A discussão aconteceu em uma disciplina genial chamada Gestão e Liderança (GL), liderada pelo amigo David Kallas, onde abordo o papel do médico na inovação e na nova sociedade.
Ambos estávamos (e nos mantemos), empenhados e preocupados com a figura incorporada pelo médico, tanto no âmbito social, quando técnico, e ao longo do tempo ficaram claras algumas visões, congruentes, complementares e outras colocadas em questão pelo Dani, ainda não inserido na liturgia médica.
Concordamos que há hoje um desconforto e preocupação na posição que o médico mantinha, alimentado por uma soberba própria, mas também por um endeusamento com que a sociedade via a figura médica, longe de ser um jovem trabalhador, e sim se aproximando mais de um fulcro importante, um sacerdote, um detentor de grande dom. Esta divinização laboral manteve a relação médico-paciente desde muito, extremamente assimétrica.
Enxergamos que já há algum tempo, o paciente iniciou um processo de exigência subliminar de uma posição mais ativa e de equidade. Atualmente ele já transita na demanda clara e por vezes até agressiva, típica de quem está emergindo de uma condição anterior de completa passividade.
Do outro lado, o médico que já não se satisfaz e até mesmo se envergonha do desequilíbrio no molde anterior. Porém, o que mais nos interessa é a constatação de uma imensa insegurança diante das imprecisas e novas referências que norteiam e balizam o remodelamento desta nova relação.
Há uma dificuldade em se valorizar e não se mostrar prepotente, e em acolher e não significar incapaz!
Fomos treinados para cuidar, para doar e não para oferecermos um serviço. Talvez daí tenha sido criado um grande pilar, de sal e areia, desta relação médico-paciente. Flerta com a filantropia exclusiva, o que amarra de um lado o médico a uma figura divina, que obviamente não pode monetizar seu serviço e do outro lado o paciente, em uma posição de quase subserviência, que não pode interpelar, discutir ou participam das decisões nos “milagres” dos apolos.
Talvez, se retiradas as armaduras, estetoscópios e oferendas, possam conjuntamente, médico e paciente criar uma genuína relação de troca, baseada nas verdades mundanas, onde o médico adquire e fornece o conhecimento técnico, permitindo e viabilizando aos pacientes as conscientes e adequadas tomadas de decisões referentes à própria vida e bem-estar.
Certamente haverá valorização tanto do conhecimento acadêmico, prático do médico, como também sua precificação, o que o deixará mais seguro e à vontade para atuar, incorporando maior empatia, e acolhimento, e o paciente mais confortável, podendo sentir-se seguro na aderência ao tratamento por ele também delineado.
Simetria, equilíbrio, simbiose!
Fonte: Revista Universo Visual