No último episódio de seu mês sabático na cidade de Londres (Reino Unido), o oftalmologista Paulo Schor, amante de música, conta as várias experiências que teve na cidade, como ida ao show dos Rolling Stones, pub com rock eletrônico, cinema com música ao vivo e muito mais. Acompanhe essa história no Podcast RX Off Label, uma iniciativa que tem como objetivo disseminar conhecimento de última mão, visitas, conversas e muitas informações valiosas.
O médico revela que Londres para ele não é a mesma sem música e essa foi uma das primeiras coisas que o atraiu à cidade em 1985, quando foi atrás do que acontecia por lá e de um espetáculo que se chamava Live Aid. “Eu não sei se vocês lembram disso, mas inúmeros artistas consagradíssimos e vários iniciantes da época, Madonna, por exemplo, tocaram nesse show, que foi no Estádio de Wembley e no Estádio John F. Kennedy (Filadélfia, EUA) simultaneamente. E alguns voaram para fazer o show nos dois lugares e, na época, foi caríssimo e eu consegui, com as economias de um mês de trabalho aqui mesmo, comprar o ingresso para ficar na pista”, relembra o especialista, comentando que foi com mais dois grandes amigos ao show e que tudo ficou fantasticamente gravado na memória.
Desta vez, conforme revela o oftalmologista, eles foram ver os Rolling Stones, dois dias depois que chegaram, no Hyde Park. “Muito mais programado, muito menos custoso, do ponto de vista monetário, pela possibilidade de fazer isso ao longo do tempo, e nós fomos ver o show dos 60 anos de carreira da banda, em um parque icônico, bastante frequentado, no centro de Londres, onde eles fizeram um show em 1969”, conta Schor. Ele diz que a festa começou antes do grupo se apresentar, com dois jovens, uma moça chamada Phoebe Bridgers e um rapaz de nome Sam Fender. “Ela era fantástica, ultraenergética, e ele, um virtuoso. Os dois já estão nas paradas de sucesso e vale a pena ficar de olho e de ouvidos bastante abertos”, avalia.
Na opinião do cirurgião, o show dos Stones foi maravilhoso e a “jovialidade” dos 80 anos dos rapazes da banda, não parando de dançar e cantar, e principalmente da plateia, com “jovens” de 40, 50, 60, 70, 80 anos, além de crianças, conhecendo a música que deu origem e inspirou várias outras bandas, foi muito contagiante. “E aí as pessoas falam ‘mas você não vai ver eles, vai ficar muito longe’, e é verdade. Mas o que faz a gente ir em show, vocês sabem, não é vê-los frente a frente, é estarmos dentro do show e, por acaso, um grande amigo, que é o Marcelo Sobrinho, um especialista em lentes de contato, também da Escola Paulista de Medicina e de Campinas, estava nessa apresentação e ele tem uma história fantástica de ir atrás de artistas”, comenta, salientando que se alguém precisar de dicas de artistas, de rock principalmente, em volta do mundo, é só perguntar para ele.
O oftalmologista diz que Sobrinho passa algumas temporadas em Nova Iorque, indo atrás de artistas que estão começando e outros já consagrados. “Nos encontramos nesse show dos Rolling Stones, tomamos cerveja, tiramos fotografia e foi ótimo”, afirma. Alguns dias após, ainda relativamente impactados pelo custo desse primeiro espetáculo, o grupo foi a um clube. “E aqui há vários clubes que são próximos aos bairros onde se está; nos pubs também têm música, mas como estamos com criança, não podemos entrar nos pubs à noite”, revela, enfatizando que apenas alguns lugares após às 18h aceitam crianças. “Mas nós conseguimos uma alforria em um dos dias e fomos a um clube de música chamado moth (traça, mofo), e era um lugar que em cima é um bar e embaixo um porão relativamente grande”, esclarece.
O médico informa que lá estava tocando uma das coisas mais surpreendentes que eles viram. “São dois compositores e músicos, um chamado Pat Mahoney e outro Dennis McNany, e o que eles fazem é um rock eletrônico. Há uma base eletrônica de teclados muito elaborada e em cima rock, com bateria, guitarra, baixo, voz, o que vocês entendem por rock, e acaba saindo uma coisa extraordinária, muitíssimo impactante, interessante e empolgante”, opina. Depois, eles decidiram revisitar um lugar muito bonito, chamado Royal Albert Hall, como se fosse a ópera de Paris ou Teatro Municipal de São Paulo ou do Rio, um lugar onde já houve desde lutas de boxe até jogos de tênis, discurso do Churchill, do Einstein e muita música, em geral clássica, que é o que eles foram atrás. “E estava passando o filme Titanic em uma tela gigante, com a orquestra fazendo as partes musicais do filme e cantores, as partes cantadas”, acrescenta Schor.
