Tempo de leitura: 2 minutos

Recentemente, uma pesquisa conduzida por Ricardo Abe, oftalmologista do Hospital Oftalmológico de Brasília, e equipe sobre a adesão ao tratamento de glaucoma foi publicada na revista Scientific Reports da Nature. O que os levou a conduzir o levantamento é o fato de que os colírios continuam sendo a principal forma de tratamento de pessoas com glaucoma. “Mesmo com o aumento da realização de procedimentos a laser (SLT) e microcirurgias (MIGS), o paciente com glaucoma pode vir a necessitar de colírios em algum momento de sua jornada. Dessa forma, estudos que avaliem a aderência ao tratamento do glaucoma são fundamentais”, ressalta Abe.

Ele explica que esse foi o primeiro estudo da América Latina que mensurou objetivamente, através de dispositivos eletrônicos (MEMS caps bottles), a taxa de aderência ao tratamento medicamentoso em pacientes com glaucoma. “Encontramos uma taxa de não aderência de aproximadamente 30% e uma associação entre as taxas de baixa aderência com a progressão do glaucoma e com a perda de seguimento do acompanhamento oftalmológico. Isso sugere que aqueles que são pouco aderentes ao tratamento têm maior risco de progressão da doença e perda de seguimento das consultas”, revela o médico.

Para a análise, a equipe estimou primeiramente a taxa de adesão ao tratamento do glaucoma usando dispositivos de monitorização medicamentosa em um grupo de pacientes. Abe ressalta que embora as taxas de adesão tenham sido semelhantes a estudos anteriores feitos nos Estados Unidos e na Europa – cerca de 28% de não adesão na coorte de 110 pacientes, é importante notar que não foram avaliadas técnicas de instilação para checar se os pacientes estavam usando a medicação corretamente.

Para melhorar a adesão ao tratamento é preciso, segundo ele, saber identificar aqueles que apresentam fatores de risco para não aderência. “Em nosso estudo, identificamos que jovens e recém diagnosticados tem piores índices de aderência, muito provavelmente devido aos efeitos colaterais da medicação. Pacientes com menor nível sócio-econômico e sem plano de saúde também apresentaram menores taxas de aderência devido à dificuldade para comprar os colírios. O engajamento do paciente ao tratamento é fundamental, e por isso é importante que ele seja orientado pelo oftalmologista sobre a necessidade de usar a medicação para evitar a progressão da doença e que em todas as visitas seja questionado se está enfrentando alguma dificuldade em relação ao uso dos colírios”, diz.

Abe comenta ainda que há estudos que demonstram que algumas estratégias podem melhorar a aderência ao tratamento da doença. “Lembretes eletrônicos através de mensagem e aplicativos de celular podem ser uma alternativa para diminuir as taxas de esquecimento da medicação. A educação do paciente através de uma orientação detalhada durante a consulta ou até palestras podem ajudar o paciente a entender melhor a doença, os exames realizados, a necessidade do tratamento e a aprender também a técnica correta da instilação do colírio”, comenta Abe.

Outro fator importante é a individualização do tratamento, com o uso de medicações combinadas. “Isso pode melhorar a adesão visto que uma das barreiras para aderência está relacionada ao maior número de drogas utilizadas. O uso de colírios anti-glaucomatosos sem conservantes ou ainda o tratamento da superfície ocular com lubrificantes pode ajudar a minimizar os efeitos colaterais da medicação e impactar positivamente nas taxas de aderência”, conclui.

Compartilhe esse post