Um artigo publicado na revista Eye em maio deste ano revisou a relação entre o olho e a Covid-19. O objetivo desta revisão foi avaliar as evidências disponíveis relacionadas à Covid-19 na prática oftalmológica.
Em relação a evidência da presença de vírus em tecidos oculares, a via nasal é a rota mais comum de entrada do SARS-CoV-2. Para facilitar a entrada na célula, a proteína Spike (S) do SARS-CoV-2 se liga ao receptor ACE2 e é preparada por proteases como a TMPRSS2 e a afinidade da ligação determina a carga viral e a gravidade da doença. No olho, ACE2 e TMPRSS2 se localizam no epitélio corneano. A conjuntivite é uma manifestação rara e a transmissão através de secreções oculares também é baixa. Foram descritos casos iniciados com conjuntivite e casos em que a conjuntivite é o único sinal da doença.
Transmissão da Covid-19 por via ocular
A rota principal de transmissão na oftalmologia é através do espalhamento do vírus via aerosol especialmente no contato próximo durante o exame ocular (definido como menor que 2 metros, durante 30 minutos). A respiração e a fala podem gerar aerosóis (partículas com menos de 1 micron). A transmissão através de fomites é possível pela viabilidade prolongada do vírus nas superfícies porém a probabilidade é muito menor. A tonometria de não contato pode gerar microaerosóis. A transmissão de vírus respiratórios no hospital pode se agravar pelo fluxo de ar inadequado, superlotação, diferenças de temperatura grandes em diferentes espaços e movimento rápido do ar.
No campo cirúrgico, a precaução deve ser ainda maior em procedimentos envolvendo o trato respiratório superior. Incluindo, desse modo, a endoscopia nasal e procedimentos lacrimais que produzem aerosóis. Existe uma falta de evidências se instrumentos cirúrgicos intraoculares seriam capazes de produzir aerosóis e não existe evidência de transmissibilidade viral de fluidos oculares ou intraoculares.
O Royal College instituiu um guideline específico para vitrectomia pars plana e facoemulsificação, que são procedimentos que empregam instrumentos com alta velocidade de corte. Nesse guideline aconselha-se a suspensão das cirurgias eletivas. Além disso, define o descolamento de retina e a catarata no contexto do descolamento de retina ou do glaucoma como procedimentos de urgência.
EPIs
Em relação aos equipamentos de proteção individual, recomenda-se o uso de máscaras durante exame e tratamento de todos os pacientes. Elas são classificadas de acordo com a eficácia do filtro e a adesão a face: PFF 1, 2 e 3 oferecem filtros com eficácia de 80%, 94% e 99%.
O FDA não recomenda o uso de máscaras cirúrgicas. Luvas, óculos de proteção e protetores de lâmpada de fenda são recomendados como equipamento de proteção individual para todos os oftalmologistas em atendimento clínico e procedimentos como a injeção intravítrea.
A OMS recomenda a lavagem das mãos e uso de álcool gel. É recomendado que todos os médicos e pacientes descontaminem suas mãos com álcool gel na chegada e na saída dos locais onde existe cuidado de outros pacientes.
A recomendação do centro europeu de prevenção e controle de doença é de uso de sabão neutro e hipoclorito de sódio 0.1% para limpeza de equipamentos. O etanol a 70% também pode ser usado. Na Inglaterra, a recomendação é de que todos os equipamentos sejam limpos com desinfetante a base de cloro, álcool 70% e outros desinfetantes alternativos que tenham proteção garantida contra vírus envelopados.
Mensagem final
A oftalmologia tem um dos maiores movimentos anuais dentro das especialidades, com muitos pacientes estando na categoria de alto risco para coronavírus. Desta forma, o distanciamento social deve ser praticado na clínica oftalmológica. Estratégias para diminuir o risco de infecção envolvem medidas administrativas como a estratificação de risco e a redução da consulta presencial. Além da utilização da telemedicina quando possível.
Fonte: PebMed