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Juliana Rosa – Médica do departamento de lentes de contato da UNIFESP; Pós graduação Lato Sensu em Córnea pela UNIFESP; Especialização em lentes de contato e refração pela UNIFESP; Residência médica em Oftalmologia pela UERJ; Graduação em Medicina pela UFRJ

 

A ambliopia está associada a maior risco de perda de visão no olho não afetado, desenvolvimento educacional menor e menos oportunidades de trabalho. O tratamento é de baixo custo e simples, envolvendo o uso de tampão no olho não afetado, principalmente em crianças. Alguns artigos recentes mostram que a plasticidade neuronal presente em crianças pode ser facilitada em adultos pela restrição calórica. A restrição calórica, principalmente através do jejum intermitente, aumenta a plasticidade neuronal e a resistência aos produtos oxidativos. Os estudos mostram que crianças com ambliopia tem IMC alto se comparadas às outras, sugerindo que a grande ingestão calórica pode predispor à ambliopia.
Ambliopia e status nutricional
Os tecidos oculares contem grande concentração de minerais que desempenham um importante papel no funcionamento normal do sistema visual. Vitamina B12 e folato são necessários para síntese de DNA e divisão celular. B12 é necessária para mielinização neuronal e regeneração de terminais nervosos motores, redução da toxicidade do glutamato e melhora a condução nervosa. A conclusão é que vitamina B12 e folato são essenciais para o desenvolvimento cerebral.
Foi publicado estudo turco nos arquivos brasileiros de oftalmologia que avaliou as concentrações de folato, B12 e elementos inorgânicos em amostras de cabelo de crianças amblíopes e controles e comparados também os dados antropométricos e IMC.
O estudo foi realizado no departamento de oftalmopediatra da Universidade de Kocaeli na turquia, incluindo 32 crianças saudáveis e 46 crianças com ambliopia de 5 a 18 anos.
A ambliopia foi definida com uma diferença de pelo menos duas linhas de visão na tabela de Snellen sem doença orgânica, sendo categorizada em leve (AVe”0.6), moderada (AV <0.6 e e”0.25), ou grave (AV <0.25).
Em relação à média do IMC, ela foi maior nas crianças com ambliopia grave (18.00 [16.80-21.05]) e menor na ambliopia leve (16.30 [14.22-19.40]). A concentração de vitamina B12 mostrou diferença estatística significativa entre os grupos de ambliopia subdivididos por gravidade e o grupo controle Não houve diferença entre as concentrações de folato. A média de B12 e folato era menor nos pacientes com ambliopia grave e maior nos com ambliopia leve.
A concentração de P, Se, Mo, I, Cr, B, and Be nas crianças amblíopes era significativamente menor que no grupo controle. A concentração de Se, Mo, I, B, and Be também foi estatisticamente diferente entre os grupos subdividos em gravidade e o grupo controle. Apesar das associações recentes entre ambliopia e IMC aumentado, os resultados nesse estudo não são consistentes provavelmente pelo pequeno tamanho da amostra.
As médias de B12 e folato também diminuíram conforme aumentava a gravidade da ambliopia mas provavelmente devido ao pequeno grupo é difícil comprovar essa relação. Os níveis de Mg e Ca em crianças amblíopes foi maior que nos controles porém sem significância estatística. O magnésio bloqueia o receptor de NMDA e o cálcio causa neurotoxicidade através dos receptores de NMDA. O desenvolvimento visual inclui a ativação de receptores NMDA, o que é inibido em altas concentrações de magnésio. A relação entre Ca, Mg, NMDA e ambliopia é discutida em artigos recentes.
O boro e o selênio são importantes elementos do mecanismo de defesa antioxidante. Neste estudo apresentaram níveis significativamente baixos nos pacientes amblíopes. Artigos recentes mostram que a deficiência de molibdênio pode levar ao hipotireoidismo. Nas crianças com ambliopia existe uma diminuição desse elemento. Estudos são necessários para determinar se existe alguma relação entre função tireoidiana e ambliopia.
A conclusão do artigo é que crianças amblíopes podem ter baixos níveis de selênio, iodo, boro, molibdênio e berílio, sugerindo que possa haver anormalidade no desenvolvimento visual por estresse oxidativo excessivo, hipotireoidismo ou ambos. Dessa forma os oftalmopediatras devem considerar o status nutricional nos diagnósticos de ambliopia.

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