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Durante a entrevista concedida ao Podcast Rx – Por dentro da sua próxima receita médica!, o empreendedor social Ralf Toenjes, fundador da ONG Renovatio, desconstrói vários estereótipos ao que se refere ser empresário, pois empreende com foco em negócios de impacto social e tem um retorno financeiro para expansão, com sustentabilidade. Para ele, é fundamental o alinhamento entre propósito e excelência profissional, sendo possível ter sucesso mediante planejamento, organização e execução totalmente focados.   

De acordo com o oftalmologista Paulo Schor, Toenjes possui uma energia invejável e toda a formação para ser um empresário clássico, mas faz negócios de impacto social e isso, talvez, traga para ele uma relevância na sociedade e um modo de se colocar bastante diferente e peculiar. “A relevância do Ralf na sociedade está no sentido de que seus negócios de impacto social geram dinheiro, fazendo com que os cidadãos empregados ou que trabalhem indiretamente com ele também paguem impostos. E eles geram um outro comprometimento importante, que é a empregabilidade dessas mesmas pessoas e de várias outras”, esclarece o médico.  

O especialista salienta que o impacto que Toenjes causa a partir de seu trabalho e de sua empresa é enorme, talvez até maior do que várias empresas que possuem a denominada vocação tecnológica ou que trabalha com inovação tecnológica. E aqui eu vou tentar desconstruir um pouco essa história, e eu também falei isso em alguns outros locais, de impacto social e não voluntariado. Impacto social significa uma empresa que tem foco nessas melhorias, na diminuição da desigualdade, na redistribuição de renda, na melhora do bem-estar”, explica o cirurgião, comentando que as empresas que visam lucro também podem ter esse foco. “Mas, em geral, as empresas que visam lucro têm exatamente o objetivo de lucrar mais enquanto as de impacto social, de ajudar a sociedade, porém, o que eu estou querendo dizer é que também existe um aspecto econômico importante envolvido nisso”, completa.  

Não é à toa, segundo Schor, que Toenjes possui formação em Direito, Economia e Administração e é uma pessoa extremamente capacitada e que profissionalizou todo esse ciclo. “E aí a gente entra no segundo aspecto que eu mencionei, que isso precisa ser profissionalizado, não tem nada a ver com voluntariado, não tem nada a ver com amadorismo, não tem absolutamente nada a ver com fazer nas horas vagas“, diz o oftalmologista, informando: O Ralf faz isso por profissão e isso dá dinheiro suficiente para ele se manter com um bom padrão de vida, empregar várias pessoas e ter recursos para reinvestir nesse e em outros projetos, portanto é algo que é altamente sustentável. Não é um empreendimento que se faz como se fosse alguma coisa além do que a pessoa faz na sua vida. E isso eu acho que é fundamental de pontuar, essa necessidade de haver profissionalismo em negócios de impacto social”, afirma.  

Para o especialista, pode até ter alguns voluntários trabalhando em empresas de impacto social, entretanto, é necessário existir uma organização e uma execução que sejam extremamente profissionais. Vou trazer para vocês uma experiência que eu tive hoje. Fui visitar o novo prédio da Faculdade de Medicina, de Pesquisa, de Ciências e de Enfermagem do Hospital Israelista Albert Einstein, uma obra linda, maravilhosa, muito diferente do que a gente encontra nos campos das universidades de hoje no Brasil, mesmo as mais dotadas financeiramente, e conversei com um dos idealizadores”, conta, declarando que a Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein não tem fins lucrativos e é altamente profissionalizada. Não é feita por pessoas que dão seu tempo, que dão doações, despretensiosa ou despreocupadamente. Não tem nada disso. É muito bem gerenciada”, avalia.  

Dessa maneira, ele ressalta que os negócios de impacto têm que ter um gerenciamento bastante profissional, e essa é a primeira grande desconstrução observada na entrevista com Toenjes. Segundo ponto que o cirurgião destaca, e que hoje em dia faz muito mais sentido para ele, ou pelo menos tem sido muito mais falado do que era no passado, é o propósito. O propósito é algo que guia as gerações mais novas, claro que guiava também as gerações mais antigas, só não se falava disso ou se falava muito menos. E as pessoas grudam em propósito e recheiam o que elas estão fazendo de outras coisas”, enfatiza, citando como exemplo que não dá para pagar o pior salário do mercado e falar olha, mas aqui tem propósito, venha trabalhar junto comigo.  

