No mês de março, Rubens Belfort Jr. assumiu a presidência da Academia Nacional de Medicina (ANM) para o biênio 2020/2021. O Acadêmico Titular da ACFB, desde 2011, detentor da Cadeira nº 87 da Sessão de Medicina, ele foi eleito Presidente da ANM.
É a primeira vez, em 190 anos de história da Academia, que um médico paulista ocupa o cargo.
Belfort Jr. é livre-docente professor Titular do Departamento de Oftalmologia da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (EPM/Unifesp), Mestre em Microbiologia, Imunologia e Parasitologia e Doutor em Microbiologia e Imunologia também pela Unifesp, aalém de ex-presidente do Conselho Administrativo da Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina, da Associação Panamericana de Oftalmologia e do World Ophthalmology Congress.
O oftalmologista foi eleito o 66º presidente da ANM com 92% dos votos. Belfort Jr. ressalta a importância da ANM ao longo de seus quase dois séculos de existência. “No século XIX, a Academia Nacional de Medicina foi a organização nacional mais importante na luta contra as grandes epidemias, como febre amarela, cólera e tuberculose. Além disso, recentemente prestou importantes serviços ao país ao atuar com liderança nas campanhas relacionadas à AIDS e outras epidemias virais”.
Em entrevista à revista Universo Visual, Rubens Belfort Jr. comenta sobre alguns dos assuntos que estarão, ou que já estão, em discussão na ANM. Confira!
Revista Universo Visual: O senhor comentou que a Academia Nacional de Medicina reúne apaixonados pela medicina humanística. Na sua opinião, é uma tendência que esse tipo de medicina passe a prevalecer?
Rubens Belfort Jr.: Sem dúvida, a Academia Nacional de Medicina, ao reunir apaixonados pela medicina, tem carinho especial pela medicina humanística no presente e no futuro. De maneira aparentemente paradoxal, o enorme avanço da tecnologia levou à maior necessidade da medicina humanística. Toda a tecnologia, principalmente aquela baseada em inteligência artificial, deve contribuir para o médico ter tempo e preparo para sentir o paciente, desenvolver empatia progressiva com o mesmo para, em conjunto, entender os diferentes aspectos da doença, as várias modalidades de tratamento e a mudança da história natural da enfermidade em benefício do paciente. São desafios enormes, somados também à progressiva falta de recursos financeiros para custear grande parte dos avanços tecnológicos.
Como parte dessa tendência humanística, várias ações de medicina humanitária têm aumentado no mundo. Nosso programa de oftalmologia humanitária, iniciado de maneira informal há mais de 20 anos sob a liderança dos professores Jacob Cohen e Walter Nozé, são pequenos exemplos do muito que se pode fazer. O programa envolve não apenas médicos em diferentes idades, mas outros profissionais de saúde e voluntários provenientes da indústria e serviços de saúde oftalmológica no Brasil e no exterior.
UV: Na medicina, discute-se muito sobre a necessidade de interromper recursos terapêuticos com pouca ou nenhuma probabilidade de cura. Como isso se dá na oftalmologia?
Belfort Jr.: A medicina paliativa tem na oftalmológica a sua equivalência. Na área oftalmológica temos com frequência situações em que, não havendo praticamente nenhuma possibilidade de melhora, pacientes muitas vezes seguem sendo tratados inclusive com procedimentos cirúrgicos descuidados, sem benefício algum. É preciso sempre levar em consideração a situação visual do olho contralateral em diferentes aspectos.
UV: A ANM é um ambiente de discussão de temas médicos que têm grande impacto na sociedade, como a telemedicina e problemas de saúde pública. Além desses, poderia exemplificar temas que têm sido discutidos na Academia?
Belfort Jr.: Entre os assuntos permanentemente discutidos na Academia Nacional de Medicina está o treinamento constante dos cirurgiões e, conforme discutido em diferentes países, a necessidade de manutenção de programas de avaliação de performance desses profissionais nas diferentes idades. Essa é uma tendência global. A avaliação não apenas do conhecimento técnico, mas das capacidades cognitivas, e outras, do médico que trabalha na linha de frente com os pacientes.
UV: E em relação ao aumento de gastos na medicina, tema que tem sido cada vez mais discutido?
Belfort Jr.: Quando se discute o custo de medicina comenta-se sempre sobre o envelhecimento da população e outros aspectos, mas o que se esquece é que esse custo que aumenta exponencialmente é decorrente, muitas vezes, da melhora da medicina. Muitas doenças, até então impossíveis de tratar, mudam de categoria. E aí, evidentemente, cresce o custo. O progresso provável em situações como os tratamentos de degeneração macular relacionada à idade (DMRI) seca e presbiopia são exemplos desses enormes avanços que requerem orçamentos muito maiores.
O problema, que acontece em toda a área médica, é que os sistemas de saúde, que já estão estrangulados, são obrigados a enfrentar enormes desafios, como esta epidemia de Coronavírus. Ao lado de todas as reformas que são extremamente necessárias para a formação de melhores recursos humanos e do controle de empreendedores mal-intencionados, existe também o problema da sociedade ter de resolver quanto do seu orçamento e de seus impostos serão designados à saúde.
UV: Ou seja, desafios não faltam à frente da Academia Nacional de Medicina?
Belfort Jr.: Os desafios são enormes, mas sem dúvida a medicina é cada vez melhor e continuará sendo uma profissão fascinante para as próximas gerações. Sem dúvidas existem desafios financeiros, mudanças de perspectiva de colocação social e econômica, mas o encanto da medicina é cada vez maior. A necessidade e a possibilidade de ajudar outros seres humanos é o grande valor que continua a ser perseguido por essas gerações. Nossa experiência em lidar com estudantes de medicina e de tecnologia de 20 anos de idade demonstra tudo isso.
Academia Nacional de Medicina
Fundada em 1829, a ANM tem o objetivo de contribuir para o estudo, a discussão e o desenvolvimento das práticas da medicina, cirurgia, saúde pública e ciências afins, além de servir como órgão de consulta do governo brasileiro sobre questões de saúde e de educação médica.
A Academia também promove congressos, cursos de extensão e atualização e, anualmente, durante a sessão de aniversário, distribui prêmios para médicos e pesquisadores não pertencentes aos seus quadros. Em 2020, serão nove prêmios em diversas categorias e as inscrições continuam abertas até 31 de março, pelo site www.anm.org.br/premios.asp
Fonte: Universo Visual