Encontro anual da Arvo discute o aumento da miopia infantil
Neste mês, pesquisadores de todo o mundo se reuniram em Seattle, nos Estados Unidos, para participar da reunião anual da Association for Research in Vision and Ophthalmology (ARVO) que abordou o aumento global da miopia, cujas taxas aumentaram significativamente nas últimas décadas principalmente entre as crianças.
Durante o encontro, organizado pelo National Eye Institute (NEI), Michael Chiang, diretor do NEI, comentou que apesar dos grandes investimentos em pesquisa, a interação entre influências genéticas e ambientais, como luz ao ar livre e uso de dispositivos eletrônicos, permanece obscura, e citou dados de que a pandemia de COVID-19 exacerbou as taxas de miopia, e que a alta miopia pode afetar quase 1 bilhão de pessoas em todo o mundo até 2050.
“Programas de visão baseados em escolas são cruciais para a detecção precoce e correção da miopia”, ressaltou Chiang segundo o comunicado de imprensa liberado pelo NEI, em que observou que o erro refrativo não corrigido é uma causa significativa de perda de visão nos Estados Unidos, particularmente entre grupos desfavorecidos. “Os avanços da pesquisa podem causar um grande impacto naqueles que mais precisam.”
Ainda durante o evento, Seang Mei-Saw, da Universidade Nacional de Cingapura, revelou que epidemia de miopia atingiu mais duramente a Ásia. Na China, a prevalência entre jovens de 15 a 19 anos é agora de 68,9%, com 9,9% tendo alta miopia, disse. As taxas na China, Coreia e Taiwan são todas mais altas quando comparadas com a Europa, EUA e Oriente Médio. “Há uma clara diferença geracional, com populações mais jovens exibindo taxas mais altas de miopia”, disse Mei-Saw. Esse aumento, segundo ela, se deve em grande parte ao fato de as crianças passarem mais tempo em frente às telas e menos tempo ao ar livre. Mei-Saw mencionou um estudo com evidências que apoia o tempo ao ar livre como uma ferramenta para prevenir a miopia e controlar sua progressão. Os pesquisadores descobriram que uma média de duas horas por dia com exposição à luz ao ar livre na escola pode reduzir a incidência de miopia em 63,7%. (Ho, 2019)
Fora da Ásia, as taxas de miopia também preocupam. Na Holanda, por exemplo, mais da metade de todos os residentes holandeses são míopes, de acordo com estudos populacionais holandeses de longo prazo, como a Geração R2 (Jaddoe, 2017), que revelaram um aumento significativo no comprimento axial no último século.
Para tratar, estudos da Universidade Chinesa de Hong Kong mostram que a atropina para tratamento contínuo mostra-se mais eficaz do que o uso intermitente. A atropina é uma das drogas mais estudadas e utilizadas para prevenir e controlar a miopia. “A atropina de baixa concentração (0,05%) emergiu como ideal para controlar a progressão da miopia ao longo de cinco anos, embora a eficácia e a segurança a longo prazo continuem a ser estudadas”, disse Helen Zhang, da Universidade Chinesa de Hong Kong.
Outros métodos para prevenir e controlar a miopia incluem o uso de lentes noturnas especiais que remodelam a córnea por um curto período de tempo, “enganando” o olho para retardar a progressão da miopia (ortoceratologia), ou lentes que ajustam o foco de luz na retina periférica quando usadas diariamente, também retardando a progressão da miopia (lentes multifocais).
Durante a reunião, os especialistas também abordaram que a fototerapia é um tratamento relativamente novo e promissor para a miopia, que normalmente envolve sessões regulares em que as crianças são expostas à luz por um período de tempo especificado. Essas sessões podem ser realizadas em casa ou em um ambiente clínico usando dispositivos especializados. Foi demonstrado que terapias de alta intensidade e luz vermelha influenciam o crescimento ocular e a progressão da miopia. Estudos indicam que a luz de alta intensidade reduz a miopia em modelos animais e crianças, enquanto a terapia com luz vermelha se mostra promissora no controle do alongamento axial (Dong, 2022). A luz de alta intensidade se concentra no brilho e imitando a intensidade natural da luz solar (mais de 10.000 lux), enquanto a luz vermelha se concentra em um comprimento de onda específico (cerca de 650 nm), independentemente do brilho geral.
De acordo com Lisa Ostrin, especialista em miopia e ritmos circadianos da Universidade de Houston, “a terapia com luz vermelha tem mostrado excelente eficácia no controle do alongamento axial e da progressão da miopia em crianças; no entanto, devemos avaliar cuidadosamente sua segurança, pois a exposição contínua à luz de alta intensidade pode representar riscos para a retina”, disse.
Os especialistas presentes concordaram que a colaboração internacional na pesquisa da miopia tem se tornado cada vez mais vital, fato recentemente reconhecido pelos esforços da Organização Mundial da Saúde (OMS) para incluir a cobertura de erros refrativos nas métricas de cobertura universal de saúde.
Fonte: National Eye Institute