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Paulo Schor – Diretor de Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico da Unifesp e Professor Chefe do Setor de Óptica Cirúrgica da Escola Paulista de Medicina.
Sendo colaborador da revista Universo Visual há alguns anos, sugeri ao amigo e publisher Flavio Bitelman uma coluna que oferecesse um olhar diferente sobre temas cotidianos na prática oftalmológica.
Com sua generosidade e gentileza únicas, Flavio e o editor clínico da revista, meu colega Marcos Ávila, abriram espaço para a coluna “Ponto de Vista”, que irá, a cada edição, explorar criticamente as condutas, tecnologias, tendências e inovações no nosso ambiente profissional.
Inauguramos hoje a seção com o tema: tempo de consulta.
Quanto tempo deve durar uma consulta médica? Essa pergunta carrega inúmeros significados…
Quando calculamos 15 minutos por consulta, ao contratar um profissional para trabalhar junto a uma empresa de saúde, julgamos que a média de tempo para a solução de um problema seja esse. Devemos utilizar retornos e outros meios de comunicação, se necessário, para complementar casos crônicos mais demorados, e em certas ocasiões podemos marcar duas ou três consultas para o mesmo paciente. Parece uma ótima ideia ter os minutos como moeda, no caso de consultas. Convido vocês a pensar se é uma ideia usar os minutos como moeda, no caso das cirurgias?
As nossas consultas têm uma sistematização algo rígida, com anamnese, exame, raciocínio diagnóstico e discussão terapêutica com o paciente. Médicos treinados pelo tempo têm agilidade maior em todas as fases da consulta, e poderiam em tese realizar consultas em menos tempo, mas frequentemente vemos o contrário. São jovens correndo, e seniores demorando. Por que será? Certamente não é pela porção técnica envolvida na consulta. Os profissionais mais experientes entendem o problema dos pacientes quando os mesmos atravessam a porta e são cumprimentados, mas levam mais tempo discutindo aspectos gerais da condição do doente. Parece-me que esse acolhimento aprendido ao longo dos anos é a arte da medicina. A atenção a detalhes, explicação didática e paciência com dúvidas fazem muita diferença em situações mais tensas. Pré-operatórios e pós-operatórios são exemplos clássicos, onde o tempo deve ser mais elástico e as perguntas estimuladas.
Uma condição que se revelou com o avanço da tecnologia é a da “anestesia verbal”, que consiste em tranquilizar o paciente durante os procedimentos. Mesmo durante tonometrias, utilizamos tal prática, e sabemos que se o paciente for conhecido e se sentir à vontade com o médico, haverá menos resistência e portanto menos movimento. Operar um paciente que nunca vimos carrega essa dose extra de estresse de ambos os lados, e deve ser evitado. O tempo de familiarização conta como anestésico verbal, facilitando até o ato cirúrgico. Certamente “ganhamos tempo” e principalmente qualidade, “perdendo tempo” antes ou depois dos procedimentos.
Um colega nosso diz que durante o ato cirúrgico o olho não pode “perceber que foi operado”, e embora correr não seja o foco, ser objetivo sem “perder tempo” é uma meta operatória de todos nós. Mas após a cirurgia devemos voltar a ter “todo o tempo do mundo”, e acolher o paciente, novamente fragilizado. Ferramentas como mensagens de texto ou e-mail são fantásticas se bem utilizadas, e ligações telefônicas podem ser úteis, embora demandem ambiente específico para ser realizadas com sucesso. O tempo de deslocamento, do retorno e espera tem sido reduzido por essas ferramentas digitais.
A mitologia grega não coloca o tempo no patamar dos deuses, mas de uma entidade separada, com lógica própria. Acima de tudo e todos. O manejo do tempo é um desafio que pode ser avassalador ou libertador. Não teime com o tempo. Aprenda com ele.

Fonte: Universo Visual

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