O transplante mais realizado no mundo é o de córnea, membrana transparente do olho que capta as imagens e frequentemente é comparada ao vidro de um relógio por estar localizada na frente do globo ocular. Segundo o oftalmologista Dr. Leôncio Queiroz Neto as lesões e doenças na córnea são a terceira maior causa global de deficiência visual. Só perdem para a catarata e glaucoma. Anualmente somam 1,5 milhão de novos casos de perda da visão. Isso porque, a escassez de doações de córnea no mundo faz com que só uma em cada 70 pessoas que precisam do transplante consiga passar pela cirurgia.
No Brasil, a situação não é tão grave, mas a fila de espera pelo procedimento aumentou no primeiro trimestre de 2019 quando comparada ao mesmo período de 2018. O relatório da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO) mostra que embora o número de cirurgias entre janeiro e março deste ano tenha se mantido praticamente estável em relação ao mesmo período de 2018, a fila de espera totalizou 9442 inscritos contra 8772 no ano passado, perfazendo um aumento de 7,6%.
Causas
Para Queiroz Neto este avanço deve estar relacionado à crise econômica. No Brasil, comenta, a maior causa de transplante é o ceratocone, doença degenerativa na córnea que responde por 70% das cirurgias. O relatório da ABTO de 2018 mostra diminuição dos transplantes de córnea em relação a 2017. Esta redução coincide com a inclusão do crosslinking, cirurgia que interrompe a progressão do ceratocone, no rol de procedimentos dos planos de saúde. “São poucos os hospitais públicos que realizam o procedimento”, afirma.
Em um levantamento feito pelo médico com 315 portadores de ceratocone que passaram por esta cirurgia, 85% tiveram interrupção da progressão da doença e 45% melhora da visão. O especialista afirma que o transplante só é indicado quando a camada interna da córnea, o endotélio, é afetado pelo ceratocone ou perfurações, úlceras, cicatrizes, síndrome de Steven Johnson e distrofia de Fuchs. Isso porque, estas células são irrecuperáveis e quando sofrem lesões tornam a córnea opaca.
Novo adesivo pode restaurar a córnea
A boa notícia é que pesquisadores de Harvard estão desenvolvendo um adesivo em gel totalmente compatível com o olho para oferecer uma alternativa ao transplante e solucionar emergências. Feito de gelatina quimicamente fotossensível, o adesivo endurece e assume as características biomecânicas da córnea, após uma curta exposição à luz azul. No ensaio pré-clínico realizado pelos autores, o adesivo aderiu a um ferimento de três milímetros numa córnea, após 4 minutos de exposição à luz azul. Passados alguns dias, a córnea já estava se regenerando. A previsão é que o novo adesivo chegue ao mercado no início do ano que vem.
Para Queiroz Neto, a regeneração da córnea com este novo tratamento pode reduzir o índice de portadores de ceratocone que vão para transplante no Brasil. Para não ter surpresas desagradáveis com a progressão da doença é melhor prestar atenção aos seus primeiros sinais: “troca frequente do grau dos óculos, visão de halos noturnos, aversão à luz do sol, maior fadiga visual e olhos irritados”, enumera. Significa que pode ser necessário fazer uma tomografia da córnea para ter um diagnóstico precoce.
O oftalmologista ressalta que hoje a única alternativa para impedir a perda do globo ocular em perfurações são os adesivos sintéticos que, por serem tóxicos, só podem ser aplicados em pequenas lacerações. Foi o que aconteceu com N.L. uma paciente que chegou ao consultório com o olho vazando em um lenço depois de muitos anos convivendo com herpes ocular. Uma situação dramática até o cirurgião ter acesso a uma córnea para transplante. “O novo adesivo pode melhorar muito os tratamentos de problemas na córnea”, conclui.
Fonte: Instituto Penido Burnier