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Paulo Schor – Diretor de Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico da Unifesp e Professor-Chefe do Setor de Óptica Cirúrgica da Escola Paulista de Medicina.
Hoje em dia bilhões de câmeras registram nossas expressões, sem a devida autorização/regulação.Sentimentos que já foram digitalmente desconstruídos e comparados, e agora identificam comportamentos que entendemos como surpresa, felicidade e indignação.
Do mesmo modo que sugestões de música são feitas baseado em escolhas passadas, terapias, amigos e viagens vão ser propostas assim que a tecnologia vencer a regulação. Esse foi o tom de recente roda de conversas durante o prêmio de ciência e media (http://www.sciencemediasummit.org/) em Boston.
O que podemos traduzir a princípio dessa sessão, é que a angustia da falta de privacidade não parece ser um tema tão central como pensamos, principalmente nas novas gerações, que desenvolveram outro modo de lidar com a própria imagem.
Essa mesma geração traz respostas bem pouco esperadas para pesadelos como os drones, que sobrevoam nossas cabeças de modo anônimo. A informação!
Sobre esse tópico, a agencia que cuida do espaço aéreo norte americano (NASA) está desenvolvendo aplicativos que identificam, na tela do nosso celular, de quem é aquele OVNI (agora identificado), e o que faz. Especula-se que o medo do desconhecido seja minimizado com o controle da informação. Do mesmo modo, ao invés de reagir e tentar impedir que nossas feições sejam capturadas por CCDs nas ruas, saber, em tempo real, que nossas expressões foram registradas, ofereceria um meio de autorregulação, baseada na transparência (informação), e não na legislação (autorização).
A quebra de paradigma está na proposta de que a tecnologia seja o antidoto para a própria tecnologia. Ao sabermos o que está acontecendo com nossos dados, nos manifestaremos e escolheremos o melhor uso dos mesmos.
Parece utópico, mas os outros caminhos dão poder infinito aos detentores secretos da informação, que deverão ser vigiados com desconfiança máxima, por uma hierarquia burocrática que conhecemos muito bem, e que entre outras consequências, gera corrupção e atraso.
Um exemplo do conhecimento e controle do sistema vem da informação médica, que pertence ao paciente, sendo a guarda dos prontuários, institucional. O acesso a ficha clinica demanda autorização expressa nas consultas e estudos clínicos (via consentimento assinado). Sabemos em quais serviços passamos, e quais laboratórios tem nossos exames. Temos senhas e damos acesso a quem quisermos. Conhecemos, e com isso temos o poder de também regular o sistema.
Claro que a simples existência ou entendimento de um processo não implica em aprimoramento do mesmo, e que as pessoas precisam agir proativamente, transformando/regulando a realidade. No caso, elaborando os melhores meios para propor o que fazer com os dados pessoais amplamente disponíveis.
A solução cientifica, extrajudicial, tem sido debatida por líderes como o amigo Ramesh Raskar, do MIT e agora também Facebook, e remetem a um salto no escuro, longe da irreal zona de conforto das leis vigentes, que davam conta dos séculos passados. Vamos avançar de modo concreto e eficaz, junto com a informática.
Saber programar é importante, mas conhecer (pela leitura) e poder raciocinar é fundamental. A lógica (base do raciocínio) é o que está sendo ensinado nos colégios modernos, para crianças. Engana-se quem acha que letramento digital é deixar nossos filhos escreverem na tela azul (terminal), instruções incompreensíveis para os mortais. Educação digital passa por montar diagramas de ações, que levam a determinado resultado. Temos sim, de ensinar além de ler e escrever. Ensinar a pensar. Mas isso não é contemporâneo, isso é Aristotélico!

Fonte: Universo Visual

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