A iniciativa “De Olhos para o Futuro”, promovida pela Associação Brasileira das Ligas Acadêmicas de Oftalmologia (ABLAO), em parceria com a Phelcom Technologies e com o apoio do Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO), convida estudantes interessados na carreira oftalmológica a desenvolver projetos voltados à promoção da saúde visual em comunidades vulneráveis, utilizando tecnologia e educação médica como ferramentas.
A ABLAO tem como missão promover o desenvolvimento acadêmico das Ligas de Oftalmologia, incentivando o ensino, a pesquisa e as atividades de extensão. Alinhada a esse propósito, a Phelcom busca contribuir com a prevenção da cegueira e da perda visual irreversível por meio da tecnologia. Com objetivos complementares, as duas instituições uniram forças para criar um projeto que oferece experiências práticas de triagem, promove a conscientização sobre acessibilidade no atendimento e fortalece a confiança dos estudantes no exercício da profissão.
“O concurso agrega muito na formação dos estudantes de medicina. Poucas faculdades incluem oftalmologia no currículo e, mesmo quando há a disciplina, o ensino costuma ser superficial, com poucas aulas e mínima prática. O projeto surge como uma alternativa para que os alunos interessados na área tenham contato maior com a especialidade e com tecnologia inovadoras, como o Eyer”, relata Isabela Negrine, presidente em exercício da ABLAO.
3º lugar: Faculdade de Medicina do ABC – “Programa de Rastreio de Retinopatia Diabética na Região do ABC
Dinâmica do concurso
Para participar do concurso, as ligas acadêmicas devem propor um projeto voltado à redução da cegueira causada por doenças do segmento posterior, por meio de exames de fundo de olho, telemedicina e inteligência artificial.
Os 10 projetos selecionados por uma banca composta por membros indicados pela ABLAO e pelo CBO recebem duas unidades do retinógrafo portátil Eyer, com acesso ao sistema de inteligência artificial EyerMaps e à plataforma em nuvem EyerCloud para viabilizar as ações propostas. Com esses recursos, os estudantes conseguem realizar exames de retina de alta qualidade em poucos minutos, compartilhar os resultados em tempo real na nuvem e obter, em segundos, a identificação de possíveis anormalidades retinianas.
Ao final da execução dos projetos, as ligas devem apresentar um relatório com evidências do impacto gerado. Os critérios de avaliação incluem:
● Número de vidas impactadas;
● Número de alunos envolvidos;
● Potencial de continuidade do projeto;
● Impacto na trajetória da doença;
● Possibilidade de publicação dos dados obtidos.
Os três melhores projetos e suas instituições de ensino são premiados com um dispositivo Eyer cada para darem continuidade em suas ações e desenvolvimento de novos projetos acadêmicos.
Primeira edição do “De Olhos para o Futuro”
A primeira edição do concurso, realizada em 2023, contou com a inscrição de 25 ligas de todo o país. A premiação ocorreu durante o Congresso de Oftalmologia da Universidade de São Paulo (COUSP), e os vencedores foram:
● 1º lugar: Liga de Oftalmologia da PUC Minas – “Mutirão de Olho no Diabetes”, em Guaraciaba-MG;
● 2º lugar: Liga da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) – “Prevalência de Alterações de Retina em Ambulatórios no Norte do RS”;
● 3º lugar: Faculdade de Medicina do ABC – “Programa de Rastreio de Retinopatia Diabética na Região do ABC”.
O projeto vencedor, da Liga de Oftalmologia da PUC Minas, teve como foco o rastreamento de retinopatia diabética em três Unidades Básicas de Saúde (UBS) de Guaraciaba, interior de Minas Gerais. A equipe também realizou pequenos mutirões em outras cidades do estado.
Foram atendidas 250 pessoas em Guaraciaba, das quais 80 apresentaram alterações retinianas e duas precisaram de atendimento de urgência. O projeto contou com a participação de 29 alunos voluntários. Em outras cidades mineiras, foram atendidas mais 183 pessoas, contribuindo para a redução da fila de espera nas UBSs.
Além dos mutirões, a Liga organizou diversas outras atividades, como: ministração da aula “Alterações mais comuns identificadas na retinografia” pelo oftalmologista, fellow do segundo ano em Retina Clínica e Cirúrgica e professor de Semiologia Oftalmológica da PUC Minas, Bernardo Carvalho; o projeto “No Fundo do Meu Olho”, com alunos do ensino fundamental e médio de uma escola estadual em Betim (MG), ensinando sobre o funcionamento do fundo do olho; o curso “Oftalmologia para a Atenção Básica”, junto à Sociedade Acadêmica de Medicina de Minas Gerais (SAMMG), capacitando estudantes e médicos recém-formados de Belo Horizonte no uso do Eyer; e mini mutirões em diferentes unidades de saúde e iniciando um novo projeto de extensão voltado para a saúde ocular na comunidade quilombola dos Arturos, em Contagem (MG).
