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Já se vão 38 anos desde que Milton Nascimento começou a cantar “Nos bailes da vida”, e seu refrão: “todo artista tem de ir aonde o povo está”, cabe muitíssimo bem contextualizando esse ensaio.
Nesses quase 40 anos vimos o aparecimento (e desaparecimento) de milhares de tecnologias e soluções. Ferramentas para tudo (não para todos), botões e funções que nos faziam perguntar “como mesmo tínhamos vivido sem isso até então?”
Alguns presenciaram o nascimento do iPhone e falecimento de seu criador, outros lutaram para se entender com o seu rival (Bill Gates), até hoje genial, e até hoje com ergonomia discutível. Nos adaptamos. Nos acostumamos, ou no jargão da Óptica Cirúrgica, nos neuro-resignamos.
Tivemos de ir atrás dos “artistas”, e ouso dizer, que bilhões foram gastos para que os departamentos de marketing nos convencessem de que tal ou qual produto era fundamental, nos aproximassem das obras de arte.
Ao lado desse universo altamente tecnológico percebemos o nascimento de um movimento interessante que foi denominado de “residência artística” https://www.artequeacontece.com.br/a-expansao-das-residencias-artisticas-no-brasil/) e consiste em levar o artista a ambientes inspiradores, disruptivos, catalizadores. Nesses cenários os criadores interagem com as criaturas e seu ambiente, e são modificados, resultando em uma composição.
Os médicos têm enfrentado o dilema de se reinventar, por motivos econômicos, culturais, tecnológicos ou sociais. Não são mais pilares estanques e de certa forma voltam a ser andarilhos com suas maletas, atendendo a domicílio. Não à toa, lemos “The patient will see you now”, do brilhante Erik Topol, que empodera e coloca o paciente no centro do cuidado.
O design já atua nesse sentido, falando de design centrado no usuário e design universal. Iniciativas como a Canadense SPOR (http://www.cihr-irsc.gc.ca/e/41204.html), que se traduz como Estratégias para pesquisa orientada ao paciente, executam a filosofia do usuário fazendo parte do processo de desenvolvimento de soluções.
Parece ter chegado a hora dos médicos assumirem de vez o protagonismo de suas ações de pesquisa desenvolvimento e inovação, fazendo o que sabem fazer de melhor: “ouvir e entender a dor do paciente”. Temos uma oficina completa de respostas preparadas. Um arsenal de conhecimento “just in case”, mas também temos, em outro lugar, perguntas. Vamos juntar esses universos de forma efetiva e mais balanceada?
Até hoje, os engenheiros (desenvolvedores de soluções) têm pedido licença para a agenda cheia do médico, e conseguido passar despercebidos nos centros cirúrgicos, às vezes contaminando campos, às vezes entendendo pedaços de procedimentos. Comitês são montados e a relevância médica de um processo é colocada à prova durante extensas& . 3 horas, a partir do que inúmeros projetos são aprovados e investidos, sem jamais retornar a dor inicial, ao médico.
Não é de se estranhar a quantidade imensa de desistências e o enquadramento em “projetos de risco”. É de se estranhar a escassez de médicos no quadro de fundadores e empresários em empresas nascentes, frente a outros profissionais.
A resistência a mudança de processos e tecnologias é o lugar em que se gasta mais energia. Seria lindo, aumentar a suscetibilidade ao novo, é uma outra cultura.
Vivi (PS), já “grande”, uma experiência inversa dentro do MIT recentemente, quando “residi” alguns meses em um laboratório produtor de tecnologia. Durante esse tempo os pesquisadores e estudantes tinham “um médico para chamar de seu , e a experiência foi fantástica. Inicialmente levei projetos diversos de dores imensas que sentia durante a prática clínica de mais de 30 anos, e todos foram categoricamente ignorados. Entendi que não estava ali para encomendar, mas sim para compor, e assim foi. Voltei com projetos, amigos, conexões e mudança de compreensão. Conexões duradoras, e há dois meses fui chamado para compor a banca de qualificação naquela instituição. Sai da zona de conforto e entrei no jogo.
Aqui estamos expondo o conceito de uma “residência tecnológica”, onde um médico com experiência clínica (com questões clínico-cirúrgicas) passaria ao menos um mês, dentro de uma instituição de pesquisa e desenvolvimento nas áreas da engenharia, acompanhando, enriquecendo, colaborando, com projetos e desenhos tecnológicos.
Temos inúmeras possibilidades de junções. São grandes e tradicionais escolas médicas e de engenharia, que atraem pela excelência, grandes discussões e a atenção de empresas nacionais e internacionais.
Uma mudança de mindset, com uma suscetibilidade ao novo, à tecnologia, a ouvir o paciente, e mais que tudo, ouvir as oportunidades de mercado, podem chacoalhar a formação médica!
Temos os ingredientes. Vamos fazer o bolo. Mãos à obra!

Fonte: Universo Visual

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