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Paulo Schor – Diretor de Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico da Unifesp e Professor Chefe do Setor de Óptica Cirúrgica da Escola Paulista de Medicina.
DRL é o acrônimo de “daytime running lamp”, ou “daytime running light”. Um sistema que faz com que o carro ou moto emita luz ao seu redor, e chame atenção para ser visto por outros veículos ou pedestres. Tal sistema é lei em diversos países, onde as montadoras automatizam o acendimento desses “LEDs” quando o carro é ligado. Vários estudos mostram que há redução do número de acidentes em até 15% quando o sistema está presente, e no Brasil a legislação está em discussão. Os argumentos contra a medida existem, e incluem a dispersão da atenção e o pequeno aumento do contraste em países tropicais. Não existem estatísticas do aumento do número de acidentes com a implantação do DRL.
A discussão acima ilustra o poder se ser visto e traz o conceito de contraste à tona. Trabalhamos com essas sensações o tempo todo, mas pouco paramos para entender e contextualizar esses fenômenos. Quem tem a função visual perfeita (incluindo vias ópticas e cognição), se define como cego ao ser colocado num quarto totalmente branco. Sem diferença entre um “fundo” e um objeto, não há o sentimento da visão.
Aparentemente a baixa sensibilidade visual ao contraste se correlaciona a insatisfação visual. É exatamente o que faz com que pacientes com vícios refrativos (que não querem se valer de próteses) procurem a cirurgia, ou que deteriora a vida de pacientes com catarata. Nesses dois casos temos uma diminuição do contraste por motivos diferentes. No primeiro, a refração desajustada da luz projeta um cone desorganizado sobre uma imagem central, degradando-a. No segundo, é a dispersão luminosa que diminui o contraste da imagem principal, e o paciente relata haver uma “nuvem” na frente dos olhos.
No limite, a diminuição do contraste leva à perda de identificação dos objetos, e no nosso dia a dia se reflete em perda quantitativa de linhas de visão, mas antes disso há sempre perda qualitativa, por vezes pouco valorizada pelos médicos. Ler à luz de velas não faz “mal para a vista”, mas ler com bastante luz é mais agradável. O fundo branco ressalta, e o contraste aumenta. Dispositivos como o “Kindle” podem ser entendidos deste ponto de vista. Trazem sua luz própria, que mantém o alto-contraste, diminuindo inclusive os sintomas da presbiopia durante seu uso.
Na contramão automobilística temos o uso das películas do tipo “insulfilm”. Há evidente diminuição do contraste e óbvio aumento do tempo de reação frente a imprevistos. Se não identificamos um objeto a longa distância, aumentaremos o tempo até tomarmos uma atitude. Escurecer o interior do carro para não ser visto (e o argumento de que esse anonimato traria proteção em uma sociedade violenta como a nossa) faz com que não vejamos. O equilíbrio entre ver e ser visto segue neste caso a terceira lei de Newton. Não há escapatória no mundo natural.

Fonte: Universo Visual

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