Um medicamento experimental originalmente desenvolvido para tratar o câncer está ganhando destaque como uma promissora alternativa terapêutica para duas das principais causas de cegueira no mundo: a Degeneração Macular Relacionada à Idade (DMRI) exsudativa e a retinopatia diabética. Trata-se do PRL3-zumab, um anticorpo monoclonal desenvolvido no A*STAR Institute of Molecular and Cell Biology (IMCB), cujos resultados pré-clínicos foram publicados recentemente na revista Nature Communications.
Novo mecanismo e via de administração menos invasiva
Os tratamentos padrão para a DMRI úmida e para a retinopatia diabética — como as injeções intravítreas mensais — são eficazes, mas invasivos e de difícil adesão para muitos pacientes. Além disso, cerca de 45% dos pacientes não respondem bem às terapias disponíveis, o que reforça a necessidade de soluções inovadoras.
O PRL3-zumab apresenta um diferencial importante: administração intravenosa. Em modelos pré-clínicos, essa via promoveu uma redução 86% maior no extravasamento de vasos sanguíneos quando comparada às injeções intraoculares convencionais. Além disso, o fármaco demonstrou manter níveis terapêuticos mais duradouros nos tecidos oculares, potencialmente reduzindo riscos como infecção, inflamação e danos à lente.
Transição da oncologia para a oftalmologia
Inicialmente estudado para combater metástases em cânceres agressivos, o PRL3-zumab agora ganha nova aplicação ao ser reposicionado para doenças oculares vasculares. A descoberta de que a proteína PRL3 está envolvida em alterações vasculares associadas à retina abriu caminho para essa nova abordagem.
“Quando identifiquei a PRL3 há mais de duas décadas, jamais imaginei que ela teria papel também na oftalmologia”, afirmou a professora Qi Zeng, cientista sênior do A*STAR IMCB e fundadora da Intra-ImmuSG. “Ver esse anticorpo monoclonal agora sendo testado como opção terapêutica para pacientes ameaçados pela cegueira é uma confirmação do poder da ciência translacional.”
Segurança validada e ensaios clínicos a caminho
Com autorização da Health Sciences Authority (HSA) de Singapura, os ensaios clínicos com o PRL3-zumab em indicações oftalmológicas devem começar ainda em 2025. O estudo contará com a vantagem de que o fármaco já foi testado em ensaios clínicos de Fase II em oncologia, nos quais demonstrou perfil de segurança favorável, o que pode acelerar sua jornada até o mercado oftalmológico.
Segundo a professora associada Xinyi Su, diretora executiva do A*STAR IMCB e coautora do estudo, a repaginação do PRL3-zumab “representa uma rota mais ágil, econômica e potencialmente mais segura para tratar doenças oftalmológicas de base neovascular”.
Impacto futuro
Se os resultados clínicos forem tão promissores quanto os dados pré-clínicos, o PRL3-zumab poderá representar uma nova geração de terapias antiangiogênicas, beneficiando pacientes com DMRI exsudativa e retinopatia diabética refratários aos tratamentos atuais — com impacto global na prevenção da cegueira.
Referência científica:
Ang, K.H. et al. PRL3-zumab as an anti-angiogenic therapy in neovascular eye diseases, Nature Communications (2025). https://doi.org/10.1038/s41467-025-59929-2



