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Luiz Formentin – Supervisor do programa de residência de oftalmologia do Hospital Santo Amaro- Guarujá; Chefe do setor de lentes de contato e refração da UNIFESP
Introdução
Se considerarmos o período de menos de um século, vamos de uma expectativa de vida de 40 anos para uma de quase 80 anos, com consequente aumento exponencial de pacientes présbitas.
Na progressão da presbiopia, a história clássica é iniciar com o uso eventual de correção para perto, caminhando para uma dependência dos óculos de perto e frequentemente de longe também, ou porque já usava ou por uma condição nova.
A partir do momento estão mais dependentes, muitos pacientes, por motivos variados, desde profissionais até estéticos, procuram a possibilidade de correção alternativa aos óculos, como cirurgia ou lentes de contato.
Condução dos casos
Para quem já usa lentes de contato para longe, a primeira hipótese é fazer uma pequena compensação refrativa, com ligeira piora da acuidade visual (AV) para longe e melhora de perto. Como este procedimento é limitado, após certo tempo outras alternativas têm de ser pensadas. Para uma AV máxima em pacientes exigentes o uso de lentes de contato para longe e óculos para perto é uma opção utilizada. Para paciente que desejam ficar sem os óculos o tempo todo, temos a visão em báscula, quando um olho está otimizado para longe e o outro para perto ou a visão em báscula modificada, em que um dos olhos recebe uma lente multifocal e o outro uma monofocal.
Quanto as lentes de contato multifocais utilizadas, podemos dividir, quanto a parte óptica, em dois grupos, o das lentes multifocais de visão simultânea e o das lentes de visão alternante.
Opticamente as lentes de contato multifocais de visão simultânea se caracterizam por desviarem os raios de luz incidentes nos olhos, de forma que parte da luz, olhando perto ou longe esteja focalizada na retina, por outro lado parte de luz fica fora de foco. Este sistema exige certa neuro-adaptação para seu melhor aproveitamento, mas haverá alguma perda devido a divisão da luz. Por outro lado, suas lentes devem ter movimentos limitado e bem centralizadas para melhor aproveitamento. O mais comum destas lentes é serem gelatinosas, o que facilita a adaptação com excelente e imediato conforto.
Lente de contato multifocais de visão alternante tem sua óptica semelhante aos óculos multifocais, com suas respectivas áreas de visão para longe, meia distância e perto. Neste sistema os raios de luz que chegam ao olho irão para um único foco na retina, portanto sem perdas. Estas lentes precisam se movimentar no olho para alternar a distância focal. 
Vamos focalizar neste texto no modelo Expert Progressive, uma lente de visão alternante fabricada pela Solótica. Este modelo é de uma lente Rígida Gás Permeável (RGP) com desenho semelhante ao de um óculos multifocal e necessita do translado da lente sobre a superfície ocular. Na sua construção temos um encaixe para a pálpebra e um prisma de estabilização na região inferior. A lente tem duas marcas no eixo de 180o que indicam o início da área de progressão para o foco de meia distância e perto.  Tem também uma marcação na região superior que serve de orientação quanto a sua rotação.
Vamos agora escrever um pouco sobre sua prática de adaptação. Este modelo de lente pode corrigir miopias e hipermetropias, mesmo elevadas e devido ao filme lacrimal corrige também astigmatismos, especialmente os de leve a moderados, até cerca de 3d, além de astigmatismo irregulares e assimétricos de monta limitada. Sua adição pode variar de 1 a 3,50 dioptrias e como este poder estará na parte inferior da lente a adição, mesmo elevada, não interfere na AV de longe.
Após a consulta completa, vamos olhar as curvas da topografia, e vamos escolher a primeira lente de teste seguindo o guia ou colocando a lente cerca de 0.5 d mais apertada que K. na caixa de provas temos lentes com poder positivo e negativo, com intervalos de apenas 0.25 e convém escolher a mais próxima da refração do paciente. Se necessitar deixamos para o final testar uma lente de outra curva com poder diverso.
O padrão ideal é uma lente levemente descentrada inferior, com a marca de início de progressão abaixo da linha pupilar inferior, sem rotação ou com o prisma girando para nasal (Figura 1). Além disto ao olhar para baixo a lente deve trasladar de forma que sua borda superior avance até sobre o limbo superior (Figura 2).
Ajustes mais comuns
– Lente sempre inferior: tentar mais plana
– Lente sempre superior: tentar lente mais justa
– Início da área de progressão alta: pode pedir para descer a área de progressão em até 0.7mm, outra opção é pedir uma lente de diâmetro menor.
– A lente gira com o prisma para temporal ou fica instável: tentar uma lente mais justa e como alternativa ou adicionalmente pedir um reforço no prisma 
Limites e dificuldades
– Devido a ser uma lente RGP, se o paciente não estiver acostumado com este material sentirá certo desconforto inicial. Sugerimos para paciente que vão usar lentes RGP pela primeira vez, usar colírio anestésico para o início do teste e depois manter o paciente no aguardo ao menos por cerca de 40 minutos para avaliar sua tolerância.
– Para o paciente entender e perceber melhor a performance visual é conveniente fazer a sobre refração e colocá-la em uma armação de provas. Neste momento também verificamos se adição padrão da caixa de provas que é 1.75 é suficiente ou precisa mudar colocando lentes adicionais até a AV esperada para perto.
– Pacientes que desejam lentes multifocais para uso ocasional, deverão preferir as multifocais gelatinosas, que são de visão simultânea, pois neste caso uma certa redução da capacidade visual não terá muita influência, como nos casos de ir a academia ou restaurante e o conforto é imediato.
– A Expert é projetada para o uso constante para um máximo de conforto e adaptação, não sendo recomendada para uso “social somente, por outro lado gostarão desta lente os pacientes que queiram substituir os óculos no seu dia a dia mantendo, ou melhorando a acuidade visual.  
Conclusões
A lente Expert progressive traz como novidades a correção da presbiopia com sistema de visão alternante, portanto mantendo todo o potencial de visão do paciente, e ainda com a possibilidade de corrigir astigmatismos da superfície anterior da córnea.
Referências bibliográficas
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5.Thompson L, Ji M, Rokers B, Rosenberg A. Contributions of Binocular an Monocular Cues to motion-in-depth perception. Journal of Vision (2019) 19 (3): 2, 1-16
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Fonte: Universo Visual

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