Jeanete Herzberg – administradora de empresas graduada e pós-graduada pela EAESP/FGV. Autora do livro “Sociedade e Sucessão em Clínicas Médicas”
Há uns seis anos resolvi aprender tocar clarinete. Quando criança eu havia aprendido tocar flauta doce e ao pensar em retomar o instrumento fui desafiada pelo meu professor a adotar o clarinete por suas possibilidades mais amplas de repertório.
Depois de alguns anos aprendendo, tendo aulas e estudando em casa, meu professor me convidou a participar numa banda de sopros que estava criando com seus alunos e hoje também nos acompanham bateria, piano, guitarra, baixo e violão.
Ensaiamos uma vez ao mês e duas vezes por ano nos apresentamos para quem quiser nos ouvir, em evento da própria escola de música. Também já tocamos em outros lugares como escolas e clubes.
É diversão garantida para os componentes da banda e para o público que assiste, especialmente ao saber de que se trata de um grupo absolutamente amador e que toca por puro prazer.
O processo de estudo individual, aprender a ler as notas da partitura e transformá-las em posições dos dedos no instrumento, aprender a assoprar no bocal com a palheta (sistema bastante diferente que numa flauta), tocar essas notas e depois, em grupo, transformar tudo num ritmo e sonoridade agradáveis aos ouvintes é um tremendo desafio!
Mas, o que isso tudo tem a ver com consultórios e clínicas oftalmológicas?
Analogamente ao aprendizado de um instrumento musical, os médicos se graduam em suas áreas, se especializam e vão trabalhar em carreira solo ou em grupo. Diferentemente de nós, amadores na música, eles são profissionais gerindo seus negócios e suas carreiras.
O sócio de uma clínica ou consultório, assim como nosso maestro, administra o grupo todo e é responsável pelo desempenho no atendimento aos pacientes, assim como por tudo o que acontece na clínica.
Imaginem o que aconteceria se o grupo de músicos estiver no local e hora marcados para a apresentação, mas não tivessem seus instrumentos? Ou se as partituras não fossem as corretas para o repertório a ser tocado? Ou se a sala não estivesse preparada para receber o público? Ou ainda se nós nunca tivéssemos ensaiado?
Cada músico pode tocar brilhantemente seu instrumento, mas isso não garantirá que o grupo ofereça, no conjunto, um som agradável de ser ouvido, para aquele público que veio assistir.
O sócio de uma clínica oftalmológica, deve conhecer profundamente cada aspecto de sua clínica, assim como nosso maestro no caso da banda. Desde assuntos que não são vistos diretamente pelo seu público alvo (pacientes e seus acompanhantes), até aqueles que se referem a outros riscos e exigências que um negócio requer.
Vejamos a alguns exemplos:
1.O sistema de marcação de consultas, exames e cirurgias está funcionando com agilidade e rapidez? Há alguns dias ouvi de um médico que comentou que queria marcar uma consulta para um amigo próximo e resolveu ligar para sua própria clínica e fazer isso por ele. Qual não foi sua surpresa ao observar que teve que ligar quatro vezes e esperar diversos toques até que alguém o atendesse! Hoje em dia, pacientes de convênios mantém sua fidelidade com quem os atendem prontamente e com qualidade em todos os pontos de contato que tem com a clínica. Caso algum ponto o decepcione, é muito simples consultar a lista de clínicas conveniadas e buscar alternativas.
2.O paciente espera muito tempo na clínica entre exames, procedimentos e consultas? Num dos congressos de oftalmologia em que participei no exterior, ouvi uma palestra sobre a preocupação que uma determinada clínica americana tinha, com o tempo que o paciente dispendia em cada visita. Descobriram que a média era de 1h30 e que de fato, em exames ou diretamente com o médico, o tempo total era de 30 minutos. Como meta de fidelização dos pacientes, alteraram alguns processos internos e reduziram esse tempo de estadia. Ganharam os pacientes, que gastam menos tempo para concluir suas visitas ao oftalmologista e também a clínica que pode atender mais pacientes, com melhor qualidade e melhor reputação no mercado.
Assim como esses aspectos apontados acima, em todas as áreas da clínica ou do consultório existem riscos e desafios que os médicos, sócios devem conhecer e buscar caminhos de solução ou melhoria. Os sócios devem liderar, coordenar e dirigir suas clínicas e consultórios.
Nas apresentações de qualquer banda, todos os instrumentistas tem as partituras da música, cada instrumento em seu tom e o maestro segue coordenando o ritmo. Mas então qual é a razão de cada banda, cada grupo ter a sua identidade, se as ferramentas são as mesmas?
A liderança, a formação e os objetivos do grupo, a qualidade exigida dos instrumentistas e seus instrumentos é que fazem a diferença. Qual é o estilo de atendimento, público alvo, especialidades que sua clínica ou consultório tem? Que qualidade de música você, como sócio, oferece aos seus pacientes: desafinada, sem ritmo e ensurdecedora, ou melódica, organizada, suave e firme?
Fonte: Universo Visual