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Paulo Schor – Diretor de Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico da Unifesp e Professor-Chefe do Setor de Óptica Cirúrgica da Escola Paulista de Medicina.
Os filmes deveriam ser esquecidos completamente, pois serviriam, de novo, para pensarmos em cada fase da vida, de modo diferente.
Me dou conta de revisitar mentalmente Wim Wenders de 15 em 15 anos aproximadamente. Paris, Texas em 84, Buena Vista em 99 e agora Submergence. E ontem à noite a busca pela “capa da Nature” me fascinou nesse seu último trabalho. Trata-se de um rally, um endurance, de um lado voltado a salvar o mundo do terror, e do outro a iluminar o desconhecido com a ciência. Vou aqui pelo segundo caminho, trilhado no filme pela atriz sueca Alicia Vikander, a nova Lara Croft, e atriz principal nessa história de J.M. Ledgard.
Danielle (Alicia) mergulha fundo no que acredita, e aceita correr o risco de não voltar à superfície. Me tocou profundamente a descrição e incorporação do investigador e pesquisador nessa narrativa. Alguém que busca apaixonadamente o desconhecido, quer respostas para dúvidas que tem (sabe as perguntas), e se arrisca. Toma fôlego na zona de conforto e parte consciente e com medo. Esse cenário atrai, motiva e contamina, exatamente o que parece faltar (ou ser a razão da busca) a muitos acadêmicos (estudantes ou professores) de hoje em dia.
A ciência é um vício. Ela revela o desconfiado, curioso, irrequieto de cada um de nós, e acaba recompensando com pouquíssimo dinheiro e alguma fama (efêmera em geral). Persistência e crítica são atributos absolutos dos cientistas, que são atraídos por desafios. Me encaixo nessa novela e acho que por isso respondi no ano passado ao chamado do Professor Esper Carvalheiro, ex-presidente do CNPQ, e atual pró-reitor, para assumir a gestão da coordenação de pesquisa da Unifesp.
A pesquisa está hoje sendo defendida pela comunidade acadêmica. Há uma corrente que pergunta por que gastamos com isso quando podemos importar soluções. Sou da opinião de que só poderemos escolher o país e o futuro se formos menos dependentes.
Um enorme desafio na área da pesquisa nacional é ir mais fundo e arriscar mais, trazendo respostas radicalmente diferentes, e não incrementais, como temos feito há algumas décadas. O Brasil publica muito, mas impacta pouco. Nossa relevância mundial é baixa, e vários movimentos podem e estão sendo feitos, inclusive por nós, nessa coordenadoria.
Estamos identificando parcerias improváveis e, inspirados em experiências internacionais, propondo editais internos para grupos que nunca colaboraram, como forma de fomentar estudos interdisciplinares. Aproveitamos oportunidades como o capes-print, para internacionalização, de modo a unir pesquisadores em torno de temas como inflamação, oncologia, big data, e a partir desses encontros esperamos que nasçam propostas que possam ser aproveitadas em projetos temáticos institucionais.
Ao lado da escuta a partir da comunidade (interna e externa), devemos buscar ativamente linhas de pesquisa que se complementem, e montar uma árvore do conhecimento institucional, usando desde palavras-chave em artigos publicados, até web semântica nos grupos de pesquisa declarados no CNPq e Lattes. É um trabalho fantástico e entusiasmante. Garimpo e visão de longo prazo. Razão de estar e acreditar na universidade!

Fonte: Universo Visual

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