Segunda edição do “De Olhos para o Futuro”
Iniciada em agosto de 2024, a segunda edição do concurso teve sua premiação realizada no Simpósio Internacional Moacyr Álvaro (SIMASP) em janeiro deste ano. Com a participação de sete estados, 205 acadêmicos envolvidos, 2.486 atendimentos realizados, foram diagnosticados e encaminhados para tratamento mais de 70 pacientes com quadros graves. Os projetos premiados foram:
● 1º lugar: LAOZ (Faculdade ZARNS) – “Olhos de Luz”, em comunidades quilombolas de Itumbiara-GO;
● 2º lugar: LAOF (UNISUL) – “Rastreio da Retinopatia Diabética em Tubarão-SC”;
● 3º lugar: Liga Acadêmica de Oftalmologia da PUC Goiás – “De Olhos para o Futuro”, em Goiás-GO.
Vivências acadêmicas e contribuições sociais das ligas vencedoras
A presidente da LAOZ, liga vencedora do primeiro lugar, Carolina Oliveira de Ávila, relata que um dos momentos mais marcantes do projeto envolveu uma paciente com risco iminente de perder completamente a visão devido à retinopatia diabética. “Graças ao diagnóstico precoce realizado pela liga, conseguimos encaminhá-la rapidamente para tratamento. Esse episódio reforçou o quanto a detecção precoce e o acesso ao tratamento adequado podem transformar vidas. Com atenção, cuidado e informação, conseguimos proteger algo tão essencial quanto o olhar”, afirma Ávila.
Após o encerramento do concurso, a equipe da LAOZ planeja dar continuidade às atividades, com foco no acompanhamento dos pacientes atendidos, capacitação de líderes comunitários e agentes de saúde, fortalecimento de parcerias e a realização de exames oftalmológicos semestrais com o Eyer, inclusive em regiões remotas. O objetivo é garantir a sustentabilidade das ações e promover a autonomia da comunidade na prevenção à cegueira. Outro ponto de grande impacto foi relatado por Matheus Oliveira, presidente da Liga Acadêmica de Oftalmologia da Universidade do Sul de Santa Catarina (LAOF – UNISUL), segunda colocada no concurso. Segundo ele, a triagem feita com o Eyer contribuiu para acelerar o atendimento no SUS.
“Alguns pacientes já estavam na fila de espera por uma consulta com o oftalmologista. Mas, após a identificação de alterações nos exames, passaram a ser classificados como casos prioritários, o que agilizou o início do tratamento”, explica Oliveira.
Ele destaca ainda que o uso do Eyer possibilitou realizar exames de retina em locais onde equipamentos tradicionais não chegam — como presídios e casas de acolhimento. “Isso ampliou significativamente nosso alcance e permitiu oferecer atendimento de qualidade a populações que normalmente têm pouco ou nenhum acesso a esse tipo de exame.”
Além disso, o uso do EyerMaps teve papel fundamental na formação dos estudantes. “Começamos a enxergar a retina de outra forma. Com a análise das imagens, conseguimos identificar detalhes e alterações que antes poderiam passar despercebidos. Isso despertou ainda mais curiosidade e vontade de aprender. Em alguns casos, encontramos alterações que nunca imaginaríamos ver, como cicatrizes oculares causadas por toxoplasmose”, comenta. A equipe da Liga Acadêmica de Oftalmologia da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO), terceira colocada, também compartilhou um caso comovente. Em uma das ações, foi identificado um paciente com retinopatia diabética avançada, sem qualquer conhecimento sobre a gravidade de sua condição.
“Graças à triagem, conseguimos orientá-lo e encaminhá-lo rapidamente para tratamento, o que pode ter evitado a perda total da visão. Com palavras de gratidão, ele nos disse que nunca havia feito um exame tão detalhado e que, pela primeira vez, sentia que sua saúde ocular estava sendo levada a sério”, relata Isadora Moulin Lima Rezende de Castro, presidente da liga.
“Esse momento nos tocou profundamente, pois mostrou que não estávamos apenas realizando triagens, mas também oferecendo acolhimento, esperança e a chance de um futuro com visão. Foi um lembrete poderoso do porquê escolhemos a medicina — e do impacto real que podemos causar na vida das pessoas”, afirma.
Após duas edições de sucesso, o concurso “De Olhos para o Futuro” se consolida como um modelo de integração entre tecnologia, educação médica e impacto social. Neste momento, ABLAO e Phelcom avaliam os próximos passos com o objetivo de ampliar o alcance da iniciativa, tornando-a ainda mais acessível aos estudantes e superando, a cada edição, o número de vidas transformadas.