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E as respostas variaram e permanecem variando enormemente, independente do grande trajeto já percorrido, de bombeiro, astronauta, médico, a presidente, ator. Entendo que a questão tem órbita estabelecida na aflição do afeto de quem pergunta, mostrando preocupação com o bem estar do outro, mas pode trazer junto angústia e tensão.

Com minha família aprendi a visitar museus e cidades “ticando” as atrações: menos uma e os objetivos suplantavam enormemente os meios. A “linha de chegada” na maioria das vezes escondia o brilho e os prazeres no caminho. Nesta temática se encontra a “ética consequencialista”, tão óbvia para os céticos cientistas (como eu), que suportam o caminho, se houver uma razão final bastante razoável, de onde chegar, e de preferência a que horas, é obrigação, consequência óbvia e linear. Relativizei e sublimei a tal angústia e tensão ao longo de grande parte do caminho.
A rigidez mental, apreço pelo intelecto, dificuldade de “perder tempo” nas academias, acompanha tais personalidades, que tem por outro lado extrema facilidade para debater, convencer e persistir. Extrema resiliência! E esse comportamento é socialmente justificado, pois o oposto vem travestido de leviano,  irresponsável, á toa, por vezes herdeiro ou miserável.
Acontece que, entre outras coisas, quando se “chega” ao objetivo tão bem definido, o “gosto” já não é o mesmo, a intensidade se esvaece e o brilho& o brilho! Como o cachorro latindo que alcança o carro.
E agora faz o que com o automóvel atingido?
O leme firme nos leva a objetivos estratégicos e certeiros, e a sociedade nos ajuda a manter a grande auto- cobrança pelas entregas, metas, produção. Com o tempo nos tornamos habilidosos motoristas que nem enjoo provoca nos passageiros do carro, que bocejam e dormem por falta de estímulo. Domamos magistralmente o gostoso “dançar das curvas”.
Não há escolha necessária e nem visão de que vale a pena pegar uma estrada mais tortuosa, ou sair amanhã, depois da chuva. A tal “zona de conforto” nos protege e nos faz enxergar a meta, sempre a meta ã frente dos olhos.
Cercamo-nos de iguais, mantendo a coerência, monocromaticidade, unidirecionalidade& como um laser! Foco único, interferência construtiva, energia potencializada.
Mas é claro que devo desafiar esse estado, que o “onde quero chegar nesta vida me impele e me atira violentamente para esta busca e me encontro exatamente nesta encruzilhada da base firme e manobras ousadas”.
Deixando a calma marola e nadando de encontro a enormes mas belíssimas e sedutoras ondas. Onde precisamos de fôlego, momentos de apnéia, concentração e persistência, predicativos tão treinados no nosso meio, para atravessar pontes e agora grande flexibilidade para ouvir o outro, olhar o brilho e dançar com as curvas. Aprender momentos de nadar contra e outras de surfar nas ondas&
Esse lugar se chama de empreendedorismo científico.
Aqui os saberes das ciências duras (hard sciences), têm sabores realçados pela demanda individual, social, de mercado e governo.
O papel da física, química e biologia demonstram-se fundamental para o sucesso de empresas nascentes (startups). Vemos uma relação direta e significante, entre a presença de profissionais dessas áreas e a primeira venda.
Tenho convivido muito com pesquisadores que entram ou estão no mundo do empreendedorismo e inovação, e esse mergulho revela a necessidade de equilíbrio e entendimento de um mundo regido pela batuta da ciência. Imutável, mas absorvendo e se fortalecendo nas ondas e curvas. Cercado de dados e hipóteses, com probabilidades calculadas (e crives) de realidade, e do outro a grande exigência de conceitos como falha rápida, mudança de paradigmas, ouvir o cliente e pivotagem.
Os inovadores precisam não somente entender, mas se movimentar e agir, no meio deste emaranhado. A boa notícia é que temos algumas indicações de quem já passou por ai, e até teorias que tem dado certo nesse cenário.
Especificamente a figura dos mentores e a ideia da centralidade no usuário, que também conhecida por design thinking e tenho chamado no nosso meio de design médico, demanda que se ouça sem pré – conceito, quase que de “cabeça oca”, como traduziu, na nossa ultima conversa, o amigo Wellington Nogueira, dos doutores da alegria.
Pela escuta ativa, interessada, integrada. Conseguimos a empatia, e nas interações com pacientes, investidores, colaboradores, filhas e esposas, entendemos e nos fazemos entender. Mudamos e somos mudados. Esculpimos, não só pintamos!
Do outro lado, mas de modo potencializador, temos o conhecimento e pesquisa bem alicerçados que dão conta de mudanças de rumo sem muitos sustos, base sólida que garante a continuidade de uma linha de pensamento sem o pânico de perder a “preciosidade”. Passaporte que permite a “ousadia” de outros voos.
Na agenda de inovação vemos mentes brilhantes se alicerçando em uma só ideia. Fixa, pregada, imutável, inflexível! Diz-se que não existe ideia ruim, e talvez por isso, os inventores se apaixonam e ficam “cegos com uma proposta única.
Com brilho nos olhos convencem facilmente parceiros a embarcarem na viajem de um sonho só. Como cantava o velho Raul: sonhar junto vira realidade… Pois é!
A partir daqui começa um trabalho delicado e fundamental, e encantador de destruição construtiva. Aprimorar o conceito, mantendo foco, sem deixar de ver outras possibilidades. Permitir a entrada de inputs. Parece bem contraditório. Como aprimorar um protótipo, uma solução, que fica mudando a cada nova entrevista? Quando parar de perguntar?
A resposta clara é “nunca”, mas perguntar não significa não caminhar, e esse deve ser o papel do ecossistema de inovação bem estruturado, com mentores equilibrados e atualizados, mesmo porque, a melhor proteção é estar à frente da competição, pensando e trabalhando em novas versões e funcionalidades, ao mesmo tempo entregando soluções relevantes.
Tudo isso veste perfeitamente não só a academia e inovação, mas SIM cada médico, veste você no seu dia a dia. Novos consultórios, cargos em corporações e mudanças de técnicas cirúrgicas também passam por esse processo de avaliação “dura e visão estratégica.
Conseguimos mudar de rumo com suavidade se tivermos vento constante, conhecido, dominado pela experiência. Não se veleja contra o vento, a não ser cortando-o, ziguezagueando, com bordos, ou mudanças de direção. Essa também é a grande diversão sobre as motos, em curvas.
Procuramos essa complementaridade do destino e das estradas perfeitas, o prazer e a coragem pela constante mudança nos acompanha. O fim é também o caminho.

Fonte: Revista Universo Visual

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