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O aumento do número de casos despertou a atenção de pesquisadores, médicos, da indústria farmacêutica e de sociedades como a Tear Film & Ocular Surface Society (TFOS), entidade que se destaca mundialmente ao estudo da síndrome e que produziu o relatório Dry Eye Workshop Society (Dews II). Além de reclassificar e redefinir olho seco, o Dews II revela uma grande variação da prevalência global da doença, que fica entre 5% e 50%. 
Sobre a predominância da síndrome na população mundial, Sérgio Felberg, oftalmologista da Rede de Hospitais São Camilo, chefe do Setor de Córnea da Santa Casa de São Paulo e preceptor do Setor de Córnea do Hospital do Servidor Público Estadual de São Paulo (IAMSPE), comenta que há muitos estudos sobre o tema e que a literatura é bastante controversa. “Os estudos mostram que a prevalência pode variar de 5% a 45% e parece ser mais frequente entre os asiáticos. No Brasil, considera-se que entre 10 e 15% dos brasileiros tenham olho seco”, diz. 
Tratamento
Segundo José Álvaro Pereira Gomes, professor adjunto livre docente do Departamento de Oftalmologia e Ciências Visuais da Escola Paulista de Medicina/Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), nos últimos 15 anos houve um boom em relação à fisiopatologia, diagnóstico e tratamento de olho seco.  “A primeira linha de tratamento são os colírios lubrificantes e, como é um processo crônico, é preciso usá-los de forma contínua. Nos últimos anos houve um grande investimento em pesquisas e foram introduzidos vários novos medicamentos e estratégias terapêuticas”, explica. 
Outro fato que surgiu recentemente e que contribuiu para o aprimoramento do tratamento foi o conhecimento de que 2/3 dos casos são evaporativos, relacionados à disfunção das glândulas meibomianas. “Todas as doenças ligadas a essas glândulas e pálpebras, as blefarites, despertavam pouco interesse dos oftalmologistas até que se notou que as condições delas tinham relação com esse tipo de olho seco. Por causa disso, nos últimos 10 anos começaram a surgir várias técnicas para melhorar a função dessas glândulas, diminuindo a evaporação da lágrima”, comenta Pereira Gomes. 
Além dos lubrificantes, colírios imunomoduladores passaram a ser usados no tratamento da síndrome do olho seco, controlando o processo inflamatório da superfície ocular. “O mais conhecido é a ciclosporina tópica, que tem sofrido modificações no aumento da concentração e no uso de frasco multidoses, visando assim ter mais aderência por parte dos pacientes , conta. Além da ciclosporina, outras moléculas imunomoduladoras têm sido utilizadas, como corticoides de superfície com nanotecnologia que proporcionam a diminuição dos efeitos colaterais.
Este ano, o país teve uma conquista voltada para os casos graves de olho seco, o colírio de soro autólogo Self Tears. Depois de uma década de pesquisas, o Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA) realizou uma Parceria Público Privada (PPP) para que a população tenha acesso ao medicamento. “São anos de pesquisa que se concretizam em realidade. Estamos felizes por viabilizar para a comunidade este tratamento tão importante”, comenta Diane Ruschel Marinho, chefe do Serviço de Oftalmologia do HCPA, em comunicado da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. “Somos o primeiro serviço no Brasil a se organizar para que a produção deste tratamento seja feita dentro das regras da ANVISA”, completa. 
O processo de elaboração do medicamento parte da indicação de um oftalmologista. Para produzir o Self Tears, o paciente realiza uma coleta de sangue no HCPA. O material é processado no Banco de Sangue e depois encaminhado à farmácia de manipulação parceira para a diluição, envase, rotulagem e controle de qualidade. Cada autodoação de sangue pode gerar material suficiente para oito meses de tratamento. 
Outra nova estratégia no tratamento da doença é o estímulo à produção de lágrima. “Medicamentos secretagogos, sejam orais ou tópicos, estão sendo estudados principalmente pela indústria farmacêutica japonesa e estão entrando no mercado mundial, inclusive sendo associados a outras moléculas dos colírios lubrificantes”, explica Pereira Gomes. Ainda para a produção da lágrima, há novas tecnologias como os equipamentos de estimulação neurossensorial que induzem o processo de lacrimejamento pelo estímulo da mucosa nasal (esses equipamentos ainda não chegaram ao país) e os sprays nasais com agentes colinérgicos. 
