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Uma equipe de pesquisa investigou a relação entre o status socioeconômico (SES) e a incidência e os desfechos de lesões oculares abertas (OGI). Utilizando o Índice de Vulnerabilidade Social (SVI) e o Índice de Comunidades em Dificuldade (DCI), o estudo avaliou como o SES influencia as características das lesões e a recuperação.

O estudo destaca que o prognóstico após OGI é influenciado principalmente pela gravidade da lesão. Fatores como baixa acuidade visual inicial e lesões mais posteriores estão associados a piores resultados visuais. No entanto, mesmo pacientes sem percepção de luz ao se apresentarem podem recuperar alguma função visual com intervenção adequada.

 

Metodologia

Este estudo retrospectivo analisou dados de 899 pacientes tratados por OGI em um centro de trauma acadêmico de Nível I entre maio de 2009 e março de 2021.

Os principais dados coletados incluíram:

  • Demografia: Idade, data e mecanismo da lesão.
  • Detalhes clínicos: Acuidade visual inicial, escore de trauma ocular (OTS) e presença de fraturas da parede orbital.
  • Dados socioeconômicos: Pontuações SVI e DCI com base nos CEPs residenciais.
  • Classificação dos pacientes: Lesões acidentais e não acidentais.

 

Principais descobertas

SES e padrões de lesão

  • Pontuações SES mais baixas: Associadas a idade mais jovem, lesões oculares relacionadas a armas de fogo (FAOIs) e lesões não acidentais, como violência doméstica e agressões.
  • Lesões acidentais: Quedas e lesões esportivas correlacionaram-se com SES mais alto e pontuações DCI mais baixas.
  • Lesões por armas de fogo: Pacientes com FAOIs apresentaram pontuações SVI e DCI significativamente mais altas.
  • Violência doméstica/agressões: Esses casos foram associados a piores escores de OTS e maiores pontuações de DCI.

 

Complicações e lesões secundárias

Complicações e lesões secundárias, incluindo vitreorretinopatia proliferativa (PVR) e endoftalmite, influenciam significativamente os desfechos:

  • Endoftalmite: Afeta até 16,5% dos pacientes com OGI. Embora antibióticos sistêmicos sejam amplamente utilizados, os intraoculares apresentam evidências mais fortes de eficácia na prevenção de infecções.
  • Prevenção de PVR: A vitrectomia precoce, realizada dentro de 4 a 7 dias após a lesão, pode reduzir a incidência de PVR.

 

Intervenções cirúrgicas e clínicas

  • Tempo de reparo primário: Reparos cirúrgicos imediatos, idealmente dentro de 24 horas, reduzem o risco de endoftalmite e melhoram os desfechos visuais.
  • Oftalmia simpática: Não há evidências que apoiem a remoção do olho para prevenir oftalmia simpática quando o reparo primário é viável, mesmo em casos de olhos gravemente lesionados.

 

Desafios na Coordenação de Cuidados

O estudo enfatiza a importância de um cuidado coordenado liderado por um clínico principal, devido à complexidade do manejo de casos de trauma ocular. Esses pacientes frequentemente requerem cuidados multidisciplinares envolvendo vários subespecialistas.

 

Insights do sstudo

As características médias dos pacientes foram:

  • Idade: 44,8 ± 22,7 anos.
  • Pontuação SVI: 0,418 ± 0,207.
  • Pontuação DCI: 37,9 ± 24,0.

Associações importantes:

  • Pacientes mais jovens apresentaram pontuações DCI mais altas e escores OTS mais baixos (p ≤ 0,002).
  • Casos de trauma não acidental apresentaram escores OTS mais baixos e pontuações SVI e DCI mais altas (p < 0,001).

 

Conclusões

O estudo destaca o status socioeconômico inferior como um fator de risco significativo para mecanismos específicos de lesão, como lesões por armas de fogo e traumas relacionados à violência doméstica.

“Em nossa região, entre pacientes com OGIs, pontuações SES mais baixas foram associadas a idade mais jovem, FAOIs e lesões não acidentais, incluindo violência doméstica/agressões”, observaram os pesquisadores.

Eles concluíram que reparos primários imediatos e antibióticos intraoculares são fundamentais para reduzir complicações e melhorar os desfechos visuais. Este estudo enfatiza a necessidade de intervenções direcionadas para lidar com as disparidades nos cuidados de pacientes de menor SES que enfrentam maiores riscos de traumas oculares graves.

 

Referência:
Schulz, M., Bonnell, A.C., Chee, Y.E. et al. Associations between socioeconomic status and open globe injury. Eye (2024). https://doi.org/10.1038/s41433-024-03537-9

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