Não, o salário tem de ser justo, não precisa ser melhor do que o resto do mercado, mas havendo um propósito, provavelmente os jovens ficarão mais tempo, mais felizes, vão trazer mais gente e dar mais resultado para a iniciativa”, opina, relatando uma experiência sua, de quase dez anos atrás, quando foi fazer uma série de oficinas de inovação dentro do Colégio Bandeirantes, em São Paulo, trazendo uma vivência que tinha tido na Índia junto com um grupo do MIT. “Eu coloquei essas oficinas de inovação, de criatividade, como algo com um impacto tecnológico. As pessoas nem sabiam bem o que era isso, mas era para construir produtos para fazer com que as pessoas tivessem uma melhor qualidade de vida, sobre vários temas, e era muito com uma casca de empresa com fins lucrativos”, relembra o médico, comentando que a primeira coisa que ouviu dos jovens foi: Que tal a gente falar de inovação social? Nem sabia o que significava o termo inovação social dez anos atrás, mas foi o primeiro banho que eu tomei e foi muito bom. Foi um banho muito relaxante, muito revigorante”, complementa. 

Para Schor, o fato de saber que os jovens têm um propósito futuro e que eles seguem esse propósito, e se estiverem bem alicerçados e em volta tiverem um colchão” que suporte suas necessidades básicas e um pouco mais, eles irão em frente. Ele lembra ainda uma história sobre o começo da Renovatio, a ONG fundada por Toenjes. “Na realidade, antigamente chamávamos de ONG, depois começamos a chamar de empresas de terceiro setor, e atualmente são empresas de impacto social”, revela, ressaltando que Toenjes montou dentro do IPEPO – Instituto Paulista de Ensino e Pesquisa em Oftalmologia/Instituto da Visão, que nasceu do Departamento de Oftalmologia da Unifesp, uma estrutura para fins de fabricar e doar óculos de baixo custo. 

“E eu faço questão de frisar o nascimento do IPEPO, porque só nessa estrutura foi possível absorver a ideia inicial do Ralf, há mais de 15 anos, e colocar um ex-presidiário e um refugiado para montar armações de óculos e doar para pacientes carentes”, enfatiza Schor, questionando se é possível montar um modelo desses dentro de uma estrutura federal acadêmica. Para ele, é possível sim, entretanto demora para fazer isso acontecer, pois existem vários trâmites nessa questão, e que estão corretos, uma vez que uma instituição estadual ou federal pública não é privada, por isso precisa ser consultada através de órgãos colegiados. “Existe a transparência, a governança, vários pilares que as instituições privadas mesmo sem fins lucrativos não têm. Não que as privadas sem fins lucrativos não tenham governança, elas também têm”, avalia.  

Ele diz que hoje está muito na moda o ESG – Environmental, Sustainability and Governance (meio ambiente, sustentabilidade e governança) e que as instituições são muito cobradas por esses três nomes. “O IPEPO/Instituto da Visão também é muito cobrado por isso, contudo, com a agilidade que Ralf tinha e, na época, com a visão empresarial e inovadora do presidente, o professor Rubens Belfort Júnior, foi possível absorver essas pessoas. E eu estava próximo, por acaso, e achei o máximo e dei muita força, por isso que o Ralf fala que nós, eu e o Rubens, fomos as primeiras pessoas que absorveram eles lá dentro”, comenta o cirurgião, acrescentando: E vocês não imaginam a dicotomia que existia entre um certo medo de quem estava no sistema, de falar nossa, mas essas duas pessoas não são perigosas? e ao mesmo tempo o amor, a paixão que desperta na hora que você via o trabalho dessas duas pessoas. Tanto que uma delas continua com o Ralf até hoje”, revela.  

O médico destaca que essas são histórias muito impactantes e que combinam bastante com o que o empreendedor social contou na entrevista e que é uma lição de vida e traz para muita gente esse contorno que vale a pena refletir, dizendo acreditar que vale a pena pensar em empreendedorismo social, vale quebrar algumas barreiras que existem e usar isso como modelo. Ou para saber onde estamos pisando quando estamos fazendo isso, ou para termos um envolvimento com um outro olhar dentro de iniciativas das pessoas e ver nisso uma coisa possível e entender o que os jovens, e aqui falando para quem não é jovem, estão fazendo e estão pensando. E eu acho que isso nos ajuda a navegar em águas turbulentas de um jeito um pouco mais calmo”, conclui Schor. 

 

 

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