Segundo o especialista, foi um espetáculo completo, no qual o público participa com orquestra ao vivo de um filme que foi gravado há muitos anos. “Rever o filme naquele ambiente foi muito interessante, assim como também foi interessante e imperdível o musical chamado Juliet, que é uma reinterpretação da história clássica de Romeu e Julieta, em que o próprio Shakespeare faz parte de todo o cenário e a esposa dele também, é há uma inversão de toda a masculinidade dos papéis e o empoderamento feminino, sem ser piegas, com músicas e interpretações dos artistas, também muito jovens. Imperdível”, comenta. Para ele, é um show que vale a pena ficar na memória de quem puder ver.
Na sequência, eles se dirigiram a um lugar que se chama Pizza Jazz. “Tem alguns lugares de pizza jazz aqui em Londres e é mais ou menos isso mesmo, é um lugar de jazz, mas que serve pizza. A gente acha meio heresia, né? Comer pizza num lugar que toca jazz, mas funciona. E lá é um lugar que criança pode entrar”, afirma, comentando que assistiram a um grupo de funk (E-book), que ganhou o melhor show do ano em Londres. “E vale cada aplauso que eles receberam antes, durante e depois do show, e vários artistas foram chamados ao palco, cada um com um repertório mais interessante que o outro, fazendo performances, assim como nós temos músicos de funk muito bons também no Brasil, que passam um recado com suas músicas”, completa.
Outro passeio relacionado à música, imperdível para fãs, de acordo com Schor, é o tour dos Beatles. “É uma atração turística tradicional aqui, em que você passa por lugares onde aconteceram coisas na vida dos Beatles. Por exemplo, a faixa de pedestres Abbey Road, os estúdios onde foram gravadas Let it Be e Yesterday e outras músicas, a gravadora do Paul McCartney, em que por acaso tinha caído uma árvore no prédio ao lado”, pontua, salientando que o guia era um grande fã do Paul e tem uma loja que se chama Beatle Records em Londres. “E a gente entende de onde vem essa paixão e essa ligação dos ingleses com música e de onde vem a inspiração para músicas que a gente ouve hoje”, declara o médico. Ele se pergunta por que as pessoas gostam de algumas músicas e não gostam de outras e, principalmente, por que quando alguém escuta uma música, diz: “Ah, isso me lembra tal coisa.”
“A minha teoria é que se nós não registrarmos uma música como algo familiar, fica muito mais difícil de ‘encaixotar’ e falar ‘eu gosto’ ou ‘eu não gosto’. E eu acho que a gente faz bastante isso, e ouvindo Stones, funk, Beatles, dá para entender de onde vem essa familiaridade”, continua o cirurgião. Ele cita, também, a ida ao Royal Albert Hall, comentando que é possível visitar lugares mais baratos em Londres. “É só não ficar na fileira de baixo, muito perto da orquestra, dá para ver e ouvir bem. A acústica é muito boa e estando longe se consegue ingressos mais baratos e quase de última hora”, recomenda, destacando que os ingressos de última hora já não existem mais tanto como no passado. O especialista lembra que em 1985, trabalhava durante o dia e o dinheiro que ganhava era exatamente o que dava para comprar um ingresso à noite.
No concerto realizado no Hall, eles foram ver Tchaikovsky, compositor russo muito famoso por seus concertos majestosos e balés, para assistir a quarta sinfonia. “É uma sinfonia linda e percebe-se cada pedacinho das trilhas sonoras de filmes de Henry Mancini, e vários desses compositores mais atuais que, com certeza, beberam dessa veia. E viajar nessa experiência e conectar uma coisa de tanto tempo atrás, em um lugar clássico, ao que acontece hoje, é muito gostoso”, enfatiza. Para encerrar a história, o oftalmologista informa que uniu comida com música no Sketch, restaurante já comentado no podcast anterior, onde foram tomar um chá da tarde. “Tinha um trio de moças tocando violoncelo e violino e combinando muito bem com o ambiente. Era uma releitura de peças modernas, tocadas de modo clássico, que acabou sendo uma chave de ouro em toda essa viagem gastronômica, auditiva, sensorial, intelectual e física também. Recomendo muito que façam uso do seu tempo livre, que programem, que viajem e que tenham essas experiências. Sempre vale muito a pena”, finaliza Schor.