A principal indicação das lentes intraoculares fácicas é na correção das altas ametropias, com inúmeras vantagens. Estas lentes são consideradas muito seguras e com baixas taxas de complicações, devido ao seu aperfeiçoamento nos últimos anos, e existem diversos modelos disponíveis no mercado. A escolha mais adequada para cada paciente depende dos resultados dos exames pré-operatórios.
Segundo Milton Yogi, coordenador do Grupo de Óptica Cirúrgica MY/Learning e ex-chefe da Catarata da UNIFESP e Instituto da Visão/IPEPO, as lentes intraoculares fácicas são indicadas para pacientes com altas ametropias, que possuem alguma contraindicação aos procedimentos fotorrefrativos (seja por irregularidades corneanas ou pela magnitude da ametropia). “Essas lentes permitem a correção de ametropias mais altas do que o laser, pelo fato de não necessitar de ablação corneana. Dessa forma, temos uma alta previsibilidade do resultado final, com uma estabilidade refracional em longo prazo – estabilidade esta alcançada nos primeiros dias após a cirurgia”, aponta o especialista.
Conforme explica Thayana Darab Rettor, oftalmologista especializada em Catarata pela Irmandade Santa Casa de Misericórdia de São Paulo e especialista em Lentes Fácicas – Grupo de Óptica Cirúrgica MY/Learning, o implante da lente fácica é um procedimento reversível e proporciona ao paciente uma excelente qualidade de visão, devido a lente estar posicionada mais próxima ao ponto nodal do olho. “Também não temos prejuízo para a acomodação do paciente, o que é muito importante, pois geralmente são pacientes jovens”, revela a oftalmologista.
Ela comenta que com os modelos de lentes fácicas de câmara posterior que possuem orifício central também não há a necessidade de realização de iridectomia. “No Brasil, há a comercialização de quatro lentes intraoculares fácicas, sendo duas de câmara anterior com fixação iriana (Artisan® e Artiflex®) e duas de câmara posterior (Visian ICL™ e Eyecryl Phakic)”, afirma, salientando que devido a alta previsibilidade dos cálculos e resultado final, a cirurgia é bastante segura e com grande satisfação do paciente no pós-operatório.
De acordo com Yogi, além da segurança, as lentes fácicas possuem baixo índice de complicações, devido ao aperfeiçoamento nas especificações das lentes nos últimos anos. “Com a precisão dos cálculos de tamanho da lente, podemos diminuir o risco de complicações e oferecer ao paciente um procedimento eficaz e seguro”, esclarece o oftalmologista, ressaltando que, por não depender de remodelamento e cicatrização corneana e não necessitar de ablação, o procedimento pode ser facilmente revertido quando necessário. “Também não há interferência no cálculo da biometria deste paciente”, acrescenta o especialista.
No que diz respeito às lentes fácicas de câmara posterior, Thayana diz que existe a possibilidade de medir com precisão a localização correta da lente no sulco ciliar através do valor do Vault (medida da face posterior da lente até a face anterior do cristalino). “O posicionamento correto (entre 250 e 750 micras) permite que a lente permaneça a uma distância segura do cristalino e da íris, reduzindo o índice de complicações”, pontua a médica.
Em relação às possíveis complicações, Yogi observa que as lentes podem estar associadas a perda endotelial, dispersão pigmentar, toque cristaliniano com formação de catarata, aumento de pressão intraocular e bloqueio pupilar. “A catarata mais comumente associada ao implante de lentes fácicas é a opacidade subcapsular anterior, que na maioria dos pacientes pode ser não progressiva e não atrapalhar a qualidade visual. Pode estar associada ao toque cristaliniano durante o procedimento cirúrgico ou por toque tardio quando a lente está mal posicionada e apresentando um Vault abaixo do esperado”, esclarece.
Entretanto, com a tecnologia de orifício central nas lentes de câmara posterior, ele declara que houve uma melhora do fluxo de humor aquoso, com adequada nutrição do cristalino, diminuindo consideravelmente o índice de catarata em longo prazo. “Com essas lentes, também podemos ter um risco aumentado de fechamento angular e bloqueio pupilar quando a lente escolhida é maior do que o necessário para este paciente”, avalia o oftalmologista.
Para Thayana, essas complicações podem ser evitadas com o cálculo correto do tamanho das lentes, visto que são associadas a Vault elevado (quando a lente é maior do que o necessário) e Vault baixo (com lentes pequenas para o paciente). O cálculo preciso deve ser realizado com medidas corretas e confiáveis de WTW e ACD. “A maior parte das complicações pode ser evitada com um cálculo preciso e correto da lente”, informa a especialista, destacando que há também uma perda endotelial que deve ser considerada em longo prazo. “O percentual de perda celular é maior nas lentes de câmara anterior do que nas lentes posicionadas no sulco ciliar”, completa.
A perda de células, segundo Yogi, pode ocorrer de forma aguda durante o ato cirúrgico e de forma crônica devido a presença da lente. “Para evitar esta complicação, devemos considerar um mínimo de contagem endotelial de acordo com a idade do paciente (que pode variar de 2.000 a 2.800 cél/mm³ – deve ser maior quanto mais jovem o paciente). Quando há formação de catarata ou perda endotelial severa, devemos realizar o explante da lente”, conclui o médico.