A cirurgia pioneira no mundo que incluiu o primeiro transplante completo de olho e parte do rosto, realizada na NYU Langone Health, em Nova York, representa um marco na medicina transplantológica e na cirurgia reconstrutiva. Aaron James, um técnico de linhas de alta tensão de 47 anos de Hot Springs, Arkansas, foi o primeiro paciente a receber esse procedimento inovador, após perder seu braço esquerdo dominante, olho esquerdo, queixo e nariz em um acidente elétrico em 2021.
Mais de um ano após a cirurgia, o olho transplantado de James permanece saudável, com a retina capaz de responder à luz, embora a visão ainda não tenha sido restaurada. O desafio principal continua sendo a regeneração do nervo óptico, que conecta a retina ao cérebro, uma fronteira ainda inexplorada da medicina regenerativa.
A equipe médica enfrentou diversos desafios técnicos, incluindo a complexidade da dissecção e a necessidade de manter a integridade do suprimento sanguíneo ao olho. Utilizando técnicas avançadas e inovações, como guias cirúrgicos impressos em 3D, os cirurgiões conseguiram transplantar o olho completo, a cavidade óssea ao redor, o nariz, uma parte do osso do queixo e os músculos, nervos e vasos sanguíneos associados. Esses guias foram criados a partir de tomografias computadorizadas das faces do doador e de James, permitindo um encaixe preciso das partes ósseas.
A operação, que durou aproximadamente 21 horas, também envolveu a conexão da artéria que fornecia sangue ao olho do doador com um ramo da artéria carótida externa do doador, uma abordagem nunca antes realizada em humanos. Este procedimento inovador garantiu que o olho transplantado não perdesse fluxo sanguíneo por um período prolongado.
Apesar do sucesso inicial da cirurgia, a visão de James ainda não foi restaurada devido à complexidade da regeneração do nervo óptico. Os médicos, por enquanto, não esperam que James recupere a visão no olho transplantado, considerando o estado atual do conhecimento médico sobre a regeneração do sistema nervoso central. No entanto, a cirurgia trouxe insights e avançou o conhecimento científico, aproximando os pesquisadores de um transplante de olho que poderia, eventualmente, restaurar a visão.
A história de Aaron James destaca o espírito humano de resiliência, servindo como uma contribuição para futuros receptores de transplantes, abrindo novas possibilidades para procedimentos complexos de transplantes e reconstrução facial. As discussões entre os especialistas, como os cirurgiões Daniel Ceradini da NYU e Bohdan Pomahač da Yale School of Medicine, refletem um otimismo cauteloso sobre as futuras capacidades de regeneração do nervo óptico e as implicações para a recuperação da visão após transplantes similares.
Fonte: Nature