Entre as novidades ainda estão as técnicas para o tratamento das Glândulas de Meibomius. O professor da Unifesp comenta que entre elas está a luz pulsada, que tem ação térmica, vaso-oclusiva, neuromoduladora e que melhora a função dessas glândulas principalmente em pacientes com rosácea ocular. “Outra tecnologia é a termo pulsátil, ou termo mecânica, com aparelhos que aquecem até 42 graus – temperatura ideal para dissolver a gordura da Meibomius e, paralelamente, faz a drenagem das glândulas para eliminar a secreção que está alterada. Há duas tecnologias no mercado brasileiro e outras que estão entrando. Os aparelhos têm custo alto tanto para o oftalmologista como para os pacientes”, informa.
Da mesma forma que há inovações nos tratamentos para a Síndrome do Olho Seco, quando o assunto é diagnóstico as novidades também não deixam a desejar. Felberg conta que atualmente há vários aparelhos que tornam mais assertiva a avaliação dos médicos nos consultórios, como a meibografia. “Hoje é possível acessar informações que eram inacessíveis até cinco ou dez anos atrás, como a medida de osmolaridade do filme lacrimal e o estudo anatômico das Glândulas de Meibomius”, explica o médico. “O aparelho não é indispensável, mas complementa o diagnóstico e traz informações que o validam”, aponta. 
Spa para os olhos
A evolução nas ferramentas para o tratamento da síndrome levou à criação de um novo conceito, já adotado na Europa e nos Estados Unidos e que agora chegou ao Brasil, o Spa de Olho Seco. “O spa visa oferecer um tratamento integrado, sem deixar de lado o cuidado em relação ao bem estar geral do paciente”, comenta Pereira Gomes.
“Trata-se de um espaço onde o paciente faz uma série de testes e tratamentos específicos para olho seco. Essas clínicas têm médicos especializados no assunto e por meio da anamnese dirigida e do exame geral específico determinam o tratamento mais adequado”, diz Felberg. “No mesmo local o paciente terá a propedêutica avançada que permitirá estabelecer o diagnóstico mais completo possível e a repercussão que a doença causou para aquele paciente. E lá mesmo terá acesso a novas modalidades de tratamento, como a aplicação de luz pulsada nas pálpebras , revela o médico da Santa Casa.
A importância da educação 
Quando se fala em olho seco, um dos principais desafios está relacionado à aderência ao tratamento e por isso um ponto importante é a educação. “O paciente precisa entender que algumas causas de ressecamento são modificáveis, mas outras não. Dependendo da causa, terá de conviver com isso a vida toda embora o arsenal terapêutico seja bastante vasto , explica Felberg. 
O médico ressalta também que é preciso cautela quando o assunto é olho seco tanto para não subestimar casos potencialmente graves que podem levar a consequências importantes para a visão e que comprometam a qualidade de vida do paciente e nem para superestimar casos leves. “O colírio é para quem de fato sente a necessidade de usá-lo”, exemplifica.
Felberg alerta que na maioria das vezes a causa da Síndrome do Olho Seco é multifatorial. “Uma das causas do olho seco evaporativo é o uso de displays, como computador, celular, tablets, que pode induzir ressecamento aos usurários e isso é proporcional ao tempo de tela. Mas nem todos terão sintomas. Os mais sintomáticos são aqueles que têm outros fatores de risco para desencadear a doença. Quanto mais idoso, maior a chance de ter olho seco. Se a pessoa trabalha em um lugar que tenha ar condicionado, se faz uso de hormônios ou de medicações para tratar, por exemplo, transtorno de humor também estará mais propensa a desencadear a síndrome”, exemplifica.
Segundo ele, é somente quando o paciente entende a natureza crônica que consegue aderir a um tratamento e seguir determinada linha de conduta. “Educação é essencial. Por isso costumo dizer para os residentes que assim como as pessoas investem na aquisição de novos equipamentos, é preciso investir na conversa cuidadosa com o paciente visando extrair informações relevantes que permitam estabelecer um diagnóstico amplo e completo para que ele entenda a proposta do tratamento, que tenha aderência e se mantenha conectado ao médico”, conclui Felberg.

Fonte: Revista Universo Visual

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