pode motivar outros jovens a realizar modificações dentro do Brasil. Eu falo bastante contra a fuga de cérebros, porque fuga me parece algo que não tem mais volta, fugiu e ficou lá longe, então eu trago o conceito de conexões. Nós falamos no podcast de conexões fortes, que são ligações químicas muito densas que não irão se quebrar facilmente, fragilmente. Eu acho que é esse o conceito importante”, pondera. Ele esclarece que a conexão, não apenas o networking de pessoas que nos interessam, mas a conexão que temos com os nossos problemas de raiz, e que são os problemas brasileiros, permanece 

“Dessa forma, eu acredito que não é uma fuga de cérebro, mas sim uma interconexão de cérebros que localmente não estão presentes por circunstâncias que esperamos que mudem, espero que a curto prazo, mas se não, pelo menos a médio prazo”, avalia, enfatizando que, enquanto isso, é preciso tentar manter essas redes de conexão, essas networks que estão presentes em locais de ponta”, que estão ampliadas. Não apenas em locais físicos, mas em ambientes virtuais também, outras configurações, outras formações, e as pessoas que estão nesses ambientes fazem a grande diferença”, acrescenta.  

Para Schor, é essa a diferença que existe entre um local que é atrativo para jovens e um local que ainda não atrai muita gente. “É essa a diferença entre uma excelente universidade ou instituto e uma universidade ok, são as pessoas que estão lá, são as pessoas diferentes, que são modelos, e é aí que queremos colocar os brasileiros e trazer para cá também, fazendo com que tenhamos os nossos 30 under 30 aqui dentro do Brasil, transferindo esse conhecimento e desenhando nossas próximas receitas e, com isso, ajudando o sistema de saúde, que é como a Mariane está fazendo lá fora e a gente esquerendo trazer para cá”, finaliza.  

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