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Lentes de contato são prescritas para erros refrativos que não podem ser solucionados com óculos como na afacia, ceratocone, córneas irregulares e alta anisometropia. Além disso, podem ser usadas para manejo de erros refrativos simples como alternativa aos óculos. O uso de lentes cosméticas também é bastante popular.
As lentes de contato trouxeram melhoria da qualidade de vida, não só pela correção dos erros refrativos, mas também pela questão estética e menor restrição nas atividades diárias. Apesar das inúmeras vantagens, as lentes podem causar complicações, sendo a maioria delas minimizada com o uso correto e acompanhamento. Artigo publicado em 2017 no Journal of Ophthalmic and Vision Research mostrou revisão dos artigos sobre complicações em lentes de contato publicados entre 1995 e 2015.
O desconforto é uma condição caracterizada por sensações oculares adversas episódicas ou persistentes relacionadas ao uso de lentes, com ou sem distúrbio visual, resultando em certa intolerância e podendo reduzir o tempo de uso ou até levar a descontinuação.
Os causadores podem ser fatores relacionados ao uso de lentes de contato (material, conteúdo de água e umectabilidade; desenho; adaptação; forma de uso e sistema de cuidado como o regime e a composição química utilizada) ou ambientais (condições da superfície ocular, ambiente externo, fatores ocupacionais, medicações, compliance e outros fatores como idade, sexo, patologias oculares prévias, doenças sistêmicas e condições psicológicas e psiquiátricas).
Condições que podem causar desconforto com as lentes como blefarite, meibomite , alergias e síndrome de olho seco devem ser tratadas antes de iniciar o uso. Em alguns pacientes que continuam sintomáticos apesar das orientações de forma de uso, higiene, descarte e tratamento de condições da superfície é necessário trocar o tipo de lente ou a forma de uso/descarte.
Além disso, diversas outras complicações podem estar associadas principalmente ao uso incorreto, má adaptação, forma de uso ou tipo de lente não adequado ou não orientação/acompanhamento do paciente, como por exemplo:
  1. Neovascularização corneana, principalmente em pacientes usuários de lente gelatinosa, havendo associação com uso prolongado, lentes com periferia espessa pelos altos graus, lentes apertadas e baixa transmissibilidade ao oxigênio;
  2. Úlcera periférica relacionada a lentes de contato, principalmente em pacientes que fazem uso prolongado;
  3. Ceratite bacteriana, associada em muitos casos à hipóxia, microtraumas (quebra da barreira epitelial) e contaminação das lentes ou da solução de limpeza. O risco pode ser aumentado em 20 vezes naqueles que fazem uso prolongado, o que aumenta a hipóxia corneana;
  4. Ceratite por acanthamoeba, a mais temida das infecções associadas à lentes de contato, é associada a higiene irregular e incorreta das lentes e contato com águas contaminadas com a ameba de vida livre. Pacientes que fazem uso esporádico de lente de descarte anual ou mensal normalmente tem baixa adesão à limpeza diária das lentes, o que também pode ser um fator de risco nesses casos;
  5. Ceratite fúngica, mais comum em casos de trauma e em usuários prolongados de lentes gelatinosas de material hidrogel;
  6. Conjuntivite papilar gigante, que tem prevalência maior em usuários de lentes silicone hidrogel e pode ser consequência da irritação mecânica causada pelo alto módulo. Uma diminuição nos casos tem sido vista em pacientes que fazem descarte diário das lentes. A história de alergia/atopia é comum;
Cabe lembrar que lentes de contato bem adaptadas por um profissional oftalmologista, após realizado exame oftalmológico completo, exames complementares de acordo com a necessidade e teste de adaptação normalmente são bastante seguras, com índice de complicação baixo. A grande maioria das complicações ocorre por mau uso, falta de orientação e seguimento e pela banalização do exame médico como ferramenta essencial nesse processo.
Além desses itens, é dever do profissional médico orientar o uso, higiene, manuseio e principalmente acompanhar sempre o paciente. Pelos motivos expostos foi determinado pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), na resolução 1965/2011, que “a indicação e a adaptação de lentes de contatos são procedimentos médicos exclusivos e integrais (& )” e que “a indicação e processo de adaptação devem ser feitas pelo mesmo médico, sendo atos intransferíveis e não compartilhados”.

Fonte: PebMed

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