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Frederico F. Marques
Setor de Óptica Cirúrgica 
Chefe do Setor de Catarata – Unifesp      
  
   
 Daniela M. V. Marques
 Setor de Óptica Cirúrgica 
Coordenadora do Setor de Catarata – Unifesp
 
O Dr. Robert Osher, professor de Oftalmologia da Universidade de Cincinnati, EUA, e idealizador do curso “Cataract Surgery: Telling Like it is , realizado de 17 a 21 de janeiro de 2018, em Amelia Island, Flórida, EUA, promoveu um curso intensivo para cirurgião de catarata sem conflito de interesse com a empresa. Trata-se de um congresso com caraterísticas únicas, marcado por uma agenda intensa, iniciando às 7 h da manhã e com agenda científica ininterrupta até as 22 h. Uma das grandes vantagens sobre outros congressos é que a grade científica é composta pelos melhores professores no assunto e as aulas são em uma única sala, evitando aquela sensação de estar perdendo uma melhor aula na sala ao lado, como ocorre no ASCRS e AAO. Além disso, possui inúmeros “wet labs – “hands on que vão desde detalhamento em exame diagnóstico, como por exemplo OCT, até técnicas de fixação de lente intraocular, suturas, vitrectomia e outros.
O conteúdo principal logicamente não poderia deixar de ser outro que não catarata; entretanto, este ano tiveram aulas muito interessantes sobre córnea, retina e refrativa. Na área de córnea, a Dra. Deepinder Dhaliwal ressaltou os cuidados ao abordar pacientes com distrofia de Fuchs e catarata para se obter uma melhor indicação cirúrgica. Ressaltou que nos casos nos quais os pacientes não apresentam edema corneano nem embaçamento ao acordar, a cirurgia de catarata com implante de LIO deve ser indicada, entretanto, se houver edema corneano clínico ou mesmo visão embaçada matinal, a cirurgia combinada de faco+LIO+DMEK deve ser indicada. Além disso, ressaltou que os parâmetros de paquimetria e microscopia especular são questionáveis e devem ser sempre colocados em segundo lugar quando comparados à clínica do paciente.
A área de refrativa foi ministrada pela Dra. Marguerite McDonald, que ressaltou os interessantes resultados de seu estudo comparando PRK sob a técnica de remoção manual do epitélio versus remoção deste utilizando um instrumento denominado Epi-Clear (Figura 1) para remover precisamente o epitélio sem lesar a camada de Bowman – EBK (Epi-Bowman Keratectomy). Os pacientes na técnica de EBK obtiveram menor incidência e intensidade de dor, bem como maior previsibilidade refracional quando comparado ao grupo de PRK com desepitelização manual.
Figura 1: Epiclear – utilizado para remoção e coleta simultânea das células epiteliais 
As aulas de retina também foram bem úteis e voltadas ao cirurgião de catarata, como identificação de lesões maculares sutis com OCT, que ao exame de biomicroscopia de fundo e/ou mapeamento da retina não haviam sido identificadas, como buraco macular incipiente, membrana epirretiniana, entre outras. Em relação às injeções intravítreas, foi mostrado um estudo comparativo entre medicações “preloaded”, isto é, sem necessidade de manipulação versus as manipuladas (fracionar/diluir); o resultado foi a presença de um número maior de endoftalmites, bem como maior toxicidade no grupo que necessitou manipular a medicação, revelando assim os benefícios da medicação pré-manipulada.
Foi incentivada também a realização de vitrectomia anterior via pars plana por parte do cirurgião de catarata através de trocânteres com incisões autosselantes, tornando a vitrectomia mais eficiente, uma vez que o vítreo é retirado posteriormente, mantendo assim o tamanho da rotura da cápsula posterior, preservando maior suporte para lente intraocular.
O congresso foi também marcado por excelentes palestras de professores homenageados, como o Dr. Samuel Masket e o Dr. Ehud Assia. O Dr. Samuel Masket lecionou sobre disfotopsia negativa, uma anormalidade pós-operatória caracterizada por uma percepção de arco escuro (sombra) temporal após cirurgia de facectomia com implante de lente intraocular sem intercorrências dentro do saco capsular. As causas são multifatoriais; entretanto, todas têm em comum a presença da cápsula anterior sobre a zona óptica e não ocorrem quando a lente é colocada no sulco ciliar; sendo assim, ele desenvolveu uma lente intraocular na qual a cápsula anterior é capturada sob um sulco na zona óptica da lente; em seu estudo isso foi capaz de solucionar todos os casos (Figura 2).
Figura 2: Lente bem centrada in vivo e seu esquema ao lado evidenciando um sulco na zona óptica anterior, onde a cápsula anterior deve ser alocada 
 
Por sua vez, o Dr. Ehud Assia demonstrou as aplicações do mantenedor de câmara anterior em casos de rotina de facoemulsificação, evitando descompressão da câmara anterior, aumentando a segurança do procedimento e terminou mostrando seu “device para pupilas pequenas chamada “APX ; trata-se de um par de dilatador de pupila que entra por uma paracentese de 1 mm colocados a 180º a parte com grande segurança e reprodutibilidade (Figura 3). Lembrando que o Dr. Assia é idealizador da “âncora capsular para suporte de cápsulas subluxadas (Figura 4).
Figura 3: Mostrando o dispositivo sendo implantado e ao lado já dilatando a íris 180º a parte
 
Figura 4: Dispositivo de suporte de cápsula subluxada (AssiAnchor®, Hanita)
O Dr. Warren Hill demonstrou os resultados das fórmulas de 4ª geração em casos de biometrias pós-cirurgia refrativa, revelando a excelente fidelidade de Barrett True K nos casos de H-Lasik e pós-RK, sendo comparado no caso de ablação miópica à fórmula de Haigis-L. Nos casos de pós-RK com variação hipermetrópica sugeriu a regra do “2 , isto é, definir a refração final após dois meses de cirurgia, realizando o exame em duas consultas distintas no mesmo período do dia.
A relação do astigmatismo anterior e posterior foi abordada pelo Dr. Douglas Koch, que demonstrou que a incidência do astigmatismo posterior a favor-da-regra é maior quando o astigmatismo anterior é também a favor-da-regra e menor quando o astigmatismo anterior é contra-a-regra.
Em relação às novidades tecnológicas, a LENSAR teve destaque ao desenvolver um software para criação de uma protuberância na margem da capsulotomia para marcar o eixo da lente tórica a ser implantada, isto é, realizada através do reconhecimento iriano para evitar ciclotorsão e paralaxe (Figura 5).
 
Figura 5: Setas vermelhas evidenciando o contorno interno diferenciado da capsulotomia no eixo desejado para implante de lente intraocular tórica
Outras tecnologias que devem ser promissoras são:
– miLOOP (IanTech®): alça para quebra de núcleo (Figura 6).
– Catapulse®: extração da catarata com vácuo pulsado de alta frequência (sem ultrasom).
– Capsulaser®: outro método mais barato que o femtossegundo para realização de uma capsulorrexe de forma consistente, reprodutível e seguro (Figura 7).
 
Figura 6
 
 
Figura 7
 
Foram mostradas também cirurgias complexas de como resolver casos de lentes subluxadas, técnicas de fixação e avançadas técnicas de suturas com o Dr. Michael Snyder e o Dr. Steve Safran, referências no assunto.
Enfim, esse evento proporcionou um grande aprendizado em um curto espaço de tempo, sendo extremamente útil ao cirurgião de catarata.
Valeu a pena! 

Fonte: Universo Visual

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