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Pesquisa revela como especialistas vitreorretinianos utilizam vídeos online para aprimorar suas habilidades e conhecimentos

Por Chris Lopes

Luiz Filipe Adami Lucatto, oftalmologista e especialista em retina e vítreo pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp/EPM), doutorado em Ciências Visuais pela mesma universidade

O uso das redes sociais tem crescido exponencialmente nos últimos anos, principalmente depois de 2020, quando pessoas e empresas em todo o planeta tiveram de se adaptar à rápida transformação digital imposta pela pandemia de Covid-19. O Brasil é o terceiro país que mais consome conteúdos nas redes sociais, de acordo com um levantamento feito pela Comscore, à frente de países como Estados Unidos, México e Argentina.

A utilização das mídias sociais tem sido importante também entre profissionais da medicina e um estudo recente endossa essa questão. A pesquisa “Uso de vídeos cirúrgicos disponíveis nas mídias sociais entre cirurgiões de retina: resultados de uma pesquisa com especialistas vitreorretinianos”, publicada nos Arquivos Brasileiros de Oftalmologia, teve como objetivo avaliar e interpretar como os cirurgiões vitreorretinianos utilizam os vídeos cirúrgicos disponíveis nas mídias sociais como ferramentas complementares de aprendizagem para melhorar, revisar ou atualizar suas habilidades, considerando seus diferentes níveis de especialização.

“Isso é especialmente verdadeiro para aqueles que estão em treinamento e para jovens cirurgiões, mas os resultados mostram que eles têm valor em qualquer fase da carreira. O YouTube foi identificado como a fonte mais comum desses vídeos, seguido por sites de sociedades médicas e pelo Instagram. A pesquisa também revelou que a qualidade da imagem e a presença de ‘tips & tricks’ cirúrgicos são os aspectos mais valorizados nos vídeos”, comenta Luiz Filipe Adami Lucatto, oftalmologista e especialista em retina e vítreo pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp/EPM), doutorado em Ciências Visuais pela mesma universidade, e autor principal do estudo.

Os participantes ainda relataram que costumam usar esses vídeos para se prepararem para uma cirurgia, destacando a importância dessa ferramenta na educação continuada e na atualização de técnicas cirúrgicas.

Apesar dos benefícios, é preciso ter cuidados ao usar as redes sociais tanto para postar esse tipo de vídeo como para quem os assiste. “Ao usar redes sociais para postar vídeos cirúrgicos é crucial considerar a privacidade e o consentimento dos pacientes, garantindo que todos os dados pessoais estejam devidamente anonimizados. Além disso, é importante verificar a precisão e a qualidade do conteúdo para evitar a disseminação de informações incorretas”, destaca Lucatto.

O médico aponta que os vídeos devem ser editados para destacar aspectos educativos e técnicas seguras, evitando temas controversos ou inadequados ou, se não for possível evitá-los, destacando-os na edição para que quem estiver assistindo possa avaliar o material de forma criteriosa. “Para quem os assiste, é essencial manter o senso crítico. O vídeo não é uma ferramenta isolada para assistir e sair realizando um procedimento. Ele funciona como uma ilustração da cirurgia, similar ao que vemos em artigos ou livros, ajudando a visualizar melhor determinado passo cirúrgico ou ampliando o leque de opções de uma técnica. No entanto, é essencial buscar informações em publicações, livros e discutir casos com colegas mais experientes para estarmos mais bem preparados para uma cirurgia”, pondera.

 

A pesquisa em números

O estudo transversal foi feito online e incluiu 258 participantes, dos quais 53,88% estavam na prática há mais de dez anos; 29,07% entre quatro e dez anos; e 17,05% há menos de três anos (cirurgiões em treinamento). O levantamento mostrou que os vídeos de cirurgia de retina disponíveis nas mídias sociais foram usados por 98,84% dos participantes (intervalo de confiança de 95%, 97,52%-100%).

O YouTube (91%) foi a fonte mais comum de vídeos, e os cirurgiões em treinamento assistiram a mais vídeos nesse canal do que os cirurgiões seniores. Em relação ao método preferido na preparação para um procedimento, 49,80% dos participantes assistiram a vídeos cirúrgicos disponíveis nas redes sociais, 26,27% preferiram “consultar colegas” e 18,82% optaram por buscar informações em artigos científicos. Os participantes valorizaram mais a “qualidade da imagem” (88%) e a presença de “dicas e truques cirúrgicos” (85%).

Em relação à frequência de acesso a vídeos cirúrgicos online, 50,2% dos respondentes afirmaram assistir a vídeos semanalmente. A maioria dos que responderam frequência “menos de mensalmente” eram cirurgiões seniores (25%), enquanto apenas 2,27% dos cirurgiões em treinamento e 8% dos jovens cirurgiões escolheram essa resposta, indicando que os mais jovens acessam os vídeos com mais frequência.

 

O que vem por aí

E, no futuro, como os médicos poderão aprimorar o uso de vídeos cirúrgicos nas redes sociais? “Teremos abordagens inovadoras. Bibliotecas de vídeos cirúrgicos organizadas e validadas por sociedades médicas serão úteis para consulta e para promover a educação médica continuada. A integração de tecnologias avançadas, como a realidade aumentada e a inteligência artificial, poderá proporcionar uma experiência de aprendizado mais imersiva e personalizada”, afirma Lucatto.

Além disso, complementa o oftalmologista, plataformas específicas para educação médica podem ser desenvolvidas, oferecendo conteúdo curado e de alta qualidade, além de permitir a interação entre especialistas e aprendizes. “A colaboração internacional pode ser facilitada através de discussões em tempo real sobre casos complexos. Como já ocorreu em outras áreas médicas, a criação de diretrizes e normas específicas para a produção e compartilhamento de vídeos cirúrgicos pode assegurar que o conteúdo publicado seja seguro, educativo e benéfico para a comunidade médica”, finaliza.

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