A médica oftalmologista de Maringá (PR), Edna Almodin, primeira mulher a ocupar a presidência da Sociedade Brasileira de Oftalmologia (SBO 2019-2021), comenta que desde a sua residência na especialidade, quando na época havia poucas mulheres na sala de aula, teve boa receptividade por parte de seus colegas homens. Ela diz que até hoje o grupo é muito unido e se encontra a cada cinco anos em algum lugar do país.
“Já estiveram comigo inclusive em Maringá e diariamente nos falamos pelo whatsapp. Éramos apenas 44 alunos e isto nos proporcionou bastante proximidade”, relembra a médica, explicando que em seu grupo de residência fez excelentes amigos que sempre a apoiaram em sua vida profissional. “Até na Sociedade Brasileira de Oftalmologia tive auxílio de muitos deles. Todo o congresso realizado em Maringá contei com a participação de muitos colegas da minha residência”, completa.
Edna conta que ao iniciar sua participação em aulas de congresso teve o auxílio de vários professores: Flávio Rezende, Paulo Cesar Fontes, Ednei Nascimento, Eduardo Martines, Virgílio Centurion, Paulo Ferrara, Carlos Heller, Tadeu Cvintal, Carlito e muitos outros. “Eles me receberam com afeto quase familiar. Tenho muitos deles como pais, irmãos….construímos um laço de amizade muito forte, e mesmo distantes nos sentimos sempre muito próximos”, afirma.
Mas a despeito de atuar em um ambiente dominado por homens, ela diz que nunca precisou se impor perante os colegas. “Nunca procurei fazer nada por imposição. Sempre tentei ser amiga de todos e agregar. De maneira que quem era meu amigo se tornava amigo do outro, porque sempre procurei, em viagens a trabalho, estar unida a todos, e assim a vida foi me levando por caminhos que nem eu sabia que iria trilhar”, destaca, ressaltando que na SBO teve a oportunidade de se aproximar e ganhar mais dois grandes amigos que a auxiliaram na realização do X Congresso Nacional da SBO em São Paulo: Rubens Belfort Jr. e Remo Susanna Jr. “Com eles aprendi muitas coisas, inclusive a importância do networking”, observa.
Representatividade feminina
Edna revela que ficou extremamente honrada com o convite da diretoria da SBO, que veio através seu antecessor Armando Crema, para ocupar a presidência da Sociedade, um novo marco em sua carreira. “Senti o peso da responsabilidade de representar minhas colegas nesta tarefa, mas feliz porque estudei na SBO em 1979 e 1980 e ali dei meus primeiros passos na oftalmologia”, relembra a especialista, comentando que muitas lembranças boas de seu mestre Flávio Rezende vieram da entidade. “Sabia que o deixaria feliz, pois ele me tinha como uma aluna afilhada, mas não tive o prazer de tê-lo comigo na SBO, pois o perdemos em presença”, lamenta.
Ela diz, entretanto, que Rezende sempre esteve presente em sua memória, principalmente quando precisou tomar qualquer atitude frente à Sociedade. “Ele foi para mim um grande exemplo de vida, como mestre e líder de classe”, revela. Questionada sobre o que gostaria de deixar como legado de sua gestão no comando da SBO, a oftalmologista enfatiza que almeja deixar, talvez não como legado, mas certamente como modelo, o fato de que toda mulher pode exercer qualquer trabalho ou função a qual se dispuser a fazer bem.
E ela dá um conselho às mulheres que estão iniciando na oftalmologia: “Sejam honestas na profissão, tenham amor ao que fazem, no trabalho e com a família, comprometam-se naquilo que se dispuserem a fazer; agregar e não dividir é a grande questão. E tenham gratidão àqueles que as ajudam, pois sozinhas não vamos a lugar nenhum”, declara, enfatizando que só tem a agradecer a Sociedade por ter lhe dado o privilégio de colocar sua foto como a primeira mulher na galeria dos ex-presidentes e fazer disto parte da sua vida e da história oftalmológica no Brasil.
“Agradeço a minha família e ao Conselho Consultivo da Sociedade Brasileira de Oftalmologia, que me permitiu estes momentos preciosos à frente da entidade e que sempre esteve ao meu lado me apoiando”, ressalta a médica, agradecendo, ainda, os funcionários da SBO, seus colegas oftalmologistas e as empresas nacionais e internacionais que durante a pandemia nunca a deixaram sem o apoio financeiro de que necessitou para deixar a Sociedade sobreviver neste período de luta. “E obrigada a Deus por existir em nossas vidas”, conclui Edna.
Fonte: Revista Universo Visual