Isso também chama escala e tem a ver com uma função que eu exerço atualmente na UNIFESP e na FAPESP, como a inovação, que mais é do que fazer com que muita gente use o que a gente inventou e aqui eu estou querendo que muita gente ouça essas conversas, participe, dê palpite, seja motivado e vote, ou seja, mude a direção do que tá pensando, assim como eu também.
Uma vez me perguntaram qual era o meu hobby e eu falei que meu hobby era trabalhar e hoje eu acho que não, eu acho que meu hobby de verdade é fazer conexão, é ouvir e dar palpite, e pensar e acrescentar valor, ideias minhas e de outras pessoas. Então isso é um grande hobby pra mim.
Eu estou fazendo isso com um prazer muito grande, espero que vocês gostem bastante e que participem!
Minha história pessoal tem inovação desde o comecinho. Eu sou filho e neto de médico, então, não tive muita escolha a não ser médico. Ganhei de presente do meu avô, que era um ginecologista renomado na década de cinquenta/sessenta um avental de médico quando eu comecei a andar. Só pra vocês terem ideia se eu tinha ou não chance de fazer alguma coisa que não fosse a medicina.
Até fiz teste vocacional pra ver se alguma outra coisa vinha na manga da cartomante, mas não veio. Todas as coisas que apareceram eram imediatamente substituídas pela frase clássica desse mesmo avô, que era assim:
“..Mas por que não Medicina? Engenharia dentro da medicina? Direito. Sim, claro, dentro da medicina…”
Acabei virando médico muito por direcionamento e hoje adoro fazer medicina. Eu acho que é um local onde eu me realizo e na medicina a gente tem uma conexão muito profunda com as pessoas, na hora que a gente pergunta o que te trouxe até aqui e detalha essa história que os pacientes contam é uma entrevista, tanto que se chama entrevista mesmo a cada consulta. E a gente pode ter como a coisa mais chata do mundo, e aí não vale a pena, ou tirar o maior proveito do mundo. Hoje eu tiro muito proveito de cada consulta, chego em casa e conto o que aconteceu, claro, que sem nomes e sem expor os pacientes durante o meu dia.
Muito prazeroso conversar com as pessoas, isso eu acho que aprendi também dentro de casa em uma família que em muitos médicos, mas tem na parte feminina da família muitas pessoas ligadas a ciências humanas ao humanismo. Então de economistas, biógrafas, administradoras, outras médicas também, psicólogas e muita gente que conversa com gente, e gente preocupada no bem-estar, não só de um, mas de todo mundo e eu acho que daí veio um pouco essa história de conversar e de fazer conexões.
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A tecnologia entrou também como algo que era mais ou menos natural na minha vida. Eu acho que um pouco por curiosidade e eu ia em uma rua em São Paulo que se chama Santa Efigênia com um amigo meu de infância comprar lâmpadas, que na época não eram LEDs. Ligar as lâmpadas em caixa de som pra ver a luz dançando ao ritmo da música. Isso quando era muito pequeno. Montava mobilete que eram as bicicletas motorizadas da época, motor de fusca, sempre tentando ver como funcionavam as coisas por dentro. Nas feiras de ciências do colégio (eu hoje olhando pra trás vejo que eu fazia muito mais feira de tecnologia do que de ciências) eu gostava da aplicação das coisas. Eu acho que essa pesquisa aplicada é algo que ficou muito encrustado na minha infância e que eu trouxe felizmente de um jeito mais consciente para os dias de hoje.
Minha primeira pesquisa foi tentando ver se uma substância que se chama tiamina, que é vitamina D, diminuía a taxa de crescimento de um tumor em rato tratado com um agente antineoplásico. Lá era uma pesquisa que eu não sabia que era uma pesquisa aplicada, mas era extremamente aplicada. E isso teve uma bolsa da FAPESP quando eu me formei na USP de Ribeirão Preto, essa bolsa foi importante inclusive no meu currículo pra eu poder entrar numa residência já com uma experiência em pesquisa.
Antes da graduação tive algumas outras experiências que valem a pena contar. Uma delas foi a colônia de férias Kinderlan, esse lugar mágico, quem foi sabe o que é, que era uma colônia de férias fundada também pela minha avó, era uma judia progressista que fez isso junto com outras ligadas à Associação Feminina Israelita Brasileira pra abrigar órfãos de guerra.
“Meus pais se conheceram nesse lugar e outras coisas muito curiosas aconteceram ali: por exemplo, o pessoal do Casseta Popular, Cláudio Manoel e Marcelo Madureira ou Bussunda, foram meus monitores”
Foi ali também que eu aprendi um pouco de criatividade, originalidade, não ter medo de falar o que pensa; consequências do que a gente faz, conversa em grupo, combinações, arrumar a cama, tudo que a gente hoje gostaria que nossos filhos fizessem. Um espaço extremamente livre e que me amadureceu demais na tenra infância.
Resolvi fazer vestibular inicialmente para jornalismo e zootecnia, mesmo contrariando aquelas ordens expressas do meu avô que falava que eu devia fazer medicina. Eu entrei nos dois, mas acabei fazendo a tal da medicina e fui para um lugar muitíssimo apaixonante, que é a USP de Ribeirão Preto, e que na época era a terceira opção de todo mundo; as pessoas gostavam de entrar na USP de São Paulo ou na Escola Paulista de Medicina, onde eu estou até hoje, ou na USP de Ribeirão Preto.
A USP de Ribeirão Preto era muito longe para começo de conversa e sempre teve uma fama de uma universidade, no caso de uma faculdade dentro de uma universidade, que produzia muita pesquisa, mas não necessariamente muita assistência. Chegando em Ribeirão Preto, claro que eu fui contaminado pela ciência e pela pesquisa e tive aula com nomes fantásticos, como o professor Moacir Krieger, assim como professor Antunes, que são professores de fisiologia cardíaca, de neurofisiologia, patologistas, e que ensinam as doenças e a fisiopatologia de como o corpo funciona e como ele responde as doenças. Isso até hoje é a base hoje da minha cabeça na medicina bem feita.