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Os papos viraram um podcast chamado Rx: por dentro da sua próxima receita medica, e estão disponíveis em shorturl.at/lBEOR e no canal UV Podcast, em todas as plataformas de áudio.
A intenção inicial era buscar, descobrir e entender o que esta sendo pesquisado, produzido e ofertado, para tratar diversas condições, desde viroses (falei com o diretor medico da MSD) ate condições genéticas (episódio com o fundador da Genera). 
No caminho logo desviei para o “como” as propostas de intervenção eram oferecidas, e mais, o que a população aceitava ou não, como sendo “bom para ela”. Os áudios são muito ricos e diversos, mas ainda não comecei a falar de uma enorme parcela das situações, onde simplesmente não há mais cura.
E exatamente com esse titulo (a cura) foi batizado o espetáculo maravilhoso de Deborah Colker (https://www.youtube.com/watch?v=4wtb_eDgFaY) que assisti presencialmente nesse mês. 
A história por trás do espetáculo remete ao neto Théo Colker, com uma condição chamada Epidermólise Bolhosa, que faz com que a pele não se mantenha aderida, causando bolhas e descamação, com feridas constantes.
Théo narra uma linda história da religiosidade africana na abertura das cortinas, e a dança forte, viva, rápida, nos leva junto na jornada que procura a biotecnologia para refazer a adesão da derme a sua membrana basal. Sem sucesso.
Com ataduras, repulsas e acolhimento, os bailarinos ilustram o som marcado, enorme, que enche o teatro e nos leva para longe da realidade das prescrições, das farmácias, em direção as tribos, ao espírito.
Muitas vezes a simples resignação, sem ódio, sem reação, não é possível quando a dor é forte e constante. Precisamos de ajuda externa! Não sou religioso, e digo que minha igreja é a da razão. Acredito em poucas coisas que não consigo enxergar, a arte é uma delas. Aqui me declaro passageiro e me emociono sem precisar entender.
Na medicina aprendemos, mas só mais tarde na vida aprendemos o significado de “curar algumas vezes, aliviar quase sempre, consolar sempre . Esse ditado que na realidade não se sabe se foi criado por Hipócrates, fala sobre nossa falibilidade. Sobre aguentar o tranco, sobre pedir colo e ouvir. Sem tradução.
Sobre isso Deborah se debruça, e chama as religiões e a arte – ouçam a musica You Want it Darker de Leonard Cohen – para gritar, para não se conformar. Especificamente na letra de Cohen, ouvimos o sofrimento de Abrahão quando D eus pede seu filho Isaac em sacrifício. Não é justo! Mas aqui estou. 
Sofremos perdas irreparáveis na pandemia. Vamos continuar consolando parentes e amigos, e sendo acolhidos quando os nossos queridos se vão. Vamos explicar os porquês, vamos colocar no concreto como estava sendo cuidado e o que houve durante a internação de um medico próximo ou de um paciente mais próximo ainda, que se foi.
Vamos continuar pesquisando, mudando genes, validando a entrada de novos medicamentos no SUS, e pagando remédios de alto custo para doenças raras. A ciência e desenvolvimento estão do nosso lado (na maior parte das vezes), mas não encerram o entendimento que precisamos, do imponderável, do que não controlamos, e muitas vezes tememos.
Emoção e arte. Porções nunca estudadas na faculdade, e ausente de congressos médicos, provavelmente respondem pela maioria das nossas ações do dia a dia. Com certeza explicam e apaziguam a maior parte das dores das pessoas. 
E em outro contexto fecho com as estrofes que misturam realidade de fatos e sofrimento infligido. Emoção e arte de uma época que não queremos reviver: O que não tem medida, nem nunca terá // O que não tem remédio, nem nunca terá // O que não tem receita.

Fonte: Revista Universo Visual

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