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Uma das atividades mais importantes do trabalho que fazemos na Medicina é educar e orientar os pacientes e suas famílias. Sua relevância é confirmada pois o tema é recorrente em nossa revista da SBAO. De fato, orientar e esclarecer passa a ser imperativo para que o paciente tenha aderência ao tratamento e siga adequadamente nossas recomendações. Também é fundamental para que os pacientes valorizem o nosso trabalho e tenham expectativas realistas com os tratamentos oferecidos. Entretanto, o processo de orientação do paciente não deve ser confundido com o de convencimento ou mesmo sedução para realizar procedimentos eletivos como as cirurgias refrativas. Orientar deve ajudar o paciente e seus familiares em todos os sentidos. Verificamos que a falta de informações ou a desinformação pode ser ainda mais sofrida que a doença. Destaca-se que a conscientização sobre a doença está de acordo com os princípios básicos da Medicina fundada por Hipócrates (460 – 370 AC), cunhada na célebre frase de Oliver Wendell Holmes (1809 – 1894): “Curar algumas vezes, aliviar o sofrimento sempre que possível, confortar sempre.”
Entretanto, em algumas situações a mensagem educativa pode trazer um impacto maior, até mesmo reduzindo a morbidade por atuar positivamente na história natural da doença. Este é o caso do ceratocone e a mensagem para não coçar os olhos. A educação do paciente e dos familiares permite decisões conscientes as cirurgias como crosslinking e implante de segmento de anel intra-corneano. Entretanto, se o paciente entende e para de coçar e esfregar os olhos, há menos chances de progressão da doença. 
As relações entre o ato de coçar os olhos e o ceratocone não representam um tópico novo,1 tendo sido até apontada por Gatinel como condição sine qua non (o que parece ser exagero) para desencadear a doença.2 Entretanto, devemos nos concentrar no que todos concordamos: esfregar os olhos é ruim para a saúde ocular. É interessante destacar que um dos poucos pontos com 100% de concordância no Consenso Global que coçar os olhos agrava o ceratocone e pode até causar ectasia.3
A campanha Violeta de Junho visa a conscientização pública sobre o ceratocone. Enquanto as orientações sobre como diagnosticar e tratar devem ser sempre passadas de forma inteligível para o público não médico, a mensagem “não coce os olhos é destacada. Ou mesmo, se o paciente for coçar, que não pressione o globo ocular mas sim a carúncula. A campanha que começou no Rio de Janeiro já é nacional e internacional. Nosso objetivo é somar aos esforços anteriores, como os da National Keratoconus Foundation (NKCF;  https://www.nkcf.org/), que elegeu o dia 10 de novembro o dia internacional de ceratocone, até quando a campanha se estenderá em 2018. Devemos planejar ainda melhores ações para 2019, mas desde já, convidamos todos os colegas para colaborar! A participação de cada um faz a diferença…
 
Referências
1.Carlson A. Keratoconus: Time to Rewrite the Textbooks. 2009 (https://bit.ly/2Jrrkml) 
2.Gatinel D. “Eye rubbing: a Sine Qua Non for keratoconus?”, Int J Kerat Ect Cor Dis, 5, 6 12 (2016)  (bit.ly/gatinel).
3.Gomes et al. Global consensus on keratoconus and ectatic diseases. Cornea, 34, 359 369 (2015).

Fonte: Renato Ambrósio Jr.

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