Um novo estudo liderado pela Universidade de Bristol, publicado na Molecular Therapy, revelou que mulheres idosas podem ser mais vulneráveis a inflamações prejudiciais causadas por terapias gênicas emergentes para doenças oculares incuráveis. A pesquisa destaca a necessidade de estratégias de tratamento personalizadas para minimizar riscos e melhorar os resultados, especialmente para pacientes do sexo feminino mais velhas.
Terapia gênica e seu potencial no tratamento de doenças oculares
Cerca de 2 milhões de pessoas no Reino Unido vivem com perda de visão, muitas delas afetadas por doenças oculares incuráveis, como degeneração macular relacionada à idade (DMRI), glaucoma e retinopatia diabética.
Embora essas doenças tenham sido historicamente consideradas intratáveis, os avanços recentes na terapia gênica oferecem soluções promissoras. No entanto, ensaios clínicos relataram inflamações oculares inesperadas em alguns pacientes, resultando em perda de visão, o que levou os pesquisadores a investigar as causas dessas reações adversas.
Terapia gênica com AAV e seus desafios
O vírus adeno-associado (AAV) é comumente usado na terapia gênica como um sistema de entrega para transportar genes terapêuticos para as células na parte posterior do olho. Essa abordagem ajuda as células a funcionarem normalmente e evita a progressão da doença.
No entanto, o sistema imunológico pode reconhecer o vetor AAV como uma ameaça, desencadeando uma resposta inflamatória que pode reduzir a eficácia da terapia e limitar ajustes necessários na dosagem.
Resultados do estudo: idade e gênero influenciam as respostas inflamatórias
A equipe de pesquisa conduziu um estudo comparativo utilizando modelos animais para observar como as células oculares de machos e fêmeas de diferentes idades—jovens, meia-idade e idosos—responderam à terapia gênica com AAV.
Os principais achados do estudo incluem:
- Células oculares de machos e fêmeas jovens exibiram respostas imunológicas de curto prazo semelhantes.
- O envelhecimento aumentou a gravidade e a duração da inflamação em ambos os sexos.
- Células oculares de fêmeas idosas apresentaram uma resposta inflamatória e de estresse mais intensa, associada a danos na retina e a um risco maior de reações adversas em comparação com células de machos idosos.
Implicações para terapias gênicas personalizadas em oftalmologia
Segundo a Dra. Alison Clare, Pesquisadora Sênior da Escola Médica de Bristol: Ciências Translacionais da Saúde (Oftalmologia) e autora principal do estudo:
“Nossos achados são os primeiros a demonstrar que idade e sexo influenciam o risco de reações inflamatórias adversas significativas no olho em terapias gênicas. A pesquisa destacou a necessidade crítica de segmentar pacientes para tratamento com terapia gênica com base no gênero, idade e risco. Também ressalta a importância de compreender a relação risco-benefício da terapia gênica e sugere que pacientes do sexo feminino mais velhas podem estar sob risco de efeitos adversos graves com qualquer terapia gênica ocular futura.”
A necessidade de abordagens específicas por gênero e idade na terapia gênica
O estudo reforça a importância de planos de tratamento personalizados na terapia gênica, especialmente para mulheres idosas, que podem ter maior risco de danos oculares inflamatórios. Essa pesquisa abre caminho para o desenvolvimento de estratégias de manejo que melhorem a segurança e a eficácia das terapias gênicas para doenças oculares, garantindo que os pacientes recebam tratamentos adaptados às suas necessidades específicas.
Referência
Alison J. Clare et al, Characterization of the ocular inflammatory response to AAV reveals divergence by sex and age, Molecular Therapy (2025). DOI: 10.1016/j.ymthe.2025.01.028.
Fonte: Ophthalmology Breaking News