Jeanete Herzberg – administradora de empresas graduada e pós-graduada pela EAESP/FGV. Autora do livro “Sociedade e Sucessão em Clínicas Médicas”.
Na coluna desta edição, usarei alguns trechos de uma entrevista com Vicente Falconi publicada na revista Exame em junho de 2014, sobre a utilização dos indicadores e controles financeiros numa empresa.
“Você já imaginou um jogo de futebol sem placar? Você vai ao jogo, vê um monte de gente correr para lá e para cá. Algumas vezes a bola entra na rede, as pessoas pulam para comemorar, mas não existe um registro do que aconteceu ali. Depois todo mundo volta para casa. Nada é medido. Você acha que haveria paixão pelo futebol?
Se você pegar um carro e não souber quanto tem de gasolina nem se a velocidade está certa, não vai conseguir gerenciar o momento certo de abastecer, de acelerar ou frear. Algo vai dar errado em algum momento. Quem em sã consciência aceitaria voar num avião sem o painel de controle?
Colocar dados à vista para todos ajuda a calibrar onde deve estar concentrado o esforço individual para que o resultado coletivo seja alcançado.
No entanto, não basta escolher qualquer indicador e estampá-lo nas paredes da clínica ou consultório. Por quê? Certamente porque apresentam os indicadores errados no local errado. Seria o mesmo que você estar num jogo de Flamengo e Corinthians e o placar mostrar o resultado de Fluminense e São Paulo. Os indicadores devem ser mostrados às pessoas certas e devem atender a uma necessidade de controle. Você não precisa abrir números de uma área para a outra. Mas cada um precisa saber sobre o jogo que está jogando.
Para divulgar o que é importante para as pessoas certas, é preciso pensar especificamente em determinadas áreas. Este padrão fornece, a cada etapa do processo, os indicadores com as metas a serem atingidas. Cada setor deve ter os próprios indicadores”.
E na sua clínica ou consultório, existem dados coerentes, precisos e que baseiem suas decisões?
Em diversas conversas com médicos, donos de consultórios e clínicas, observo como os dados e informações são negligenciados! E sempre me pergunto: como é que podem tomar decisões com reais chances de acerto e sucesso?
Numa clínica que se preparava para a entrada de um novo sócio, havia a preocupação de valorizá-la e também de definir quais eram os principais riscos que esse provável sócio encontraria no negócio. Ao analisar os números, percebi que o valor gerado pelos serviços prestados nos 3 anos anteriores praticamente não havia se alterado. Fui informada que os preços eram reajustados anualmente e que acompanhavam a inflação. A percepção dos sócios era de que estava tudo em ordem e que o valor se manteve por conta da crise instalada no país. Porém ao perguntar qual era o número de pacientes novos que vinham à clínica mensalmente, a resposta foi que “sempre temos gente nova . Levantamos a curva e os dados eram chocantes: em 5 anos, esse número havia caído de 25 para 9 por mês. A curva mostrava a “morte anunciada da clínica, mas os sócios não tinham noção disso!
Em outra oportunidade, a mistura de caixa da pessoa física com a jurídica impossibilitava a verificação do resultado efetivo que o negócio proporcionava aos sócios. Adicionado a isso, a clínica não enviava as informações necessárias ao contador e assim, não sabia se havia lucros ou prejuízos e muito menos se ocorriam fraudes em seu caixa.
Não seriam esses, exemplos como os que Falconi menciona em seu artigo quando pergunta quem aceitaria voar num avião sem um painel de controle?
Se indicadores de desempenho lhes causa alergia, aprenda a usá-los com moderação, mas não os ignore. Se números e contas, impostos e taxas, tributação e leis lhes arrepiam, deleguem-nos ao pessoal da administração, mas nunca deixe de acompanhá-los para assim minimizar seus riscos, possibilitar a opção pela melhor direção de seu negócio e especialmente aumentar as chances de sucesso.
Caros oftalmologistas, sócios de clínicas e consultórios: estruturem seus painéis de controle, adotem o uso das ferramentas disponíveis na administração; escutem os que os especialistas da saúde de seus negócios têm a lhes dizer, respeitem o diagnóstico e as condutas apropriadas para seus casos. Assim como vocês sugerem aos seus pacientes: coloquem a saúde de suas clínicas em dia!
Fonte: Universo Visual